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31/01/2002 - 07h49

Presidenciável francês faz pauta antiliberal para 2002 em fórum

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PLÍNIO FRAGA
enviado especial a Porto Alegre

Encampação do Fundo Monetário Internacional (FMI) pelo Banco Mundial, Estados-nação fortes, taxação das transações financeiras internacionais, veto ao indiscriminado fluxo comercial sem fronteiras, fim dos paraísos fiscais e a ampliação do G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia) para G-16 (com a entrada de Brasil, China e Índia, entre outros).

Coube a um candidato da esquerda à Presidência da França a primeira proposta de uma agenda comum aos participantes do Fórum Social Mundial (FSM). Jean-Pierre Chevènement -candidato do MDC (sigla para Movimento dos Cidadãos) nas eleições de lá em 2002- foi aplaudido por cerca de mil pessoas que assistiram à palestra de encerramento do 2º Fórum de Autoridades Locais, evento paralelo ao FSM.

"O FMI é uma secretaria do clube de credores. Sua gestão favorece aos mais ricos. As instâncias político-econômicas deveriam ser paritárias entre credores e devedores", afirmou Chevènement, ao defender sua proposta de incorporação do FMI pelo Banco Mundial. "Assim como o keynesianismo foi uma resposta do capitalismo ao comunismo depois da Segunda Guerra, os países têm de criar o neokeynesianismo da era globalizada", disse Chevènement, em referência ao economista inglês John Maynard Keynes, pai da política de reformismo social.

"Os países não podem ser colonizados por tecnocracias ligadas às elites oligarcas. Temos de reformar as instituições políticas internacionais para inverter o fluxo financeiro, que hoje é do Sul [nações subdesenvolvidas] para o Norte [desenvolvidas]. Esse é o grande escândalo", disse.

O presidente nacional do PT, José Dirceu, que foi o comentador da palestra na cerimônia de encerramento, afirmou que o francês fez um "diagnóstico correto" e elaborou uma "pauta concreta" para os movimentos contra o neoliberalismo. "Aqueles que, em nome da globalização, dizem que as nações estão ultrapassadas, erram. Sem a soberania dos Estados, a globalização é a lei da selva. Não se deve confundir nação com nacionalismo. Este é uma doença daquela", disse o francês.

Chevènement apontou o que classificou de um dos maiores temores que podem ser causados pela globalização. "Anomia é uma palavra que vem do grego e significa a ausência de regras a serem compartilhadas. É ela a causa de guerras tribais e civis, de fechamento dos países em etnicismos, de violência urbana e pandemias. É o risco de estarmos correndo em direção a um imenso iceberg."

Na avaliação dele, desde 1973, com o início da crise do petróleo, o FMI tornou-se um instrumento essencial da globalização financeira, em favor dos países ricos.

Exemplificou dizendo que, em 1970, a dívida somada dos países em desenvolvimento atingia US$ 70 bilhões. Em 1980, saltou para US$ 600 bilhões. Em 1990, chegou perto do US$ 1,5 trilhão. "Mas essa dívida não é nada em comparação com a dívida dos Estados Unidos, que ultrapassa o dobro do conjunto das dívidas dos países em desenvolvimento. E quem vai obrigar os Estados Unidos a pagar sua dívida?", questionou.

Chevènement defendeu que, com a ampliação do G-8 para G-16, seja negociado o perdão da dívida dos países mais pobres. "O Norte explorou o Sul para obter prosperidade. É justo agora que sejam dadas condições para que prospere também."

O político francês afirmou ver falhas no Banco Mundial, mas acredita que é nele que os países devem se apoiar. O fluxo de capital financeiro hoje, na visão dele, tem fins colonizadores.

"Mais de 80% dos investimentos diretos no Brasil, na China e na Tailândia foram destinados a compras de empresas locais. Foram dedicados a uma outra forma de corrupção, à compra dos líderes formadores de opinião."

Leia mais:fóruns de Porto Alegre e NY
 

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