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17/05/2002 - 07h11

FHC perdeu "agressividade", avalia consultor

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do enviado a Madri

Má notícia para José Serra, o virtual candidato presidencial do PSDB, se ele de fato quer o empenho do presidente Fernando Henrique Cardoso em sua campanha: o presidente, como está para deixar o cargo, perdeu "a agressividade política".

A avaliação foi obtida pela Folha de um dos interlocutores de ontem de FHC, um companheiro de profissão (sociólogo) e também consultor favorito de empresários espanhóis e até do primeiro-ministro José María Aznar.

Com o livro "O presidente segundo o sociólogo", uma longa entrevista do jornalista Roberto Pompeu de Toledo com FHC, devidamente autografado na pasta, o consultor conversou com o presidente na residência da embaixada do Brasil em Madri. Depois relatou pedaços da conversa à Folha, com o compromisso de que seu nome fosse preservado.

O apetite político de FHC não parece ter sido despertado nem mesmo pela avaliação de que Luiz Inácio Lula da Silva tem, desta vez, melhores cartas do que em qualquer de suas tentativas anteriores, na avaliação que frequentou a conversa.

Lula ainda assusta? Um pouco, mas menos do que os agentes de mercado fazem crer.

Primeiro, "não estamos falando de mudanças traumáticas", diz o consultor. Ou seja, a expectativa é a de que uma eventual vitória do candidato petista não será o ponto de partida de uma revolução no Brasil.

Não obstante, o teorema traçado pelo interlocutor matutino de FHC faz certo sentido, até porque não carrega a dose de preconceito que embasa em geral as avaliações feitas pelos agentes financeiros.

Ponto 1: "Lula não se parece com Chávez (Hugo Chávez, o presidente venezuelano), mas, de todo modo, cria a incerteza do desconhecido".
Ponto 2: "A incerteza do desconhecido é tanto mais complicada em um sistema, como o brasileiro, cuja característica é o personalismo".

É uma referência à dose menor de incertezas em países europeus, em que os partidos são fortes o suficiente para servir de contrapeso aos nomes que elegem.

Ponto 3: "Mais importante, como fator de risco, é a região (a América do Sul), que está em uma situação complicada. Vai se introduzir uma complicação adicional (a incerteza do desconhecido), ganhe quem ganhe. Mesmo que seja Serra, porque, de todo modo, implica um mudança".

É significativo que, ao contrário do que ocorre no Brasil, em que a mais recente pesquisa do Datafolha, mostra uma maioria desejosa de mudanças, na Europa, pelo menos na Europa do establishment, o ideal seria que Fernando Henrique continuasse indefinidamente.

"Dos ibero-americanos, é a pessoa mais respeitada no exterior", diz o consultor e sociólogo.

Emenda outro interlocutor de ontem de FHC, Iñigo Oriol, presidente da Iberdrola, uma das empresas espanholas que invadiu a América Latina nos anos recentes, sem pedir reserva do nome: "Ouvir Fernando Henrique Cardoso é uma lição permanente".

Oriol almoçou ontem com o presidente brasileiro, ao lado de outros pesos-pesados do empresariado espanhol, também com interesses grandes na América Latina.

Detalhe: a análise que o sociólogo compartilhou ontem com FHC também frequentou a reunião que ele manteve com o presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen, que acaba de regressar de Madri.

O consultor não deve ter estimulado a busca eventual de uma candidatura alternativa à de Serra, como parte do PFL quer. "Quem é melhor candidato que Serra? Eu não sei", pergunta e responde o consultor, que se considera bem informado sobre o Brasil (e, de fato, na conversa com a Folha, mostrou-se bastante atualizado).
(CLÓVIS ROSSI)
 

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