19/04/2002 - 09h18

Garotinho deve parar de atacar Lula, diz Lessa

MURILO FIUZA DE MELO
da Folha de S.Paulo, no Rio

O governador de Alagoas e vice-presidente nacional do PSB, Ronaldo Lessa, disse ontem que o pré-candidato do partido à Presidência da República, Anthony Garotinho, deve parar de atacar o PT. Lessa afirmou que essa atitude não representa o "interesse" do PSB e que pretende cobrar "explicações" do ex-governador do Rio na reunião de hoje da executiva do partido, em Brasília.

"O que está ocorrendo é uma questão regional, que está sendo jogada para o plano nacional. Essa posição de considerar o PT inimigo não é uma posição do PSB. Portando, acho até que ele deve satisfação amanhã [hoje] na reunião da executiva", afirmou.

Ontem, após lançar oficialmente seu site na internet, Garotinho acusou, indiretamente, o pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, de ser favorável ao aborto e à descriminalização da maconha.

O ex-governador começou dizendo que Lula viverá "um grande drama" para tentar explicar "algumas situações", mas tentará fugir delas, porque há um setor muito forte da Igreja Católica que o apóia.

Em seguida, Garotinho citou uma entrevista dada recentemente a uma rádio de Petrolina (PE), na qual teria cobrado de um padre, vereador do PT na cidade, coerência sobre a descriminalização da maconha e o aborto.

"Padre, quando uma moça chegar ao confessionário e perguntar se o senhor é a favor do aborto, o senhor vai responder como padre ou como militante do PT? A santa Igreja Católica Apostólica Romana é contra o aborto, o que o senhor vai recomendar aos seus fiéis da sua igreja?", disse Garotinho, contando o que perguntou ao padre. Procurada, a direção nacional do PT disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não responderá aos ataques do candidato do PSB.

Para Lessa, o mais preocupante é que Garotinho se desvia do projeto do PSB para disputar a Presidência. "Ele é o candidato do partido, que tem um programa e tem um papel a ser cumprido. Então, ele tem que ter cabeça fria e cumprir o que foi estabelecido", disse.

Ontem, na comemoração de seus 42 anos numa churrascaria, Garotinho disse que Lula não é "coerente" ao dizer que não o pretende levar a sério, mas sim seu partido, do qual deseja ter o apoio num eventual segundo turno.

"Eu acho isso impossível [o apoio no segundo turno ao PT". Até porque se ele não me leva a sério, e eu sou membro do PSB, então por que ele quer o apoio do PSB? É uma incoerência da parte dele", disse o ex-governador.