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09/12/2001
-
09h31
ELIANE CANTANHÊDE
enviada especial da Folha a Caracas
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o pré-candidato do PT a presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, têm várias opiniões comuns, inclusive sobre o papel dos Estados Unidos no mundo e na América Latina.
"Ele [Chávez" pensa o que eu penso. Nada contra os EUA, mas não podemos subordinar a soberania dos nossos países aos interesses norte-americanos", disse Lula na noite de sexta-feira, ao deixar a Venezuela depois de 24 horas de permanência.
Por causa do petróleo, Chávez mantém relações estreitas com o Iraque, um dos principais inimigos dos EUA no cenário internacional. Na mesma linha, Lula defende que o Brasil tenha relações comerciais com a Líbia, que gera lucros milionários para a Itália e a França, por exemplo. "Por que não tem? Os EUA não deixam?"
Quanto à guerra EUA-Afeganistão, Lula defendeu: "Os EUA têm todo o direito de querer pegar o Bin Laden, mas não têm o direito de exigir que todo o resto do mundo concorde com eles". Chávez teve atritos com os EUA porque não apoiava os ataques ao Afeganistão e mostrava fotos de crianças afegãs atingidas.
Encantados
As relações com os EUA não foram os únicos pontos de concordância. Depois de passar mais de quatro horas almoçando com o presidente venezuelano, Lula, o governador do Acre, Jorge Viana, e o ex-governador do DF Cristovam Buarque estavam encantados com Chávez.
Chávez e Lula se dizem com uma missão, ou convicção: promover a integração latino-americana, reagir ao autoritarismo das elites e direcionar os instrumentos e os recursos de Estado para as populações mais pobres.
Diferentemente das elites e de parte de estudiosos do continente, principalmente da Venezuela e inclusive do Brasil, Lula se disse convencido de que Chávez "não tem nada de lunático".
"Ao contrário, ele sabe perfeitamente o que está fazendo. É um homem culto, com visão estratégica, planejamento de governo e raciocínio sistemático. Tem clareza da sua missão e quer cumpri-la dentro da democracia."
Não é o que acham setores importantes da sociedade venezuelana, como a Fedecámaras (a principal entidade empresarial), que organiza um locaute inédito para amanhã e acusa o presidente de excesso de autoritarismo, de não ouvir a sociedade civil e manipular os menos esclarecidos.
A manifestação foi convocada especialmente contra três reformas que Chávez está promovendo com direitos especiais que o Congresso confere ao presidente: a reforma agrária, a da pesca e a do setor de petróleo.
Os empresários dizem que elas são um retrocesso, prejudicam o capital interno e afastam os investidores estrangeiros. Mas Lula, Viana e Buarque consideram que o problema é a ganância das elites.
De Lula: "Se até o Toledo [Alejandro Toledo, presidente do Peru], que é formado em Harvard e não tem nada de esquerda, enfrenta oposição da elite só porque tem origem pobre e indígena, imagine o Chávez".
O petista disse que a reforma agrária é "simples", porque apenas exige que os latifúndios sejam produtivos. A da pesca é "para acabar com a pesca predatória, por arrastão". E a do petróleo é para garantir os interesses do Estado em todas as fases econômicas do produto.
"Todas me parecem muito justas", disse Lula. Além de Chávez e Toledo, o brasileiro também se encontrou na semana passada com Fidel Castro, em Cuba.
Segundo o relato do petista, Chávez não está tão preocupado com o locaute, nem com uma eventual tentativa de golpe de Estado. Mas Lula aproveitou para lhe dar "uns conselhos".
Um deles é que Chávez deve tentar ouvir o maior número possível de setores e pessoas. Outra é bem pragmática: "Eu disse a ele [Chávez] que ele não deveria bater tão de frente com todo mundo. Deveria fazer como eu, que às vezes ponho o Mercadante [Aloizio Mercadante, deputado federal do PT] e o Genoino [José Genoino, idem] para brigar por mim".
Lula também ironiza a cobrança das elites venezuelanas para melhorar mais rapidamente a economia, os empregos e a situação social: "Essa gente é engraçada. Como é que em três anos ele poderia ter resolvido tudo? A direita não pode cobrar dele o que não fez em 20 anos. É como a Marta [Suplicy] em São Paulo. A direita cobra uma pressa que ela própria [a direita] nunca teve".
