Publicidade
Publicidade
23/01/2002
-
06h26
JANIO DE FREITAS
colunista da Folha
Na reunião dos seus maiorais, para preparar o desastrado encontro que dirigentes petistas teriam à tarde com Fernando Henrique Cardoso, o PT evidenciou que também não tem o que dizer de novo e proveitoso para reverter a violência criminosa. O governo já deu sete anos de demonstração de que não tem o que dizer e não quer fazer seja o que for.
E isso, nas circunstâncias a que a agressividade e a insegurança chegaram, é o que de melhor pode acontecer: está evidente que políticos e partidos são tão inadequados ao trato do problema como os militares, os tecnocratas e os policiais.
A esta altura, alguém propor ainda que o Exército seja chamado a agir não é só ignorar o que é o Exército. Nem ignorar só o passado, mas também tempos muito recentes. Só deu em vexame, com tanques apontados para barracos, e em brutalidades pessoais o pretenso auxílio pedido ao Exército pelo governo de Marcello Alencar no Rio. Embora seja verdadeiro que a criminalidade não ficou intacta: pôde ter o sentimento de vitória, porque ao Exército só restou voltar aos quartéis.
É natural que a direita, de cujas posições o Exército é caudatário e guardião histórico, pense sempre na repressão militarizada, mas não que pense além dos próprios interesses. É espantoso que na cúpula do PT a hipótese direitista se mostre motivo de divisão. Assim também com a proposta de uso da facção policial homicida e de penas imensas que, até hoje, não intimidaram bandido nenhum.
Há quem entenda do problema, no seu conjunto e nos aspectos particulares; no que se refere à polícia e suas características, atuais ou desejadas, e à criminalidade como fator da sociedade e como impulso individual. Quem entende disso, quem tem tudo a dizer e propor sobre isso, são advogados criminalistas e juízes. Estes são os que estudam o problema e com ele lidam em todas as suas dimensões. Como ainda ontem o demonstraram dois dos notáveis entre os criminalistas, Márcio Thomaz Bastos e Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, em admiráveis artigos/ ponderações na Folha.
Com a vida passada no jornalismo, esse modo penoso de acumular testemunho, só posso sonhar, diante do gigantismo do problema polícia-crime, com esta providência: uma comissão nacional presidida pelo patrimônio moral, intelectual e profissional de Evandro Lins e Silva e composta por criminalistas notáveis de vários Estados, representantes da Associação dos Magistrados Brasileiros, da Academia Paulista de Magistrados e outras, da Associação dos Juízes para a Democracia, do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça.
Deles -e não de políticos, militares, policiais e tecnocratas- é que poderia esperar o caminho do alívio. Quer dizer, da vida.
Janio de Freitas: Os que sabem
Publicidade
colunista da Folha
Na reunião dos seus maiorais, para preparar o desastrado encontro que dirigentes petistas teriam à tarde com Fernando Henrique Cardoso, o PT evidenciou que também não tem o que dizer de novo e proveitoso para reverter a violência criminosa. O governo já deu sete anos de demonstração de que não tem o que dizer e não quer fazer seja o que for.
E isso, nas circunstâncias a que a agressividade e a insegurança chegaram, é o que de melhor pode acontecer: está evidente que políticos e partidos são tão inadequados ao trato do problema como os militares, os tecnocratas e os policiais.
A esta altura, alguém propor ainda que o Exército seja chamado a agir não é só ignorar o que é o Exército. Nem ignorar só o passado, mas também tempos muito recentes. Só deu em vexame, com tanques apontados para barracos, e em brutalidades pessoais o pretenso auxílio pedido ao Exército pelo governo de Marcello Alencar no Rio. Embora seja verdadeiro que a criminalidade não ficou intacta: pôde ter o sentimento de vitória, porque ao Exército só restou voltar aos quartéis.
É natural que a direita, de cujas posições o Exército é caudatário e guardião histórico, pense sempre na repressão militarizada, mas não que pense além dos próprios interesses. É espantoso que na cúpula do PT a hipótese direitista se mostre motivo de divisão. Assim também com a proposta de uso da facção policial homicida e de penas imensas que, até hoje, não intimidaram bandido nenhum.
Há quem entenda do problema, no seu conjunto e nos aspectos particulares; no que se refere à polícia e suas características, atuais ou desejadas, e à criminalidade como fator da sociedade e como impulso individual. Quem entende disso, quem tem tudo a dizer e propor sobre isso, são advogados criminalistas e juízes. Estes são os que estudam o problema e com ele lidam em todas as suas dimensões. Como ainda ontem o demonstraram dois dos notáveis entre os criminalistas, Márcio Thomaz Bastos e Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, em admiráveis artigos/ ponderações na Folha.
Com a vida passada no jornalismo, esse modo penoso de acumular testemunho, só posso sonhar, diante do gigantismo do problema polícia-crime, com esta providência: uma comissão nacional presidida pelo patrimônio moral, intelectual e profissional de Evandro Lins e Silva e composta por criminalistas notáveis de vários Estados, representantes da Associação dos Magistrados Brasileiros, da Academia Paulista de Magistrados e outras, da Associação dos Juízes para a Democracia, do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça.
Deles -e não de políticos, militares, policiais e tecnocratas- é que poderia esperar o caminho do alívio. Quer dizer, da vida.
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Nomeação de novo juiz do Supremo pode ter impacto sobre a Lava Jato
- Indicação de Alexandre de Moraes vai aprofundar racha dentro do PSDB
- Base no Senado exalta currículo de Moraes e elogia indicação
- Na USP, Moraes perdeu concursos e foi acusado de defender tortura
- Escolha de Moraes só possui semelhança com a de Nelson Jobim em 1997
+ Comentadas
- Manifestantes tentam impedir fala de Moro em palestra em Nova York
- Temer decide indicar Alexandre de Moraes para vaga de Teori no STF
+ EnviadasÍndice