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17/09/2001 - 05h51

Município com o pior Índice de Desenvolvimento Humano vive "no limite"

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ARI CIPOLA
da Agência Folha, em S. José da Tapera (AL)

Os números melhoraram, mas São José da Tapera (AL), considerado o município mais pobre do país em 98, está longe de índices sociais aceitáveis. A eficiência de uma ONG (organização não-governamental), principalmente, e alguns programas sociais do governo federal ajudaram a reduzir a mortalidade infantil -ainda entre os piores índices do país.

O presidente Fernando Henrique Cardoso visita hoje o município, localizado a 240 km de Maceió, no sertão alagoano. FHC vai lançar em Tapera o Bolsa-Alimentação, programa para a redução da desnutrição.
Autoridades municipais são unânimes ao afirmar que o município vive "no limite". Os avanços não estão consolidados e a situação pode se agravar se a seca no sertão persistir e as autoridades sanitárias não adotarem monitoramento efetivo e permanente.

É o caso da família de Maria Aparecida Correia Ferreira, 39. Com nove filhos, três desnutridos, a família precisa ter um acompanhamento constante de assistentes sociais e de ONGs. "Se não fosse isso, não sei o que seria da minha família, dos filhos que agora até estão gordinhos", disse Cida, como é conhecida.

Tapera vive o mesmo drama dos municípios do Nordeste atingidos pela seca. Enquanto as causas estruturais da miséria não são atacadas, as medidas assistenciais amenizam o problema. A maioria dos quase 29 mil habitantes do local bebe água sem tratamento, muitas vezes de pequenas represas onde os animais também matam a sede. Cerca de 95% dos moradores não têm esgoto.

A secretária Municipal da Saúde, Nara Verônica Ricardo, afirma que 30% das mortes de bebês em 2000 poderiam ter sido evitadas caso as famílias tivessem acesso a água potável. Só em janeiro de 98 morreram 30 crianças.

"Saímos do sufoco, mas temos uma miséria muito grande ainda. Hoje não me preocupo mais com a compra de tantos caixões para bebês e posso sair na rua sem ser perseguida e pressionada por uma legião de famintos", afirmou a prefeita de São José da Tapera, Edneusa Pereira Ricardo (PSDB).

Ela diz que também reduziu em mais de 50% os índices de analfabetismo de adultos e de crianças e jovens com até 14 anos, graças à ajuda do Fundef (Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental) e à do Alfabetização Solidária, ambos do governo FHC.

Foram construídas, em três anos, 25 novas salas de aula. Mas os índices que vão mostrar essa redução propalada só devem ser oficializados dentro de três anos.

Para a prefeita, não houve privilégios do governo federal para o município. "Usamos os convênios e os programas a que todas as prefeituras têm acesso. Por isso digo que não houve tratamento especial nem nós queremos ou podemos ser exemplo de combate à miséria", disse Edneusa.

Números
Com dados de 95, a ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou relatório em 98 que apontava Tapera como o município com o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil -obtido com o cruzamento de indicadores sociais como mortalidade infantil, analfabetismo e renda per capita, entre outros.

O principal resultado positivo conseguido foi a redução das mortes de crianças e do número de desnutridos, que caiu a um quarto da cifra inicial. O índice de mortalidade infantil, que era de 147 mortes de bebês antes de completar um ano, em 95, passou para 65,94 no ano passado.

Mesmo com essa redução, o índice ainda é alto já que equivale a quase o dobro da média brasileira, que é de 34 mortes antes de completar um ano a cada 1.000 crianças nascidas vivas. Os dados do Brasil são considerados altos se comparados com países como Argentina (12 mortes por 1.000), Japão (6) e Cuba (9).

Porém, Tapera se afastou das comparações feitas com os piores países da África, o que o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) considera um avanço.

Ajuda de ONG
A Prefeitura de Tapera contou com a ajuda da Visão Mundial, ONG que investiu na distribuição emergencial de cestas básicas e foi uma das principais responsáveis pela redução do número de crianças desnutridas do município de 1.526 para 400.

O programa do governo federal que está sendo substituído pelo Bolsa-Alimentação do Ministério da Saúde atingia apenas 386 desnutridos de Tapera.

O novo vai distribuir R$ 15 por mês para 1.800 crianças, uma forma de o governo reforçar a ajuda a famílias com desnutridos e que tem vários irmãos em situação considerada de risco.

A Visão Mundial construiu também 416 cisternas -tanques para armazenamento de água da chuva- e doou 100 toneladas de sementes de feijão, responsáveis pela safra recorde deste ano colhida no município.

O principal investimento da ONG, que ainda trabalha com 40% dos
excluídos do município, foi a doação de uma fábrica de multimistura (alimento à base sementes, cereais e folhas).

A produção atual de cem quilos por dia é distribuída como suplemento alimentar, inclusive, para as 460 crianças que estão nas creches financiadas com verbas do governo federal.
 

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