30/04/2002 - 08h15

PT vê "manipulação política e especulativa"

da Folha de S.Paulo

O pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, e os dois principais formuladores da política econômica do partido, o economista Guido Mantega e o deputado federal Aloizio Mercadante, reagiram aos bancos de investimento apontando "equívocos" passados e "manipulação política e especulativa" em seus informes a respeito do Brasil.

"A impressão que tenho é que são eleitores de um candidato que não é o do PT. Vamos fazer um projeto de governo compromissado com as necessidades do povo brasileiro. Não vamos ficar à mercê de um banco qualquer dando palpite nas coisas do Brasil. Respeito é bom e nós gostamos", disse Lula.

"Esses bancos de investimentos têm se equivocado com frequência e orientado mal seus clientes. Antes da crise argentina, o risco daquele país, na avaliação deles, era menor que o do Brasil, o que se provou errado", afirmou Mantega, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.

"O Morgan Stanley era o banco ao qual pertencia o Francisco Gros [atual presidente da Petrobras e ex-presidente do BNDES, na gestão tucana], por exemplo. Esses bancos costumam mais é especular e ganhar dinheiro com suas avaliações, como ocorreu recentemente com as taxas de juros", declarou Mercadante, professor licenciado da Unicamp.

Mantega afirmou que não acredita que investidores externos sérios sejam influenciados pelo rebaixamento do Brasil por suposta instabilidade provocada pela candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência.

"Isso não traz efeito nenhum no mundo real. O que conta são operações como o lançamento de títulos do Brasil, pelo qual houve grande procura", disse Mantega.

No dia 5 de março, o governo brasileiro tomou um empréstimo de US$ 1,25 bilhão no exterior por meio do lançamento de títulos no mercado internacional. Os papéis vencem em seis anos e vão pagar juros de 11,7% ao ano -7,38 pontos percentuais acima da taxa paga por títulos do Tesouro dos EUA. Essa operação, segundo Mantega, mostra que o risco apontado pelos bancos de investimentos não existe.

O deputado afirmou que a análise do Merrill Lynch é mais fundamentada que a do Morgan Stanley. "Eles apontam a dificuldade do fluxo de investimentos para países emergentes e a crise do petróleo como razões de risco, não só as eleições", disse. "Mas o mercado tem de estar preparado para conviver com a democracia, que inclui a alternância de poder."

Foi com rapidez e bom humor que o pré-candidato do PT respondeu às críticas do ministro da Fazenda, Pedro Malan, ao seu programa de governo. "Não estamos fazendo propostas para agradar ao ministro Malan, mas para agradar ao povo brasileiro", disse Lula.

E completou, com ironia: "Se ele [Malan] concordasse com o programa do PT, o PT certamente estaria errado".

Porta-voz
Lula deu entrevista coletiva na sede nacional do partido, onde apresentou oficialmente à imprensa o porta-voz da campanha eleitoral do PT, o jornalista e cientista político André Singer.

Embora tenha se recusado, na coletiva, a comentar a pesquisa CNI-Sensus, que o mantém na primeira posição das intenções de voto, mais tarde o pré-candidato, num ato público pela paz no Oriente Médio ocorrido também na sede nacional do PT, deixou claro que está mais otimista com o resultado eleitoral do que tem declarado.

Ao defender uma ação mais efetiva do governo brasileiro em favor da paz entre judeus e palestinos, o pré-candidato petista afirmou: "Se Deus quiser, daqui há alguns meses poderemos jogar um papel importante para que as coisas aconteçam da melhor forma possível".