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20/03/2002
-
17h24
FÁBIO PORTELA
da Folha Online
O senador José Sarney (PMDB-AP) foi hoje à tribuna do Senado Federal para criticar a ação da Polícia Federal na empresa de sua filha, a governadora Roseana Sarney (PFL-MA), pré-candidata do partido à Presidência da República. Sarney atacou o presidente Fernando Henrique Cardoso, o pré-candidato do PSDB, José Serra, e o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira.
Segundo Sarney, a invasão da Polícia Federal na sede da empresa Lunus, no dia 1º de março, apesar de contar com mandado judicial, foi uma ação ilegal e política. Para o senador, o único objetivo era desestabilizar a candidatura de Roseana à Presidência da República.
A PF invadiu, com mandado judicial, a sede da empresa Lunus, de propriedade de Roseana e do marido dela, Jorge Murad, e encontrou R$ 1,3 milhão em dinheiro. Depois, Murad admitiu que o dinheiro havia sido arrecadado para a campanha de Roseana, o que é ilegal.
"A Polícia Federal foi usada como polícia política", disse o senador, que comparou a ação da PF com o modo de operação praticado pelo extinto Dops (Departamento de Ordem Política e Social), durante o regime militar no Brasil, e pela Gestapo, no regime militar nazista na Alemanha.
"Se a governadora do maranhão não fosse candidata, nada disso existiria. Se ela aceitasse ser vice e não dissesse que as mulheres em vez de vice podiam ser presidentes, certamente não estaria amargando essa manipulação de imagem cuja origem está no aparato estatal", disse Sarney.
Crítica a FHC
Sarney fez referência a uma conversa que teve com o presidente Fernando Henrique Cardoso há cerca de dois meses. O senador disse ter alertado FHC sobre a possibilidade de espiões serem usados para gerar fatos políticos na campanha.
Segundo o senador, FHC garantiu que manteria "posição de estadista" e não permitiria que tais coisas ocorressem, apesar de afirmar que vinha sofrendo com "com pressões e cobranças pessoais, que muitas vezes lhe infernizavam o cotidiano".
Sarney lembrou o episódio "Watergate", em 1974, que culminou com a queda do presidente norte-americano Richard Nixon, para advertir o presidente Fernando Henrique Cardoso em relação "aos amigos mais próximos do chefe da Nação", que acabavam, com suas ações, "conspurcando" o governo.
"Quem acredita neste país, qual o idiota, que uma ação desta magnitude seria armada sem que a máquina estatal de nada soubesse ou dela não participasse? Quem nesse país não sabe que foi uma ação política suja, com propósito determinado?", perguntou Sarney ao plenário.
Sarney também acusou o presidente Fernando Henrique Cardoso de ter arrecadado fundos para sua campanha à Presidência em 1994 antes do prazo legal. Essa é uma das acusações que também foram lançadas sobre Roseana após a ação da PF na Lunus.
O senador lembrou declaração feita pelo ex-senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que afirmou ter presenciado a entrega de dinheiro pelo ex-ministro da Agricultura e ex-controlador do Bamerindus, Luiz Eduardo Andrade Vieira, à campanha de FHC, na presença do próprio candidato.
Serra na mira
O senador também insinuou que José Serra, pré-candidato tucano à Presidência, esteve por trás de toda a ação contra a empresa de Roseana. Sarney não fez críticas diretas, mas passou boa parte do tempo de seu discurso lendo reportagens que faziam ligações entre Serra e trabalhos de espionagem para a criação de dossiês contra adversários políticos.
"Há um fato cuja recorrência impressiona e intriga. É que toda referência a esse estilo característico de espionagem e dossiês nasce no Ministério da Saúde e envolve o ex-ministro José Serra. Mais que uma estratégia de campanha, parece uma concepção de governo", disse o senador.
Ele também aproveitou o discurso para criticar os métodos do PSDB, dizendo que o grupo político que passou os últimos anos no governo está se utilizando de práticas violentas e truculentas para tentar se perpetuar no poder no Brasil.
"No Zimbábue, o presidente Mugabi acaba de ganhar as eleições. Seu método foi bem mais simples: pegou os dois candidatos da oposição e mandou prender", disse o senador em tom irônico. "Na Colômbia, sequestrou-se uma candidata. No México, chegou-se a matar um candidato e seu possível substituto porque eles poderiam vencer."
Sarney também lembrou que Serra tem dois processos contra ele -um por improbidade administrativa e outro de reparação de bens ao erário- e usou novamente reportagens para mostrar a contratação feita pelo Ministério da Saúde durante a administração Serra da empresa Fence, especializada em rastrear grampos telefônicos.
Ministro é alvo
O ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, também foi alvo de Sarney. Aloysio foi chamado de truculento e de conivente com as ações da Polícia Federal no Maranhão.
"O atual ministro (da Justiça) é um homem de biografia forte. Tem demonstrado em sua vida atos de extrema violência. Comunga a teoria de que os fins justificam os meios", disse o senador.
Visivelmente irritado, Sarney disse ainda que deverá pedir que organizações internacionais, como a ONU (Organização das nações Unidas) ou a OEA (Organização dos Estados Americanos) enviem representantes para fiscalizar as eleições deste ano no Brasil.
