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28/08/2001 - 02h41

Ex-espião guarda documentos em casa

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JOSIAS DE SOUZA
da Folha de S. Paulo, em Brasília

José Alves Firmino, 31, é um espião arrependido do Exército. Ingressou na carreira militar em 92. Promovido a cabo, trabalhou na segunda seção, o nicho da estrutura militar voltado às operações de inteligência, de 92 a 97. Hoje, guarda em sua casa, pedaços da história da arapongagem do Exército desde a década de 70.

Em 1997, brigado com o Exército, Firmino entregou à Comissão de Direitos Humanos da Câmara parte dos documentos. Agindo assim, achava que estaria mais seguro. Queixa-se hoje de que lhe deram pouca atenção na época. Foi preso por dez dias. O Exército reconheceu a autenticidade dos documentos que vieram à luz.

Na origem do desentendimento com o Exército está um "acidente de trabalho". Firmino foi desmascarado quando atuava como agente infiltrado num sindicato de Brasília. Processado por falsidade ideológica (portava carteira de jornalista), sentiu-se abandonado pelo Exército. "Eles fornecem o documento falso e a gente se dana sozinho", afirma.

Firmino diz também ter contraído hanseníase em serviço. Transferido para Goiânia, ficou no estaleiro por cerca de dois anos. No ano passado, foi reformado. O motivo alegado consta de documento expedido pelo departamento de pessoal: "a incapacidade decorre dos diagnósticos psiquiátricos. Não há relação de causa e efeito entre as doenças adquiridas em ato de serviço e as condições mórbidas atuais".

De Doi-Codi a Cony
Nos contatos com a Folha, Firmino não demonstrou sinais de insanidade. Os documentos que mantém, de resto, não são fruto de nenhum tipo de alucinação. Oferecem um cardápio variado das atividades do Exército.

Há de tudo: de papéis do antigo Doi-Codi, fazendo referência a presos mortos sem nominá-los, a relatórios de operações de vigilância sobre pessoas tidas como "subversivas". De pedidos de espionagem das atividades de advogados a referências ao jornalista e escritor Carlos Heitor Cony.

Cony virou personagem de um dos "informes" do Exército, de 1970, graças a um de seus livros, "Pessach: a Travessia". Recolhido a uma cela do Exército por suposta "subversão", Rogério José Dias, um ex-sargento da Aeronáutica, ganhou um exemplar do livro. A arapongagem confiscou-o. E gastou papel e tinta para produzir um informe que deixa no ar a impressão de que Cony era, então, um fetiche dos órgãos de informação militar: "O mencionado livro, de cunho político-ideológico, prevê a luta armada no país como fórmula de derrubada do sistema atual de governo, o qual denomina de ditadura. O autor em questão é esquerdista declarado, conforme diversos documentos de informação expedidos por esse OI [órgão de informação]".

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