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02/12/2001 - 07h42

Roseana vê preconceito por ser "bonitinha"

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da enviada especial ao Maranhão

Segunda colocada nas pesquisas para a Presidência, Roseana Sarney Murad, 48, se diz vítima de preconceito por ser "bonitinha".

"Tem muito preconceito do tipo: é mulher, é bonitinha", disse Roseana ao ser indagada se seu crescimento nas pesquisas seria fruto de marketing. Embora negue que esteja em campanha, ela se diz preparada para assumir a Presidência: "Não tenho medo de governar o Brasil".

Roseana diz que as 12 cirurgias que sofreu mudaram sua maneira de encarar a política. "Hoje encaro a morte com tranquilidade. No campo político, passei a aceitar melhor as coisas, a ter mais tranquilidade para governar."

Ela governa há sete anos o Maranhão, um dos Estados mais pobres do país, mas diz que os indicadores sociais da região melhoraram. Seus adversários criticam o excessivo poder que deu ao marido, Jorge Murad.
Em 1999, Roseana trocou as secretarias por gerências, e Murad comanda a principal delas, a de Planejamento.

Nesta entrevista exclusiva à Folha, Roseana diz que, se chegar ao Planalto, o marido não terá o mesmo papel que tem no Estado. "Não conversei sobre isso, mas não acredito. É outra coisa. Não dependo dele para governar."
(ELVIRA LOBATO)


Folha - Como a sra. está vendo a possibilidade de ser a primeira mulher a chegar à Presidência?
Roseana Sarney -
Ainda não me lancei candidata. O que fiz foi lançar, nos programas eleitorais, o discurso sobre discriminação e preconceito, sobretudo em relação à mulher. As mensagens foram bem aceitas, daí o movimento de candidatura. Mas na realidade não tenho nenhuma decisão a esse respeito. Minha primeira preocupação é com meu Estado.

Folha - Em um dos filmes do PFL, a sra. diz que a mulher não deve ser vice do homem. Deve ser entendido que não aceitará ser vice numa chapa liderada pelo PSDB?
Roseana -
Quando começou a surgir meu nome, disseram que eu daria uma boa vice. Não tenho nenhum preconceito contra vice. Acho que a mulher pode ser vice, mas pode ser versa também. Depende da preparação, de a pessoa ter competência para assumir o cargo. Se tiver, o fato de ser mulher não pode ser impedimento.

Folha - A sra. se acha preparada para ocupar a Presidência?
Roseana -
Não tenho a menor dúvida. Trabalho desde os 20 anos. Fui assessora de meu pai na Presidência da República, deputada federal e estou há sete anos no governo do Maranhão. Não tenho medo de governar o Brasil.

Folha - Mas, com seu crescimento nas pesquisas, admitiria ser vice?
Roseana -
Ainda tem muita coisa pela frente. Posso disputar o Senado. Tenho muitas chances de me eleger senadora. A Presidência não estava nos meus planos, não era meu desejo natural. Vou pensar o que é melhor para o Brasil, para o Maranhão e para mim.

Folha - Seu crescimento nas pesquisas mostraria um descrédito da população no comando masculino?
Roseana -
Estou terminando o sétimo ano de mandato como governadora. Não resolvi todos os problemas, mas fiz uma administração transparente, diferente. Mudei muito a face de meu Estado, que hoje tem finanças saneadas e é respeitado. Isso chamou a atenção das pessoas. De uns três anos para cá, tive a melhor avaliação entre os governadores.

Folha - Alguns já a comparam a Collor. Outros acham que esse crescimento é passageiro.
Roseana -
Não sou analista. A gente só vai poder comentar dentro de uns seis meses. Meu trabalho no Maranhão tem consistência, e a aprovação de meu governo tem consistência também. Também tem muito preconceito do tipo: é mulher, é bonitinha.

Folha - Embora a sra. diga que a mulher não deve ser vice do marido, chama a atenção o poder de seu marido, Jorge Murad, que comanda a gerência responsável pelo Orçamento, agricultura, indústria e comércio e ciência e tecnologia. Por que ele tem tanto poder?
Roseana -
Ele tem um poder igual ao dos outros gerentes. As pessoas querem distorcer isso. É outro tipo de preconceito contra o qual a gente tem de ser vacinado. Quando assumi, diziam que meu pai ia mandar no governo. Depois disseram que o Jorge ia mandar, mas o maranhense sabe que o Jorge não manda. Pode perguntar a qualquer um que não seja oposição. Depois disseram que meus irmãos iriam mandar. Hoje, passados sete anos, qualquer um sabe que há uma equipe sob meu comando. Não abro mão do meu comando. Sempre ditei as regras do jogo e cobro de todos. Trato Jorge como os demais gerentes. Ele está nesse lugar porque tem competência. Se não tivesse, estaria fora: não abro mão das minhas prerrogativas de governadora.

Folha - Se a sra. chegar à Presidência, seu marido terá papel de destaque no governo também?
Roseana -
Na Presidência? Não. Não conversei sobre isso, mas não acredito. É outra coisa. Não dependo dele para governar.

