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01/02/2002 - 09h43

Naomi Klein defende "nova forma de poder"

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SYLVIA COLOMBO
da Folha de S.Paulo, em Porto Alegre

A ativista canadense Naomi Klein, 31, uma das "estrelas" do Fórum Social Mundial, chegou a Porto Alegre disposta a escutar idéias. "Vim ouvir alternativas. Estou atrás de inspiração", disse.

Com ela, desembarca também a versão em português de seu livro "No Logo" (99), que virou uma espécie de bíblia dos manifestantes antiglobalização. Para compensar o atraso de quase três anos, "Sem Logo - A Tirania das Marcas em um Planeta Vendido" (título em português) chega com um posfácio dedicado ao Brasil.

Klein se diz cansada de responder às mesmas perguntas e diz não ter um manual sobre como quem se opõem à globalização neoliberal deve agir. "É preciso elaborar uma nova concepção de poder". Leia abaixo os principais trechos da entrevista à Folha.

Folha - O que espera encontrar em Porto Alegre neste ano?
Naomi Klein
- Inspiração. Se fosse resumir em uma palavra, diria isso. Não busco nenhum tipo de visão unificadora. Acho que Porto Alegre se transformou em um lugar aonde as pessoas vêm para escutar boas idéias que poderiam aplicar em suas casas.

Folha - Desde que lançou "No Logo", a sra. tem defendido que o que se convencionou chamar de "movimento antiglobalização" tem de apontar para soluções fragmentadas. A sra. não acredita que, em algum momento, propostas objetivas tenham de ser apresentadas?
Klein
- Sim, temos um paradoxo aqui. Sempre haverá pessoas que querem liderar e, principalmente, pessoas que querem ser lideradas. Acho que os movimentos antiglobalização devem rejeitar a centralização do poder, precisam elaborar uma nova concepção de poder. Daí serem fragmentados. É paradoxal, mas com isso não estou dizendo que não devemos focalizar objetivos; a democratização, uma maior participação da sociedade nas decisões dos governos é um ponto a ser defendido.

Folha - Que lugares do mundo de hoje se aproximam da sua idéia de sociedade ideal?
Klein
- Não consigo pensar em países, mas em lugares e situações que estão buscando alternativas. Apontaria Porto Alegre, assim como alguns pontos da Escandinávia. Diria que Veneza também, mas não Itália como um todo. Também não me sinto à vontade para indicar Cuba, apesar de reconhecer que várias boas lições possam ser tiradas de seu exemplo.

Folha - A sra. pensa em escrever "No Logo - Parte 2"? Como seria?
Klein
- Não, não quero fazer uma sequência. Mas, se fizesse, não seria algo na linha "isso é o que faremos agora". Gostaria de escrever sobre experiências que vejo pelo mundo, seria o resultado do aprendizado com as alternativas concretas que vejo em viagens.

Folha - Acha que a crise argentina é um exemplo de como o neoliberalismo pode ser prejudicial se levado às últimas consequências?
Klein
- Claro. A experiência argentina provou algo que já sabíamos, que até então estava apenas no plano do discurso, mas podia ser pressentido. O terrível é que as pessoas não tenham sido poupadas. Acho que a questão da Argentina precisa ser discutida aqui.

Folha - O que os atentados de 11 de setembro representam para os movimentos antiglobalização?
Klein
- É difícil ser descentralizadora de idéias hoje, pois o discurso de defesa da centralização do poder ganhou uma força tremenda após isso. Mas é preciso continuar lutando pela descentralização. Creio que as consequências estão sendo bem negativas e contraditórias. A economia dos EUA depende da liberação de fronteiras, mas o que há é uma crescente militarização dessas fronteiras, por razões de segurança.

Folha - A sra. e Noam Chomsky são as "estrelas" deste evento. Qual sua opinião sobre suas idéias?
Klein
- Não concordo com tudo o que ele diz, mas o admiro. O principal é que ele defenda essas idéias no seu país. Deve ser difícil ser Chomsky nos EUA, a batalha dele certamente é dura e solitária.

Leia mais:fóruns de Porto Alegre e NY
 

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