Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
20/05/2002 - 07h01

Canonização de Paulina é marcada pela dor do papa

Publicidade

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Roma

A cerimônia de canonização de Amábile Lúcia Visintainer (1865-1942), de agora em diante santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, a primeira santa brasileira, realizou-se ontem, na praça de São Pedro, no Vaticano.
Sob uma chuva a princípio fina, depois forte, foi menos de júbilo e mais de dor e simpatia pelo sofrimento de João Paulo 2º, exposto em praça pública.

O papa, que completou 82 anos sábado, dirigiu-se ao altar em um jipe aberto (ainda não chovia), sentado, a cabeça levemente pendida para o lado direito.

O carro deixou-o perto do altar, mas, assim mesmo, demorou um tempo que parecia interminável para a multidão de 30 mil pessoas (segundo a assessoria de imprensa do Vaticano) que acompanhava a cerimônia. Contagem visual indicava menos gente.

Desde 1993, o papa tem manifestado claros sintomas do mal de Parkinson, uma desordem do sistema nervoso. Entre esses indícios, destacam-se um tremor quase incontrolável de seu braço esquerdo, visível, ontem, mesmo à distância, o que fazia tremer o papel que lia.

O papa sofre também de uma artrose no joelho e das consequências do atentado a tiros que quase o matou no começo da década de 1980. De tempos em tempos surgem rumores de que uma operação ortopédica será necessária, já que João Paulo 2º reclama de dores na junta.

De todo modo, ontem, o papa conseguiu ler todos os trechos que lhe cabiam na missa de canonização, ao contrário do que ocorrera na véspera na missa pelo seu 82º aniversário.

Quando o papa se levantou pela primeira vez do trono improvisado para a missa, os aplausos percorreram uma praça de São Pedro aliviada, enquanto as bandeirinhas do Brasil eram agitadas.

Brasileiros
Os brasileiros formaram a maior parte dos presentes à missa na praça de São Pedro (foram igualmente canonizados três italianos e um espanhol).
Antes do papa entrar na praça, cantavam, alegres: "Rogai por nós/pela igreja inteira/Madre Paulina é a santa brasileira".

Depois da homilia, os brasileiros retomaram o cântico que se tornou clássico a cada visita de João Paulo 2º ao Brasil: "A bênção, João de Deus".

Mas, desta vez, "João de Deus" não podia, pelo caráter cerimonioso do ato e, talvez, também pela dor, repetir o "papa é carioca", frase que disse uma vez no Rio de Janeiro.

Às 12h20 (7h20 em Brasília), terminada a missa, o papa João Paulo 2º sobe de novo no jipe, agora com capota, e dá a volta pela praça inteira, enquanto os sinos da basílica repicam e os sons fortes sobem aos ares, sob chuva cada vez mais forte.

Os aplausos e os "viva o papa" não cessam, mas não há o ambiente de "pop star" que, segundo os comentaristas não-católicos, cercava João Paulo 2º em suas viagens ao exterior.

Há, sim, eletricidade no ar, lágrimas em muitos olhos, mas a emoção divide espaço com a dor pela dor de "João de Deus". Tanta dor que o próprio papa pediu: "Rezem por minha pessoa e pelo cumprimento do serviço que o Senhor me confiou".
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página