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25/02/2002 - 04h55

Senador do PL quer Armínio no BC e condena o MST

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da Folha de S.Paulo

As contradições entre o PT e o empresário e senador José Alencar (PL-MG) -o nome mais cotado para concorrer a vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva- são mais amplas que as tradicionalmente existentes entre o capital e o trabalho, ou entre os que dizem falar em seu nome.

Alencar, 71, chama de "craque" e diz que defenderia, se consultado, a permanência de Armínio Fraga à frente do Banco Central. É uma especulação que Lula, em setembro do ano passado, chamou de "imbecilidade despropositada" ao responder a jornalistas que questionaram essa possibilidade.

O senador avalia as ações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) como um "mal" para o país e as classifica de "invasão", em vez de "ocupação" como os petistas.

Afirma que, "como cristão", não colocaria na sua plataforma política a defesa da união civil de pessoas do mesmo sexo, por considerar o "homossexualismo uma forma de violência à natureza humana". O projeto de lei em discussão no Congresso Nacional que a prevê é de uma parlamentar petista e tem o apoio do partido.

Ideologia
As contradições com o PT se aprofundam no campo ideológico. Para Alencar, "a teoria marxista cometeu erros crassos". O PT se diz socialista, apesar de mesmo dentro do partido haver questionamentos sobre a validade total ou parcial das teses do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883).

No campo do papel do Estado, o senador mineiro é enfático: "O Estado é um péssimo administrador". Em documento aprovado em dezembro, o PT afirma que uma eventual administração sua terá como objetivo a implementação de um "Estado forte", com a preservação da presença estatal em áreas como petróleo, energia, saneamento e bancos.

Nesse último ponto, Alencar encontra elementos para justificar sua contrariedade. "O Estado quebrou vários bancos públicos numa época em que o que mais dinheiro deu no Brasil foi banco."

Fundado em 1980, grande parte dos quadros do PT é formada por opositores ao regime militar instalado no Brasil em 1964.

José Alencar afirma que era um comerciante em Ubá (MG) quando, em 31 de março de 1964, os militares derrubaram o presidente João Goulart. "Jango começou a transigir com o discurso de comunização. 1964 veio com o meu aplauso. Evitou que houvesse uma guerra civil", analisa hoje.

Em três anos no Senado, Alencar apresentou três propostas de matéria legislativa _uma delas um requerimento pedindo a comemoração do centenário de nascimento do político mineiro José Maria Alkimin.

Fez 32 discursos no plenário do Senado, um deles enaltecendo o Antonio Carlos Magalhães (PFL). "Vossa excelência deu provas absolutamente incontestáveis de sensibilidade social aguda. Além disso, representa aquela probidade de que tanto o Brasil carece no exercício da vida pública", discursou em 13 de fevereiro de 2001.

Alencar é o maior acionista de um conglomerado de 11 fábricas de tecidos, a Coteminas, que emprega 16,5 mil funcionários e é o segundo maior grupo têxtil do país, responsável pela fabricação das marcas Artex e Santista, com faturamento anual de R$ 1 bilhão.

Com um patrimônio declarado ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas em R$ 13.575.008, 54, o senador seria um dos atingidos se aprovado o Imposto de Grandes Fortunas, pelo qual se bate o PT.

Reforma tributária
Ele está previsto na Constituição, mas não em vigor, pois depende de regulamentação. Alencar afirma que não adianta discutir esse imposto isoladamente sem a realização de uma reforma tributária, que seja progressiva -com a cobrança de mais impostos de quem tem mais renda e propriedade-, mas que desonere a produção industrial e que termine com a cobrança de contribuições em cascata -na qual um imposto pode incidir sobre outro.

Apesar de tantas desavenças e diferenças de opinião, Alencar é o nome preferido de Lula para concorrer como candidato a vice. O PL tem hoje um senador, 23 deputados, um prefeito de capital (Alfredo Nascimento, de Manaus) e direito a 46 segundos quando a propaganda eleitoral começar em agosto -contra 4m22s do PT sozinho.

As críticas de petistas contra a aliança com o senador devem ser ampliadas hoje em reunião da Executiva Nacional do partido. Alencar afirma que há "próceres" do PT e do PL nos extremos à direita e à esquerda, mas que não vê razão para desentendimentos.

Só uma coisa o preocupa ao ser citado como candidato a vice de Lula: "Se alguém defende meu nome por causa de dinheiro para campanha, peço que me esqueçam. Me exauri nas campanhas".

Alencar fez a campanha mais cara para o Senado em 1998 e bancou 97,4% do custo com o próprio dinheiro. Dos R$ 3,9 milhões de reais que gastou, R$ 3,8 milhões saíram de suas contas pessoais. Foi eleito senador pelo PMDB, com 2,9 milhões de votos, 48,19% dos votos válidos. Hoje se diz favorável ao projeto de financiamento público de campanha apresentado pelo PT.

Em 1998, sua empresa doou 415 mil camisetas à campanha de reeleição de Fernando Henrique Cardoso (contribuição não registrada pelos tucanos no TSE e que consta da investigação sobre o caixa dois do PSDB). Vendeu outros R$ 3 milhões de reais em camisetas ao partido. Alencar diz que a dívida ainda não foi paga.

Mas o Ministério Público investigou uma suposta operação, envolvendo sua empresa e fundos de pensão de estatais, que poderia ter ligações com a eleição. A Secretaria da Previdência Complementar confirmou que houve uma compra combinada de ações da Coteminas por fundos de pensão no valor de R$ 177 milhões.

A Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) comprou R$ 81 milhões, o Funcef (Caixa Econômica Federal) e o Petros (Petrobras) investiram R$ 48 milhões cada um. Para o Ministério Público, a operação causou aos fundos prejuízo de R$ 46 milhões um mês após a compra de ações, pois seu valor despencou.

"Pedi no plenário do Senado uma CPI contra mim para apurar essa operação, que foi uma subscrição de ações com lançamento internacional. Ninguém teve coragem de fazer", diz Alencar.


Leia mais no especial Eleições 2002
 

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