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05/02/2002 - 07h37

Fórum destaca atraso secular da AL

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CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Nova York

O escritor colombiano Gabriel García Márquez poderia parafrasear título de livro seu ("Cem Anos de Solidão") e ganhar outro prêmio Nobel de Literatura com "Cem Anos de Atraso", tendo como cenário a América Latina.

É esse, pelo menos, o cálculo do boliviano Enrique García, presidente da Corporação Andina de Fomento, organismo multilateral de financiamento dos países andinos. "A América Latina levará cem anos ou mais para chegar ao nível de renda per capita dos países da OCDE, se crescer ao melhor nível dos anos 90", disse García ontem, em debate sobre o panorama da região como parte do encontro anual 2002 do Fórum Econômico Mundial.

OCDE é a sigla de Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que agrupa os 29 países supostamente mais industrializados.
Se há, olhando para a frente, esse gigantesco desafio, olhando para trás é pior, sempre nos cálculos do presidente da CAF: a América Latina que, há 50 anos, era a terceira região do planeta, em termos de riqueza, agora é apenas a quinta colocada.

Receita
O que fazer? A receita até recentemente mais citada (as reformas liberais) não foi arquivada, mas ficou nitidamente em segundo plano. Agora, o foco vai para o fortalecimento das instituições.

"O problema central da América Latina é a fraqueza das instituições democráticas", diz o presidente peruano Alejandro Toledo.

Reforça Felipe Larraín, que representa a Universidade Católica do Chile: "A pobreza é em grande medida um problema mais de falta de instituições do que de recursos econômicos".

Sergio Amaral, ministro brasileiro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, preferiu ficar apenas no seu próprio território: "O passo isoladamente mais importante é a remoção do protecionismo".

O ministro Amaral diz que a América Latina abriu sua economia muito mais que seus parceiros comerciais.

Contrapondo-se a Amaral, Larraín diz que uma das fraquezas latino-americanas é "a dependência de recursos naturais, em vez de ter uma base exportadora mais diversificada" (ele excetuou o México).

Endividamento
O prêmio Nobel de Economia, Robert Mundell, professor da Universidade Columbia (Nova York), atacou com sugestões pouco convencionais. Primeiro, considerou "um erro" o fato de os países latino-americanos tomarem muitos empréstimos em moeda estrangeira.

Como decorrência, sugeriu a criação de uma "área de câmbio ampla" na América Latina que teria uma moeda única, circulando por um tempo paralelamente às moedas nacionais.

A proposta combina com a sugestão do presidente do Peru, Alejandro Toledo, para uma ampliação da integração regional latino-americana. Toledo vai além da integração econômica. Propõe uma agenda social comum. "A Europa o fez, nós podemos fazê-lo", diz o presidente peruano.

Toledo reapresentou uma velha frase ("globalização com face humana", cunhada há anos pelo ex-presidente norte-americano Bill Clinton). Mas o próprio presidente peruano perguntou: "O que isso de fato significa?".

Sem resposta
É uma boa pergunta, para a qual não há respostas disponíveis, pelo menos não em Nova York, como não havia antes em Davos, local das 31 primeiras reuniões anuais do Fórum Econômico Mundial.

A única e desalentadora resposta disponível para o problema crucial da pobreza é a de Enrique García, o presidente da Corporação Andina de Fomento:

"As expectativas [das sociedades latino-americanas] excedem de longe as reais possibilidades da economia".
 

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