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05/02/2002
-
09h29
PLÍNIO FRAGA
da Folha de S.Paulo, em Porto Alegre
O último dia de debates do 2º Fórum Social Mundial foi concluído com dois apelos do sociólogo Francisco de Oliveira, um dos decanos da intelectualidade brasileira de esquerda.
O primeiro foi uma contestação das "derrotas da possibilidade de uma transformação socialista". O segundo foi uma decorrência deste último. Oliveira pediu que os cerca de 500 participantes do debate "Democracia e Socialismo" levantassem e cantassem a "velha canção", numa referência à "Internacional Socialista", no encerramento dos trabalhos.
"Quem sabe a letra?", perguntou Paulo Vanuchi, diretor do Instituto Cidadania e mediador da mesa. "Ninguém sabe inteira", respondeu o cientista político Carlos Nelson Coutinho, que iniciaria a explanação seguinte à de Francisco de Oliveira.
Trinta minutos depois, concluída a fala de Coutinho, a organização recrutou na platéia o ex-secretário de Cultura do Distrito Federal Hamilton Pereira, poeta que assina com o pseudônimo de Pedro Tierra.
Primeiro, Tierra antecipou o poema que será lido no encerramento hoje. "Aprendemos que Davos é a ordem, o silêncio branco; Nova York, o poder e o medo; Porto Alegre, a liberdade", diz um dos trechos.
Samba e socialismo
Em seguida, Pereira lembrou que, durante o regime militar, cada vez que um militante era solto, os presos entoavam uma das versões da "Internacional Socialista". "Em um dos presídios pelos quais passei, éramos 42 presos de 16 organizações diferentes", afirmou, provocando risos.
Com todos de pé, Pereira entoou solitário a "velha canção", sendo acompanhado timidamente durante o refrão: "Bem unidos marchemos, nesta luta final, levantem-se os povos do mundo, viva a Internacional".
Em sua fala, a mais aplaudida, Oliveira disse que FSM é uma "espécie de renovação do socialismo". Citou um samba do compositor Paulinho da Viola ("Tá legal, aceito o argumento, mas a rapaziada está sentindo a falta de um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim") para dizer que a "moçada está querendo o socialismo".
Oliveira sugeriu a forma de sistema que defende. "O socialismo não pode catar o lixo do sistema capitalista. Tem de destruir o lixo. Se nos conformamos em apenas coletar o lixo do capitalismo, estaremos condenados a ser coletores de lixo."
Ex-membro Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), do qual FHC foi fundador, em 1969, o sociólogo tentou passar otimismo ao público. "O socialismo já existe. Somos nós do 2º fórum. Cabe a nós fazer o socialismo". Mais aplausos.
O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, outro participante do debate, foi mais reticente. "Não há um projeto socialista formatado do ponto de vista teórico com capacidade de sedução na sociedade capitalista atual", declarou.
"Acreditávamos que a tensão da revolução industrial favoreceria o socialismo. A tensão de hoje não é mais da possibilidade do socialismo, mas da barbárie", disse.
Roma
O ministro francês da Educação Profissional, Jean-Luc Melenchon, afirmou que globalização é uma palavra insuficiente para descrever os dias atuais.
"Já havia globalização no Império Romano. O que é novo é que isso se dá pelo capital financeiro internacional. E a desregulamentação, o desequilíbrio são instrumentos desse capital", disse.
O economista Paul Singer apontou o que considera a principal contradição do capitalismo hoje. "É o desemprego, que depois vira inempregabilidade e exclusão social."
Carlos Nelson Coutinho disse que a falta de uma "proposta exequível de socialismo" colocou seus partidários na defensiva, na luta pela manutenção do Estado de bem-estar social.
Leia mais:fóruns de Porto Alegre e NY
Hino socialista e Paulinho da Viola são unidos em Fórum Social
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da Folha de S.Paulo, em Porto Alegre
O último dia de debates do 2º Fórum Social Mundial foi concluído com dois apelos do sociólogo Francisco de Oliveira, um dos decanos da intelectualidade brasileira de esquerda.
O primeiro foi uma contestação das "derrotas da possibilidade de uma transformação socialista". O segundo foi uma decorrência deste último. Oliveira pediu que os cerca de 500 participantes do debate "Democracia e Socialismo" levantassem e cantassem a "velha canção", numa referência à "Internacional Socialista", no encerramento dos trabalhos.
"Quem sabe a letra?", perguntou Paulo Vanuchi, diretor do Instituto Cidadania e mediador da mesa. "Ninguém sabe inteira", respondeu o cientista político Carlos Nelson Coutinho, que iniciaria a explanação seguinte à de Francisco de Oliveira.
Trinta minutos depois, concluída a fala de Coutinho, a organização recrutou na platéia o ex-secretário de Cultura do Distrito Federal Hamilton Pereira, poeta que assina com o pseudônimo de Pedro Tierra.
Primeiro, Tierra antecipou o poema que será lido no encerramento hoje. "Aprendemos que Davos é a ordem, o silêncio branco; Nova York, o poder e o medo; Porto Alegre, a liberdade", diz um dos trechos.
Samba e socialismo
Em seguida, Pereira lembrou que, durante o regime militar, cada vez que um militante era solto, os presos entoavam uma das versões da "Internacional Socialista". "Em um dos presídios pelos quais passei, éramos 42 presos de 16 organizações diferentes", afirmou, provocando risos.
Com todos de pé, Pereira entoou solitário a "velha canção", sendo acompanhado timidamente durante o refrão: "Bem unidos marchemos, nesta luta final, levantem-se os povos do mundo, viva a Internacional".
Em sua fala, a mais aplaudida, Oliveira disse que FSM é uma "espécie de renovação do socialismo". Citou um samba do compositor Paulinho da Viola ("Tá legal, aceito o argumento, mas a rapaziada está sentindo a falta de um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim") para dizer que a "moçada está querendo o socialismo".
Oliveira sugeriu a forma de sistema que defende. "O socialismo não pode catar o lixo do sistema capitalista. Tem de destruir o lixo. Se nos conformamos em apenas coletar o lixo do capitalismo, estaremos condenados a ser coletores de lixo."
Ex-membro Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), do qual FHC foi fundador, em 1969, o sociólogo tentou passar otimismo ao público. "O socialismo já existe. Somos nós do 2º fórum. Cabe a nós fazer o socialismo". Mais aplausos.
O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, outro participante do debate, foi mais reticente. "Não há um projeto socialista formatado do ponto de vista teórico com capacidade de sedução na sociedade capitalista atual", declarou.
"Acreditávamos que a tensão da revolução industrial favoreceria o socialismo. A tensão de hoje não é mais da possibilidade do socialismo, mas da barbárie", disse.
Roma
O ministro francês da Educação Profissional, Jean-Luc Melenchon, afirmou que globalização é uma palavra insuficiente para descrever os dias atuais.
"Já havia globalização no Império Romano. O que é novo é que isso se dá pelo capital financeiro internacional. E a desregulamentação, o desequilíbrio são instrumentos desse capital", disse.
O economista Paul Singer apontou o que considera a principal contradição do capitalismo hoje. "É o desemprego, que depois vira inempregabilidade e exclusão social."
Carlos Nelson Coutinho disse que a falta de uma "proposta exequível de socialismo" colocou seus partidários na defensiva, na luta pela manutenção do Estado de bem-estar social.
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