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O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o pré-candidato do PT a presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, têm várias opiniões comuns, inclusive sobre o papel dos Estados Unidos no mundo e na América Latina.
"Ele [Chávez" pensa o que eu penso. Nada contra os EUA, mas não podemos subordinar a soberania dos nossos países aos interesses norte-americanos", disse Lula na noite de sexta-feira, ao deixar a Venezuela depois de 24 horas de permanência.
Por causa do petróleo, Chávez mantém relações estreitas com o Iraque, um dos principais inimigos dos EUA no cenário internacional. Na mesma linha, Lula defende que o Brasil tenha relações comerciais com a Líbia, que gera lucros milionários para a Itália e a França, por exemplo. "Por que não tem? Os EUA não deixam?"
Quanto à guerra EUA-Afeganistão, Lula defendeu: "Os EUA têm todo o direito de querer pegar o Bin Laden, mas não têm o direito de exigir que todo o resto do mundo concorde com eles". Chávez teve atritos com os EUA porque não apoiava os ataques ao Afeganistão e mostrava fotos de crianças afegãs atingidas.
Encantados
As relações com os EUA não foram os únicos pontos de concordância. Depois de passar mais de quatro horas almoçando com o presidente venezuelano, Lula, o governador do Acre, Jorge Viana, e o ex-governador do DF Cristovam Buarque estavam encantados com Chávez.
Chávez e Lula se dizem com uma missão, ou convicção: promover a integração latino-americana, reagir ao autoritarismo das elites e direcionar os instrumentos e os recursos de Estado para as populações mais pobres.
Diferentemente das elites e de parte de estudiosos do continente, principalmente da Venezuela e inclusive do Brasil, Lula se disse convencido de que Chávez "não tem nada de lunático".
"Ao contrário, ele sabe perfeitamente o que está fazendo. É um homem culto, com visão estratégica, planejamento de governo e raciocínio sistemático. Tem clareza da sua missão e quer cumpri-la dentro da democracia."
Não é o que acham setores importantes da sociedade venezuelana, como a Fedecámaras (a principal entidade empresarial), que organiza um locaute inédito para amanhã e acusa o presidente de excesso de autoritarismo, de não ouvir a sociedade civil e manipular os menos esclarecidos.
A manifestação foi convocada especialmente contra três reformas que Chávez está promovendo com direitos especiais que o Congresso confere ao presidente: a reforma agrária, a da pesca e a do setor de petróleo.
Os empresários dizem que elas são um retrocesso, prejudicam o capital interno e afastam os investidores estrangeiros. Mas Lula, Viana e Buarque consideram que o problema é a ganância das elites.
De Lula: "Se até o Toledo [Alejandro Toledo, presidente do Peru], que é formado em Harvard e não tem nada de esquerda, enfrenta oposição da elite só porque tem origem pobre e indígena, imagine o Chávez".
O petista disse que a reforma agrária é "simples", porque apenas exige que os latifúndios sejam produtivos. A da pesca é "para acabar com a pesca predatória, por arrastão". E a do petróleo é para garantir os interesses do Estado em todas as fases econômicas do produto.
"Todas me parecem muito justas", disse Lula. Além de Chávez e Toledo, o brasileiro também se encontrou na semana passada com Fidel Castro, em Cuba.
Segundo o relato do petista, Chávez não está tão preocupado com o locaute, nem com uma eventual tentativa de golpe de Estado. Mas Lula aproveitou para lhe dar "uns conselhos".
Um deles é que Chávez deve tentar ouvir o maior número possível de setores e pessoas. Outra é bem pragmática: "Eu disse a ele [Chávez] que ele não deveria bater tão de frente com todo mundo. Deveria fazer como eu, que às vezes ponho o Mercadante [Aloizio Mercadante, deputado federal do PT] e o Genoino [José Genoino, idem] para brigar por mim".
Lula também ironiza a cobrança das elites venezuelanas para melhorar mais rapidamente a economia, os empregos e a situação social: "Essa gente é engraçada. Como é que em três anos ele poderia ter resolvido tudo? A direita não pode cobrar dele o que não fez em 20 anos. É como a Marta [Suplicy] em São Paulo. A direita cobra uma pressa que ela própria [a direita] nunca teve".
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