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Diretor da PF defende escutas e desafia Ministério Público
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ANDRÉA MICHAEL
da Folha de S.Paulo
O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, disse ontem que, se houver o entendimento do Supremo Tribunal Federal de que o Ministério Público tem atribuição para investigar, os procuradores devem assumir a responsabilidade pela apuração dos 120 mil inquéritos que tramitam hoje.
"Se se entender que o Ministério Público deve ser competente para investigar, então, que ele presida todas as investigações no Brasil. São 120 mil inquéritos. Não pode haver uma competência seletiva", afirmou Lacerda, ao participar, em São Paulo, da posse do novo superintendente regional da PF paulista, delegado Jaber Saadi.
Lacerda disse também que "não se trata de uma crítica ao Ministério Público", instituição com a qual alega nunca ter tido problema em toda a carreira. "É uma constatação." Questionado sobre qual seria a missão da PF caso o STF decida pelo poder de investigação dos procuradores, Lacerda respondeu que "aí a Polícia Federal vai cumprir o que o Ministério Público determinar".
Após participar da posse de Saadi --que substitui o delegado Geraldo Araújo, que será superintendente da PF em Belém (PA)--, Lacerda defendeu o uso de escutas telefônicas como "uma das principais ferramentas de investigação, desde que dentro da legalidade".
O diretor-geral da PF desqualificou o argumento segundo o qual a escuta viola o princípio constitucional do direito à privacidade e à intimidade.
Está em discussão no Ministério da Justiça, com participação da PF e de representantes do Ministério Público, um projeto de lei para rever a regulamentação do uso de escutas telefônicas em investigações.
Sobre a polêmica, Lacerda disse: "A privacidade de um delinqüente tem de ser invadida, sim, em defesa dos interesses das sociedade. A privacidade é garantida na Constituição, como também há garantias constitucionais para a vida, o patrimônio público e pessoal. Não há valores absolutos quando estão em questão interesses sociais". Para ele, o uso de escuta requer "aperfeiçoamentos, mas a lei de hoje já garante a legalidade do uso".
A procuradora Regional da República, Janice Ascari, criticou as declarações. "Lacerda se esquece que o inquérito policial não é o único instrumento de investigação. Demonstra desconhecimento total da lei."
Roberto Wider Filho, promotor do Gaeco (grupo especial do Ministério Público), disse que Lacerda "não sabe conviver num regime democrático". "O Ministério Público atua em muitos casos em que polícia não está apta a investigar". Para o procurador Mário Lúcio Avelar, o importante é que os dois órgãos trabalhem em conjunto.
O procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza, não respondeu ao pedido de entrevista da Folha.
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