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23/07/2002 - 18h44

Ciro é bem recebido na Fiesp e recebe elogios de presidente da entidade

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GUSTAVO HENRIQUE RUFFO
da Folha Online

Em sua palestra aos industriais paulistas reunidos na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o candidato da Frente Trabalhista (PPS, PDT e PTB), Ciro Gomes, deixou boa impressão.

Horácio Lafer Piva, presidente da Fiesp, preferiu não opinar sobre a participação de Ciro para, segundo ele, respeitar as diversas correntes ideológicas dos associados à entidade, mas comentou que a exposição do candidato havia sido bastante técnica e aprofundada.

O auditório em que o candidato estava precisou de cadeiras extras para comportar todos que queriam ouvi-lo, mas mesmo assim houve pessoas que o assistiram de pé e outras que não conseguiram entrar, acompanhando o debate em outras duas salas, que ficaram lotadas. Ciro foi interrompido várias vezes com aplausos.

Até o momento, só Garotinho e Ciro participaram dos debates patrocinados pela Fiesp. Pessoas que assistiram às duas palestras avaliaram que a audiência de Garotinho não chegava a 20% da que compareceu para ouvir Ciro.

Durante a entrevista coletiva, perguntaram ao candidato se ele creditava sua audiência ao crescimento nas pesquisas. A mais recente, do Instituto Vox Populi, o coloca com 27% das intenções de voto, quase o dobro do que o candidato José Serra (PSDB), terceiro colocado, possui (14%). "Seria de uma indelicadeza indesculpável atribuir o interesse dos industriais paulistas a isso. Os empresário estão querendo conhecer todos os candidatos e fazem muito bem, isso é importante, é democrático", disse Ciro.

Substituição de importações
O candidato do PPS indicou um caminho diferenciado para aumentar as divisas externas. Em vez de apenas exportar, Ciro também quer substituir importações.

"O comércio internacional está retraído, não será fácil vender nada ao exterior, mas precisamos eliminar o déficit externo. Exportar mais não será suficiente. Os outros problemas matam [a economia] devagar, mas esse pode matar de modo súbito. A gente fica chegando perto [do buraco] e voltando, chegando perto e voltando. Numa dessas a gente vai e não volta", disse Ciro.

"Não faz sentido importar uma plataforma [de exploração de petróleo] de Cingapura, nem importar aviões se podemos comprar da Embraer. Precisamos também de uma marinha mercante nacional, não importa se privada ou estatal. Nada contra os estrangeiros, mas não temos dólares para pagá-los!", completou ele.

Contra países que impõem barreiras contra produtos brasileiros, Ciro propôs, "de forma seletiva", levando em conta a importância do país em termos comerciais, a mesma atitude. "Temos de retaliar imediatamente, sem bazófias, quem restringir nossos produtos. A globalização não é uma lei da física, que vale igual para todos."

A criação de um ministério de comércio exterior para solucionar o problema das exportações, segundo Ciro, "é uma empulhação". "Isso tem de ser uma prioridade do governo. É preciso termos um Eximbank (Export Import Bank of The United States, agência oficial de crédito dos EUA a importadores e exportadores)", disse Ciro, segundo o qual a força do Ministério da Fazenda é desproporcional à dos outros. "Aquilo é um trator, o resto é departamento", completou ele.

O candidato afirmou que pretende, em uma possível Presidência sua, equiparar os ministérios em força e importância. "Para mim tem de ser uma orquestra, e aplauso é para o maestro", disse Ciro.

Diagnóstico
Ciro também traçou um diagnóstico dos problemas econômicos do Brasil detectados por ele. Segundo o candidato, o Brasil enfrenta hoje três problemas básicos na economia: estrangulamento do crédito devido à elevada taxa de juros, retardo tecnológico extenso e pequena escala de produção.

"Taxa de juros acima da rentabilidade média paralisa a economia. Se o dinheiro rende mais aplicado, para que investir? Também há retardo tecnológico, que gera menor eficiência produtiva, e baixa escala de produção. Diante das grandes empresas, dos global players, a assimetria competitiva do Brasil é brutal", disse Ciro.

Segundo o candidato, todas as experiências bem sucedidas de crescimento econômico tiveram como componentes um alto nível de poupança externa, parceria entre o setor privado e o público (no Brasil haveria um confronto entre esses dois setores, na avaliação de Ciro), e uma população com alto grau de escolaridade. "Brasileiro não tem nem seis anos de escolaridade média, dá vontade de chorar", disse ele.

O plano de Ciro, se eleito, incluiria reforma tributária, reformulação do pacto federativo (para evitar guerras fiscais entre os Estados), eliminação do déficit externo e reforma política, este último item o mesmo que levou Ciro a acusar a imprensa de persegui-lo.

"Recorrer a plebiscitos não é emparedamento do Congresso, não vejo como um poderia ferir a democracia", disse ele.

No plano tributário, o candidato sugere a unificação de todos os impostos em cinco, um deles com a função específica de estimular a poupança, que funcionaria com incidência apenas na renda gasta. A poupada ficaria isenta.

