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Cinta-larga diz que manutenção de reféns é culpa do governo
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KÁTIA BRASIL
da Agência Folha, em Manaus
Um dia após libertar cinco pessoas, incluindo um oficial da ONU (Organização das Nações Unidas), mantidas reféns dentro da reserva Roosevelt (RO), o líder indígena Marcelo Cinta-Larga disse que o protesto foi motivado pelo descaso do governo federal para resolver o conflito na área, detentora de jazida de diamantes e alvo de garimpo ilegal.
"[A manutenção de reféns] Foi a única forma de chamar atenção. Já recebemos várias autoridades na reserva e não teve resultado. É por essa razão que os índios se revoltaram", disse o líder do conselho da etnia cinta-larga.
Por quatro dias, os índios impediram a saída da reserva do espanhol David Martín Castro, oficial do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, do procurador da República Reginaldo Pereira da Trindade, da mulher do procurador, Margarete Geareta da Trindade, do administrador da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Ji-Paraná (RO), Vicente Batista, e do motorista Mauro Gonçalves. Todos foram liberados sem ferimentos e disseram ter sido bem tratados.
Marcelo Cinta-Larga, 27, confirmou que uma operação em curso da Polícia Federal para expulsar garimpeiros da reserva pesou na decisão pelo protesto. "Os índios estão revoltados com a PF porque ela tira nossos direitos. Queremos resolver as coisas pacificamente e só recebemos ameaças de que a PF vai invadir nossa terra. Nós nunca invadimos a casa de ninguém."
A operação da PF estava marcada para 17 de dezembro, mas foi adiada para janeiro, segundo o Ministério da Justiça, em decisão anterior ao protesto. Em 30 de outubro, os cintas-largas divulgaram comunicado ameaçando reagir com violência à ação.
A PF bloqueia desde 2004 o entorno da reserva Roosevelt, para impedir a entrada de garimpeiros. Naquele ano, 29 garimpeiros foram mortos por índios na área, em conflito envolvendo a exploração de diamantes. A reserva de 2,7 milhões de hectares abriga 1.500 índios.
Como contrabandistas do mineral foram presos e indiciados após o massacre, escasseou o dinheiro que os cintas-largas usavam para comprar carros, telefones de satélite e comida.
Marcelo Cinta-Larga confirmou que ainda há garimpo na reserva, com cerca de 200 homens e maquinário na região da grota do Lage. "Quando o índio é preso com diamante, ele se submete a isso por culpa do próprio governo. Prometeram escolas, postos de saúde e a Funai [Fundação Nacional do Índio] aqui está abandonada."
Na próxima semana, em Brasília, lideranças dos cintas-largas têm reunião agendada com o ministro Tarso Genro (Justiça) para discutir as reivindicações impostas por eles para libertar os reféns. Eles querem, por exemplo, a retirada da PF das barreiras montadas no entorno da reserva e a suspensão dos processos contra 23 índios acusados de matar os garimpeiros em 2004, além do fim da exploração ilegal de diamantes em suas terras.
A Funai informou ontem, por meio de sua assessoria, que o presidente do órgão, Márcio Meira, estava viajando e poderia comentar as declarações de Marcelo Cinta-Larga somente hoje. A PF não se manifestou.
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