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02/02/2002 - 06h30

EUA ligam juro alto no Brasil à corrupção

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CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Nova York

O secretário norte-americano do Tesouro, Paul O'Neill, atribuiu à corrupção e à falta de respeito às regras da lei o fato de o Brasil ter juros muito altos. As observações foram feitas em resposta à pergunta do megainvestidor George Soros sobre a persistência de taxas elevadas de juros no Brasil.

O'Neill começou a resposta com elogios às "maravilhosas" empresas que o Brasil tem. Logo, emendou com a primeira crítica: "Se o Brasil fosse igual às suas empresas, os juros estariam em 6%" (estão em 19%).

Depois, mencionou corrupção e desrespeito à lei como os motivos que levariam os mercados a exigir juros elevadíssimos, entre os maiores do mundo. Nenhum dos funcionários brasileiros que participa do encontro anual 2002 do Fórum Econômico Mundial estava presente ao almoço em que O'Neill fez seus comentários.

Informado dele, no entanto, o presidente do Banco Central brasileiro, Armínio Fraga, responsável, em última análise, pela definição dos juros, admitiu "desconforto" com o comentário.

Ressalvando que não ouvira a observação e o contexto em que ela se deu, Armínio fez questão de lembrar o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, e o afastamento de diversos parlamentares como uma evidência de que "o Brasil trata seriamente dessa questão".

Menos contido, o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), considerou o comentário "um gigantesco equívoco". E atacou:
"Como se trata de uma pessoa informada, é um equívoco proposital".

Tasso emendou com um segundo ataque, agora aos Estados Unidos: para ele, os juros no Brasil são altos porque, "no sistema internacional liderado pelos EUA, os países pobres são obrigados a pagar altos juros para permanecerem vivos no mercado, diante de sua vulnerabilidade".

O governador cearense acha que a corrupção no Brasil já foi, de fato, muito grande, mas, agora, "não é muito diferente da dos países desenvolvidos".

Outro funcionário brasileiro, que preferiu calar-se, soprou ao governador o caso Enron, o escândalo da companhia energética norte-americana que quebrou recentemente, em meio a uma fraude que envolveu também uma empresa de auditoria e pode respingar no governo George Walker Bush, amigo do presidente da Enron, Kenneth Lay.

Já o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horácio Lafer Piva, foi menos agressivo. Concordou com Tasso em que a corrupção no Brasil diminuiu, mas acrescentou: "Ainda há uma grande estrada pela frente".

Não é a primeira vez que a associação entre as palavras corrupção e Brasil, por parte de funcionários norte-americanos, causa mal-estar no governo FHC.

Na administração Clinton, um relatório do Departamento de Estado que citava a corrupção no Brasil provocou fortes críticas de Brasília.
Mas o contexto, agora, é mais complicado, a partir do fato de que não há mais a boa química que havia entre Clinton e FHC.

Além disso, o presidente brasileiro vem numa escalada de críticas aos Estados Unidos, a mais forte das quais não foi digerida pela diplomacia norte-americana.

No discurso à Assembléia Nacional da França, no fim de outubro, FHC afirmou: "A barbárie não é somente a covardia do terrorismo, mas também a intolerância ou a imposição de políticas unilaterais em escala planetária".
 

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