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04/02/2002 - 09h37

"11 de setembro deu fôlego ao militarismo", diz Nobel da Paz

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LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre

A ativista guatemalteca Rigoberta Menchú, 42, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1992 pela sua atuação em favor das populações indígenas no seu país, declarou ontem, em entrevista, que os militares latino-americanos retomaram fôlego após o atentado terrorista do dia 11 de setembro nos Estados Unidos.

De acordo com a ativista, a necessidade de segurança recupera um protagonismo no poder que as forças armadas dos diversos países não tinham desde a derrocada dos regimes militares que prosperaram nos anos 70 e 80.

"Na Guatemala, os militares estão rindo à toa. Deram-lhes um cheque em branco", disse Menchú, que participa do Fórum Social Mundial, que acontece até amanhã, em Porto Alegre.

Ela também questiona o tratamento que os presos estão recebendo dos EUA na ilha de Guantánamo, em Cuba. Para Menchú, , os direitos humanos devem ser os mesmos para todos, independentemente da nacionalidade do criminoso. "Por mais que sejamos solidários ao povo norte-americano pela atrocidade da qual foi vítima, todos os criminosos têm de ter igual tratamento."

Leia trechos da entrevista concedida à Agência Folha.


Agência Folha - Como a sra. vê a manutenção de uma prisão norte-americana em Guantánamo, em pleno território cubano, com detidos afegãos?
Rigoberta Menchú
- É claro que é ruim haver aquela prisão em Cuba, há tantos anos. Quanto à situação dos presos, não temos informações suficientes, pois a censura aos meios de comunicação é forte. Não se sabe como estão aquelas pessoas. A Anistia Internacional tentou obter informações e não conseguiu. É tudo muito delicado nessa questão do terrorismo, mas é importante, de qualquer forma, que o público saiba o que ocorre.

Agência Folha - Como essa situação, da guerra contra o terror, está afetando os direitos humanos mundialmente?
Menchú
- Há várias implicações. Primeiro, por mais que sejamos solidários ao povo norte-americano pela atrocidade da qual foi vítima, todos os criminosos têm de ter igual tratamento. As vítimas norte-americanas têm o mesmo valor que as latino-americanas. Mudaram muitas coisas depois do 11 de setembro, especialmente em relação aos imigrantes, quanto à xenofobia e à discriminação. Nos Estados Unidos, estão afetados programas de educação e saúde, pois os investimentos estatais são dirigidos à área militar.

Agência Folha - Os gastos militares podem ter repercussão na América Latina?
Menchú
- Sim, necessidade de segurança tem efeitos como o fortalecimento de militares que estavam desacreditados no nosso continente. Na Guatemala, os militares estão rindo à toa. Deram-lhes um cheque em branco. Isso é muito perigoso. Nosso continente já sofreu muito. A democracia deve ser preservada.

Agência Folha - Como se comportam os países latino-americanos?
Menchú
- Eles não estão tendo um espírito nacionalista. No México, por exemplo, as fronteiras são controladas pelos Estados Unidos sem reações. São governos que cedem à chantagem feita por Bush [o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush], de que se está contra eles ou com eles. Nossos governos têm de ter legitimidade para defender os interesses nacionais.
 

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