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05/04/2002 - 08h16

Garotinho diz que fará "campanha do R$ 1"

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MARCELO BERABA
ELVIRA LOBATO

da Folha de S.Paulo, no Rio

Tudo por R$ 1. O governador do Rio, Anthony Garotinho, 41, que renuncia hoje para disputar a Presidência da República pelo PSB, anunciou que iniciará uma campanha populista "que vai emocionar o Brasil".

Ele pretende fazer com que os eleitores participem ativamente de sua campanha comprando bônus eleitorais de R$ 1. O valor simbólico é uma referência direta a algumas de suas principais ações sociais, que estarão estampadas no verso do bônus, como o programa habitacional Morar Feliz, o restaurante do Betinho e o hotel popular que oferecem casa, comida e pernoite para a população pobre por R$ 1.

"Os políticos não estão falando aos corações das pessoas. Os candidatos estão cada vez mais com discursos técnicos. Eu vou usar um discurso que sei que será chamado de populista."

Segundo Garotinho, pesquisa recente mostra que o restaurante popular e o Cheque Cidadão, que distribui cheques de R$ 100,00 para famílias miseráveis comprarem alimentos, são seus programas mais famosos. "O Betinho [Herbert de Souza, morto em 1997 e criador da Campanha contra a Fome" tinha razão: quem tem fome tem pressa."

O presidenciável recebeu a Folha para falar de seus planos de campanha na tarde de segunda-feira. Leia a seguir a entrevista:

Folha - Em outubro de 99, o sr. se declarou candidato a presidente da República e logo depois disso viveu crises seguidas no governo, até os rompimentos com o PT e o PDT, que o elegeram. Foi prematura a colocação da candidatura naquela ocasião?
Anthony Garotinho -
Eu acredito que toda aquela trajetória foi importante para o meu amadurecimento político. O cenário ideal é que nada daquilo tivesse ocorrido. Mas os fatos reforçaram a convicção dentro de mim que a minha candidatura é necessária para evitar uma bipolarização, que não interessa ao Brasil, entre o candidato do governo, marcado para ganhar, e o candidato do PT, marcado para perder.

Folha - A decisão do TSE de verticalizar as coligações para campanha presidencial inviabilizou a sua candidatura?
Garotinho -
Sem dúvida prejudicou, mas não a inviabilizou, porque eu não faço política pelos métodos tradicionais. Eu tenho uma estratégia de campanha que vai surpreender muita gente, porque será uma estratégia altamente mobilizadora, que vai estar muito fortemente ligada ao sentimento de brasilidade e de participação das pessoas.

Folha - O sr. já dizia em 99 que pretendia fazer uma campanha que falasse aos corações. O que significará isso na prática?
Garotinho -
Os políticos não estão falando aos corações das pessoas. Os candidatos, de uma forma geral pautados pela mídia, estão cada vez mais com discursos técnicos. E eu vou usar um discurso que sei que será chamado de populista, embora eu saiba que será um discurso popular. Eu vou fazer uma campanha que vai emocionar o Brasil.

Folha - Mesmo com apenas dois minutos de TV?
Garotinho -
Mantidas as regras atuais, eu vou ter pelo menos três minutos por bloco. Acredito que isso será suficiente para passar a mensagem. Mas, reafirmo, a minha estratégia de campanha não passa prioritariamente pelo horário eleitoral. Vai ser uma coisa inovadora, jamais feita.

Folha - O sr. acha que vão chamá-lo de populista em razão disso?
Garotinho -
De populista já me chamam, isso só vai aprofundar.

Folha - Qual a realização da sua gestão que o sr. vai usar mais na campanha?
Garotinho -
Eu fiz uma pesquisa recente na qual ouvi mais de 4.000 pessoas por telefone, em todo o Estado. Eu listei para essas pessoas as realizações do meu governo e perguntei quais considerava a mais importante: a reforma do Maracanã, o metrô em Copacabana, as obras de saneamento da Barra da Tijuca, a duplicação da adutora de água da Baixada Fluminense, a reforma de rodovias, o Cheque Cidadão, o piscinão de Ramos, o restaurante popular, o hotel popular.

Disparado, deu o restaurante popular, com mais de 40%. Em segundo, o Cheque Cidadão. Ou seja, Betinho tinha toda razão: quem tem fome tem pressa.

Folha - O sr. vai se basear neste pesquisa para fazer a campanha?
Garotinho -
Não. A campanha vai tocar muito o coração das pessoas. É isso que eu vou dizer às pessoas: você pode ajudar a eleger um presidente. E as pessoas não imaginam como é fácil eleger um presidente.
Eu vou mandar imprimir um bônus de contribuição de campanha eleitoral no valor de um real. Atrás do bônus, vou mostrar o que fiz no Rio por uma real: casas por um real, restaurante por um real, hotel por um real. E vou mandar espalhar urnas [para receber os bônus] em todas as 5.500 cidades do Brasil.

Ao lado, vai estar um cidadão sentadinho vendendo o bônus de campanha. Na televisão, aparece o cidadão: "Comer uma comida gostosa desta, por um real? Para ajudar o Garotinho a ser presidente eu dava até mais de um real". Aí eu apareço e digo: "Eu quero que você me dê um real. Com um real você pode mudar a história do Brasil". Eu vou pedir um real para o eleitor. O sujeito que sai de casa para doar aquele real, ele está votando.

Vai ser uma campanha de marketing baseada em cima disso. Eu vou exigir desse eleitor um gesto de participação. Eu vou dizer: "Eu não quero o apoio dos grandes empresários que financiam as campanhas dos grandes candidatos. Eu quero o seu apoio, você pode me ajudar". Vai ser uma campanha de grande mobilização. Se 20 milhões de brasileiros me derem um real...

Folha - O bônus remete à prática religiosa da doação, revigorada pelas igrejas evangélicas.
Garotinho -
Não tem nada a ver. Eu trago das experiências das campanhas populares do passado, quando as pessoas contribuíam para a campanha, em vez dos empresários.

Folha - Quem fez campanha assim?
Garotinho -
Todo mundo de característica popular. Jânio Quadros, Jango [João Goulart], Getúlio Vargas.

Folha - Para romper a bipolarização e enfrentar o candidato do governo, o sr. terá de eleger o PT como principal adversário?
Garotinho -
Eu acho que a polarização não está dada ainda. Ela está sendo tentada. Eu acho que o segundo turno vai ser entre mim e o Lula. E eu vou vencer a eleição.

Folha - O José Serra (PSDB, candidato do governo) não vai para o segundo turno?
Garotinho -
Em eleição se passa esperança. Qual a esperança que alguém que teve oito anos de oportunidades pode oferecer ao povo brasileiro, que quer crescimento, emprego? Quer a manutenção da estabilidade? Quer, mas nenhum de nós vai ameaçar a estabilidade econômica. O eleitor quer justiça social, distribuição de renda. Eles tiveram oito anos para fazer, mas os indicadores do país pioraram.

E acho que é por isso que o PT me ataca tanto. É porque o PT já identificou que o candidato de natureza popular que pode ameaçar a candidatura de Lula se chama Garotinho. Mas com uma diferença: mais preparado do que ele.

Folha - E as resistências à sua candidatura dentro do PSB?
Garotinho -
Há uma resistência pequena, localizada, mas que não acredito que prospere porque isso seria, nesta altura do campeonato, um suicídio político do PSB abrir mão de um candidato que está em segundo lugar nas pesquisas. O medo de não eleger uma grande bancada não se justifica. Nós vamos eleger inúmeros deputados pelo país pela legenda, puxada pela candidatura presidencial.
 

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