O novo pacto federativo que precisa ser negociado, na opinião de Ciro, ajudaria a combater a guerra fiscal, cujos motivos o candidato considera legítimos na medida em que as indústrias se concentram muito nas regiões Sul e Sudeste. "Estado sem indústria, se isenta ICMS, não abre mão de nada. Se não isenta, não ganha a indústria", disse o candidato, defendendo o combate da desigualdade econômica.

Horácio Lafer Piva, presidente da Fiesp, respondeu a Ciro. "Você disse que perderia o voto dos paulistas por dizer isso, mas São Paulo não é contra a desconcentração industrial. Estamos convencidos de que, se o Brasil não for para a frente, nós também não iremos."

A desigualdade econômica, segundo Ciro, dá origem a outra desigualdade, a de representação"Sou defensor da idéia de "one man, one vote" (um homem, um voto), agora, sabe quando vai passar a correção deste rumo? Nunca, se nós não tivermos um projeto de desenvolvimento generoso. Como o modelo de desenvolvimento brasileiro é concentrador de renda, as regiões periféricas se protegem superfaturando seu poder político. Todos pensam que o Nordeste é superrepresentado. Não é. O Nordeste é a única região em que vale "one man, one vote"; o Sudeste é subrepresentado, o Sul é razoavelmente representado e o Centro-Oeste e o Norte é que são superrepresentados", completou.

Trabalho e previdência
Ciro Gomes se disse favorável a mudanças na lei trabalhista. "A CLT está anacrônica, precisa ser modernizada. O Lula já disse que a CLT é o AI-5 da classe trabalhadora. O debate está muito contaminado por causa dessa história de flexibilização, influência dos EUA. Como todo mundo quer morar lá, quando os salários estão altos eles facilitam a imigração; quando estão baixos, dificultam a ida de estrangeiros. Isso não acontece aqui, nossa história é diferente, não podemos flexibilizar as relações trabalhistas no Brasil", disse o candidato.

A crise na Previdência Social estaria justamente nisso, segundo Ciro. "A Previdência não está quebrada por gastos, mas por problemas de Receita. De cada 100 trabalhadores brasileiros, 57 não são registrados. O trabalhador evadiu-se, por acordo com o patrão ou involuntariamente, da Previdência."

Além da informalidade, outro problema previdenciário seria a malversação de recursos "Dona Jorgina [Maria de Freitas Fernandes] tomou R$ 100 milhões e só se tomou conhecimento disso pelos jornais. Como jornal só gosta de número grande, as fraudes de R$ 100 mil, R$ 200 mil, não aparecem."

Infraestrutura e energia
O candidato Ciro Gomes pintou um quadro escuro sobre o futuro no que diz respeito a energia, a infraestrutura e a segurança pública. "Em 2004, qualquer que seja o presidente, haverá um colapso de energia. É preciso acrescentar 3,5 mil megawatts por ano aos sistema energético, o que equivale a um investimento de US$ 10 bilhões. Nas rodovias, o próprio DNER define 70% da malha como precária, ou seja, esburacada. A Polícia Federal tem 5 mil homens operacionais para vigiar fronteiras e combater o narcotráfico", disse ele.

Questionado sobre como agirá como presidente em relação à energia, Ciro disse: "Vamos correr atrás do superávit de 5% ou buscar mais energia? Não pode faltar energia".

FMI
Em seu possível relacionamento com o FMI (Fundo Monetário Internacional), Ciro disse que não será nem "bom moço" nem "João Valentão". "O bom mocismo segue a cartilha do Fundo Monetário, que é ruim e a Argentina está aí para provar isso, enquanto o João Valentão quer moratória já, mas essa dívida é a poupança do povo, você estaria lesando a poupança popular. Se a vaca está com carrapato, tem de curar a vaca, não dar um tiro na testa dela para matar o carrapato e ela junto", disse Ciro.

O fato de não seguir a cartilha do FMI não significaria, segundo Ciro, ameaça à estabilidade. "Responsabilidade fiscal, que virou moda ,agora, é minha biografia. Eu fui ministro da Fazenda e pratiquei superávit primário, fui governador do Estado e pratiquei superávit primário. Sou o único caso de administrador público brasileiro que recolheu com antecedência de 15 anos 100% da dívida mobiliária do seu Estado. Saí do governo sem repor um título sequer. Fui prefeito de uma capital que era insolvente havia três administrações e em 90 dias virou a prefeitura mais líquida do país", disse o candidato. Reportagem da Folha afirma que Ciro não resgatou a dívida mobiliária do Ceará.

Forçação de barra
O candidato Ciro Gomes considerou "forçação de barra" as denúncias de que o presidente do PTB, José Carlos Martinez, deve dinheiro a parentes de PC Farias e que seu coordernador Emerson Palmieri aparece no caixa dois da campanha do prefeito de Curitiba, Cassio Taniguchi (PFL). "Não tenho nada a ver com os negócios do sr. José Carlos Martinez. Se houve caixa dois na campanha de Taniguchi, que é do PFL e apóia o Serra, a responsabilidade é dele", disse Ciro. "Vocês [jornalistas] podem forçar a barra, mas o povo não é bobo."

Veja também o especial Eleições 2002
 

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