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02/02/2002
-
06h56
RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo
O ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso Luiz Carlos Bresser Pereira (Administração e Reforma do Estado e Ciência e Tecnologia) disse que o Brasil é vítima do que chama de "ideologia globalista", que venderia a idéia de que países pobres podem contar com investimentos externos para crescer.
A afirmação foi feita durante debate na Folha sobre os rumos da globalização, realizado na última quarta-feira à noite. Também participaram da discussão o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, professor da USP, o diretor-presidente da Fundação Abrinq, Hellio Matar, e a escritora e ativista norte-americana Susan George, que participa do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
Bresser, 67, que disse se interessar em pensar a globalização do ponto de vista do Brasil, afirmou que nenhum país cresceu a não ser com seus próprios recursos, e que o Brasil precisa deixar de "pedir favor" e passar a pensar "com a própria cabeça", numa crítica velada à política econômica do governo FHC.
A "ideologia globalista" criaria a idéia de que os Estados perderam autonomia, o que, segundo Bresser, "é uma tolice". Acreditar nessa falácia teria levado, "por nossa própria incompetência", a que o país não tivesse conseguido dobrar a sua renda per capita nos últimos 30 anos.
Os países pobres teriam acreditado na idéia de que não disporiam de recursos internos para crescer e que, se fizessem a "lição de casa" -reformas e ajuste fiscal- receberiam investimentos externos. Segundo Bresser, é uma falácia acreditar na relação confiança/investimento.
O ex-ministro defendeu, como estratégia para o desenvolvimento do país uma desvalorização ainda maior do real. Disse que manter o câmbio valorizado é "populismo econômico". Interpelado pela platéia se teria avisado o presidente disso a tempo (antes da desvalorização de 1999), respondeu: "Avisei".
Bresser, um dos maiores aliados do pré-candidato à Presidência José Serra (PSDB), lançou no final do ano passado um documento com propostas de política econômica com críticas às altas taxas de juros praticadas no governo FHC.
No documento "Uma estratégia de desenvolvimento com estabilidade", produzido em parceria com o economista Yoshiaki Nakano, Bresser defende a idéia de que as atuais taxas de juros podem segurar a inflação e atrair capital externo, mas o fazem ao preço de frear o crescimento e tornar mais cara a dívida do país.
Em uma segunda versão do documento, após receber críticas dentro do PSDB, o ex-ministro atenuou o tom das divergências. Bresser disse ter feito apenas algumas alterações, o que "ocorre naturalmente em qualquer texto acadêmico".
Diagnósticos divergentes
Durante o debate, Susan George disse que liberdade para poucas grandes empresas investirem onde quiserem, como quiserem e quando quiserem é a melhor definição da globalização.
A escritora, vice-presidente da ONG Attac (sigla em francês para Associação pela Taxação das Transações Financeiras para Ajuda aos Cidadãos), defendeu que sua definição ajuda a combater ilusões associadas à globalização.
A palavra, que segundo George, 67, tem conotação quase religiosa, daria a impressão de que todos no mundo marcham juntos. Entretanto, diz a escritora, "a realidade é de crescente exclusão".
Eduardo Giannetti, 44, discordou. Disse que a globalização, mais do que a integração entre empresas, é caracterizada por uma revolução tecnológica e a formação de blocos econômicos. Disse ainda ser preciso fazer um contraponto ao "falso alarme permanente dos críticos". Embora o avanço tenha sido desigual, segundo ele, "todos ganharam". Os indicadores sociais, em termos absolutos, teriam melhorado em todo o mundo.
"Ideologia globalista" vitima país, diz tucano
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da Folha de S.Paulo
O ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso Luiz Carlos Bresser Pereira (Administração e Reforma do Estado e Ciência e Tecnologia) disse que o Brasil é vítima do que chama de "ideologia globalista", que venderia a idéia de que países pobres podem contar com investimentos externos para crescer.
A afirmação foi feita durante debate na Folha sobre os rumos da globalização, realizado na última quarta-feira à noite. Também participaram da discussão o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, professor da USP, o diretor-presidente da Fundação Abrinq, Hellio Matar, e a escritora e ativista norte-americana Susan George, que participa do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
Bresser, 67, que disse se interessar em pensar a globalização do ponto de vista do Brasil, afirmou que nenhum país cresceu a não ser com seus próprios recursos, e que o Brasil precisa deixar de "pedir favor" e passar a pensar "com a própria cabeça", numa crítica velada à política econômica do governo FHC.
A "ideologia globalista" criaria a idéia de que os Estados perderam autonomia, o que, segundo Bresser, "é uma tolice". Acreditar nessa falácia teria levado, "por nossa própria incompetência", a que o país não tivesse conseguido dobrar a sua renda per capita nos últimos 30 anos.
Os países pobres teriam acreditado na idéia de que não disporiam de recursos internos para crescer e que, se fizessem a "lição de casa" -reformas e ajuste fiscal- receberiam investimentos externos. Segundo Bresser, é uma falácia acreditar na relação confiança/investimento.
O ex-ministro defendeu, como estratégia para o desenvolvimento do país uma desvalorização ainda maior do real. Disse que manter o câmbio valorizado é "populismo econômico". Interpelado pela platéia se teria avisado o presidente disso a tempo (antes da desvalorização de 1999), respondeu: "Avisei".
Bresser, um dos maiores aliados do pré-candidato à Presidência José Serra (PSDB), lançou no final do ano passado um documento com propostas de política econômica com críticas às altas taxas de juros praticadas no governo FHC.
No documento "Uma estratégia de desenvolvimento com estabilidade", produzido em parceria com o economista Yoshiaki Nakano, Bresser defende a idéia de que as atuais taxas de juros podem segurar a inflação e atrair capital externo, mas o fazem ao preço de frear o crescimento e tornar mais cara a dívida do país.
Em uma segunda versão do documento, após receber críticas dentro do PSDB, o ex-ministro atenuou o tom das divergências. Bresser disse ter feito apenas algumas alterações, o que "ocorre naturalmente em qualquer texto acadêmico".
Diagnósticos divergentes
Durante o debate, Susan George disse que liberdade para poucas grandes empresas investirem onde quiserem, como quiserem e quando quiserem é a melhor definição da globalização.
A escritora, vice-presidente da ONG Attac (sigla em francês para Associação pela Taxação das Transações Financeiras para Ajuda aos Cidadãos), defendeu que sua definição ajuda a combater ilusões associadas à globalização.
A palavra, que segundo George, 67, tem conotação quase religiosa, daria a impressão de que todos no mundo marcham juntos. Entretanto, diz a escritora, "a realidade é de crescente exclusão".
Eduardo Giannetti, 44, discordou. Disse que a globalização, mais do que a integração entre empresas, é caracterizada por uma revolução tecnológica e a formação de blocos econômicos. Disse ainda ser preciso fazer um contraponto ao "falso alarme permanente dos críticos". Embora o avanço tenha sido desigual, segundo ele, "todos ganharam". Os indicadores sociais, em termos absolutos, teriam melhorado em todo o mundo.
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