Folha - A sra. sofreu 12 cirurgias. Isso influenciou sua visão política?
Roseana -
Tive duas cirurgias muito complicadas. Uma em 82, quando parte do intestino foi retirada, e outra em 98, quando perdi o útero. Isso me fez ver que não sou nada, que não vou levar nada dessa vida. Hoje encaro a morte com tranquilidade. No campo político, passei a aceitar melhor as coisas, a ter mais tranquilidade para governar. Não tenho mais aquela coisa de ficar brigando. Se tem coisa errada, é preciso reconhecer o erro, ser mais humilde. Mudei muito após as cirurgias. Acho que faço uma política diferente. Talvez eu seja a antipolítica.

Folha - Falam que 210 das 217 prefeituras estão nas mãos de seus aliados e que a sra. tem hegemonia no Maranhão, mas cinco das seis maiores cidades são de oposição.
Roseana -
Meus aliados também têm queixas de mim. A classe política não é totalmente fechada comigo. Fiz uma ponte com o povo.

Folha - Seus adversários na Assembléia dizem que a sra. comanda com mão de ferro e que nunca admitiu emenda ao Orçamento.
Roseana -
Ainda bem que eles admitem que eu comando, pois você acabou de me perguntar se é meu marido quem manda. Não é que eu rejeite as emendas. Faço um governo descentralizado e itinerante. As prioridades dos municípios são definidas nas minhas viagens pelo interior. As prioridades dos municípios têm de ser compatíveis com a estratégia de desenvolvimento do Estado. O Maranhão é pobre. Não temos tanto dinheiro para investimento.

Folha - A sra. extinguiu quase todas as estatais e substituiu as secretarias por gerências. Qual é o resultado dessa reforma?
Roseana -
Eu não governo do gabinete, não tenho um governo estático. Ás vezes chegam os relatórios dos técnicos e parece que está tudo às mil maravilhas. Se você não sair do gabinete, não vai ver os problemas. Fiz a reforma com base na experiência que acumulei rodando pelos Estado. Quando vou a um município, leio em praça pública tudo o que foi feito lá. Muitas vezes, surge uma voz dizendo que um projeto não foi feito. Vou atrás e mando investigar.

Folha - Há denúncias sobre uso político e desvio de verba nos projetos do Programa de Combate à Pobreza Rural, o Comunidade Viva, gerido pelo Estado com recursos do Banco Mundial. Foram aprovados projetos que dependem de eletricidade em regiões sem energia.
Roseana -
Não sou eu que aprovo os projetos, e esses problemas são deficiências da democracia. As pessoas têm de começar a ter responsabilidade.

Folha - Em Caxias, projetos de criação de vaca leiteira do Comunidade Viva foram intermediados pelo deputado Paulo Marinho (PFL), que é seu aliado. Os agricultores dizem que foram induzidos a comprar as vacas da fazenda dele. Há denúncias de interferência política em vários municípios, envolvendo deputados federais e estaduais ligados à sua base governista.
Roseana -
Os projetos, antes de serem analisados pelo governo, são aprovados pelos conselhos municipais, chamados Fumacs. Espero que os conselhos sejam bem representados. Não posso impedir que um deputado esteja presente na assinatura dos contratos. O deputado também tem a função de atrair benefícios para a sua comunidade. Mas estamos fazendo uma auditoria em todos os projetos do Comunidade Viva.

Folha - Em 99, na CPI do Crime Organizado, o ex-deputado Francisco Caíca disse que os projetos do Comunidade Viva eram loteados entre os deputados governistas e que ele próprio havia recebido uma cota de dez projetos para distribuir às comunidades de sua base eleitoral.
Roseana -
Não tenho conhecimento desse assunto.

Folha - Em maio deste ano, 50 associações de pequenos produtores rurais foram a Brasília e também denunciaram a interferência política no Comunidade Viva ao Incra.
Roseana -
O Incra é responsável pela fiscalização dos projetos do programa nos assentamentos.

Folha - Há denúncias de interferência política nos assentamentos. A Procuradoria Geral do Estado abriu 324 ações judiciais contra associações de agricultores que não prestaram contas da aplicação do dinheiro e há 3.000 projetos concluídos sem prestação de contas.
Roseana -
As associações são formadas por pessoas simples, e a burocracia para a prestação de contas é grande. A maior parte dos problemas é por despreparo das associações.

Folha - A sra. apóia a reserva de vagas em universidades para negros e alunos das escolas públicas?
Roseana -
Tem de haver solução para os preconceitos. Ontem, eu olhava uma pesquisa sobre o desemprego entre as mulheres. O desemprego entre os homens cresceu de 10% a 15%, e a taxa entre as mulheres aumentou 20%. Enquanto os homens ficam dois anos desempregados, as mulheres ficam cinco. Isso é um tipo de preconceito. Quanto aos negros, é preciso abrir o mercado para eles. É muito bonitinho o brasileiro dizer que não tem preconceito, mas, no fundo, são preconceituosos.

Folha - A sra. apóia a criação de uma reserva de mercado de trabalho para o negro?
Roseana -
Pode-se tomar medidas de apoio por certo período, embora a situação seja um pouco diferente no Maranhão e na Bahia, onde a grande população é negra ou descende de negros.

Folha - Qual é sua posição sobre a legalização do aborto?
Roseana -
Prefiro não responder.

Folha - E sobre a descriminação da maconha?
Roseana -
Também não respondo.
 

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