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O senador José Sarney (PMDB-AP) foi hoje à tribuna do Senado Federal para criticar a ação da Polícia Federal na empresa de sua filha, a governadora Roseana Sarney (PFL-MA), pré-candidata do partido à Presidência da República. Sarney atacou o presidente Fernando Henrique Cardoso, o pré-candidato do PSDB, José Serra, e o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira.
Segundo Sarney, a invasão da Polícia Federal na sede da empresa Lunus, no dia 1º de março, apesar de contar com mandado judicial, foi uma ação ilegal e política. Para o senador, o único objetivo era desestabilizar a candidatura de Roseana à Presidência da República.
A PF invadiu, com mandado judicial, a sede da empresa Lunus, de propriedade de Roseana e do marido dela, Jorge Murad, e encontrou R$ 1,3 milhão em dinheiro. Depois, Murad admitiu que o dinheiro havia sido arrecadado para a campanha de Roseana, o que é ilegal.
"A Polícia Federal foi usada como polícia política", disse o senador, que comparou a ação da PF com o modo de operação praticado pelo extinto Dops (Departamento de Ordem Política e Social), durante o regime militar no Brasil, e pela Gestapo, no regime militar nazista na Alemanha.
"Se a governadora do maranhão não fosse candidata, nada disso existiria. Se ela aceitasse ser vice e não dissesse que as mulheres em vez de vice podiam ser presidentes, certamente não estaria amargando essa manipulação de imagem cuja origem está no aparato estatal", disse Sarney.
Crítica a FHC
Sarney fez referência a uma conversa que teve com o presidente Fernando Henrique Cardoso há cerca de dois meses. O senador disse ter alertado FHC sobre a possibilidade de espiões serem usados para gerar fatos políticos na campanha.
Segundo o senador, FHC garantiu que manteria "posição de estadista" e não permitiria que tais coisas ocorressem, apesar de afirmar que vinha sofrendo com "com pressões e cobranças pessoais, que muitas vezes lhe infernizavam o cotidiano".
Sarney lembrou o episódio "Watergate", em 1974, que culminou com a queda do presidente norte-americano Richard Nixon, para advertir o presidente Fernando Henrique Cardoso em relação "aos amigos mais próximos do chefe da Nação", que acabavam, com suas ações, "conspurcando" o governo.
"Quem acredita neste país, qual o idiota, que uma ação desta magnitude seria armada sem que a máquina estatal de nada soubesse ou dela não participasse? Quem nesse país não sabe que foi uma ação política suja, com propósito determinado?", perguntou Sarney ao plenário.
Sarney também acusou o presidente Fernando Henrique Cardoso de ter arrecadado fundos para sua campanha à Presidência em 1994 antes do prazo legal. Essa é uma das acusações que também foram lançadas sobre Roseana após a ação da PF na Lunus.
O senador lembrou declaração feita pelo ex-senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que afirmou ter presenciado a entrega de dinheiro pelo ex-ministro da Agricultura e ex-controlador do Bamerindus, Luiz Eduardo Andrade Vieira, à campanha de FHC, na presença do próprio candidato.
Serra na mira
O senador também insinuou que José Serra, pré-candidato tucano à Presidência, esteve por trás de toda a ação contra a empresa de Roseana. Sarney não fez críticas diretas, mas passou boa parte do tempo de seu discurso lendo reportagens que faziam ligações entre Serra e trabalhos de espionagem para a criação de dossiês contra adversários políticos.
"Há um fato cuja recorrência impressiona e intriga. É que toda referência a esse estilo característico de espionagem e dossiês nasce no Ministério da Saúde e envolve o ex-ministro José Serra. Mais que uma estratégia de campanha, parece uma concepção de governo", disse o senador.
Ele também aproveitou o discurso para criticar os métodos do PSDB, dizendo que o grupo político que passou os últimos anos no governo está se utilizando de práticas violentas e truculentas para tentar se perpetuar no poder no Brasil.
"No Zimbábue, o presidente Mugabi acaba de ganhar as eleições. Seu método foi bem mais simples: pegou os dois candidatos da oposição e mandou prender", disse o senador em tom irônico. "Na Colômbia, sequestrou-se uma candidata. No México, chegou-se a matar um candidato e seu possível substituto porque eles poderiam vencer."
Sarney também lembrou que Serra tem dois processos contra ele -um por improbidade administrativa e outro de reparação de bens ao erário- e usou novamente reportagens para mostrar a contratação feita pelo Ministério da Saúde durante a administração Serra da empresa Fence, especializada em rastrear grampos telefônicos.
Ministro é alvo
O ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, também foi alvo de Sarney. Aloysio foi chamado de truculento e de conivente com as ações da Polícia Federal no Maranhão.
"O atual ministro (da Justiça) é um homem de biografia forte. Tem demonstrado em sua vida atos de extrema violência. Comunga a teoria de que os fins justificam os meios", disse o senador.
Visivelmente irritado, Sarney disse ainda que deverá pedir que organizações internacionais, como a ONU (Organização das nações Unidas) ou a OEA (Organização dos Estados Americanos) enviem representantes para fiscalizar as eleições deste ano no Brasil.
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