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09/08/2002 - 07h38

Ciro classifica acordo com FMI como um "desastre"

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RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo, no Rio

O candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes, classificou ontem o acordo que o Brasil fez com o FMI como um "desastre". Ele disse que não compartilha com "a absurda propaganda que parece comemorar o que foi simplesmente um desastre para o nosso país".

A afirmação foi feita durante palestra que realizou no Clube da Aeronáutica, no centro do Rio. Ciro afirmou em seguida, no entanto, que o país não tinha outra saída para sair da crise senão firmar o acordo e que a ausência do empréstimo provocaria "uma brutal e definitiva desvalorização da nossa moeda".

O presidenciável fez um discurso de tom nacionalista para uma platéia composta em sua maioria por oficiais da reserva das Forças Armadas. Sob frequentes aplausos, disse que o país não está preparado para a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), criticou a política de metas de inflação e classificou o neoliberalismo como "ideologia de quinta categoria" que "se vende como ciência".

Ainda sobre o acordo com o Fundo, disse que "estamos [sendo] levados no bico de que seremos salvos pelo dinheiro internacional". Para ele, o país "pratica a cartilha do bom moço internacional" e, mesmo assim, "quebrou três vezes; a última, agora".

"Essa dívida não foi feita para construir casa, para construirmos nosso submarino nuclear, para reequipar a Aeronáutica", afirmou. "Não é possível transformar isso em uma festa. Temos que comemorar que o Brasil aumentou em R$ 30 bilhões a sua dívida", disse o candidato, se referindo ao que acredita ter sido o modo como a imprensa recebeu o acordo.

A dívida, afirmou, foi feita "para financiar a quebra do crédito público e privado". Sobre as metas de inflação, criticou que sejam tomadas como premissa fundamental da política econômica do atual governo e que "tudo o mais tenha que se acomodar àquela variável", ressalvando que "ninguém quer a volta da inflação".

"Podem serrar meu braço, mas eu não concordo em projetar para o futuro políticas econômicas equivocadas", disse o candidato em referência implícita à manutenção dos superávits primários do país nos próximos três anos, como está previsto no acordo.

Aliados de Ciro apresentaram ontem opiniões divergentes sobre o fato de algum dos principais candidatos ao Planalto ser beneficiado pelo novo acordo firmado anteontem entre o governo brasileiro e o FMI. Alguns avaliam que o próprio Ciro será favorecido pelo episódio. Outros disseram acreditar que o anúncio do pacote de medidas não terá peso isolado em nenhuma das campanhas.

Todos são unânimes em apontar, entretanto, que José Serra (PSDB) não será beneficiado.

Afirmam que o comportamento dúbio do tucano, indeciso entre se posicionar como um candidato do governo ou da oposição, impede que ele possa tirar proveito do novo pacote.

Impasses políticos
Ciro Gomes voltou a defender o uso de "plebiscitos e referendos" para resolver impasses entre o Executivo e o Legislativo em um seu possível governo. Segundo ele, um "conjunto de impasses vai se apresentar ao Brasil, e não temos outra alternativa" senão a convocação de plebiscitos.

"Para que os impasses não terminem em golpes de Estado, suicídio, impeachment."

O discurso foi recheado de expressões nacionalistas, muitas vezes recebidas com entusiasmo pelos militares, como "puseram nosso país de joelhos" e "é preciso resgatar a soberania nacional arranhada".

Respondendo a questões específicas da categoria, ele se disse contrário ao uso do Exército para o policiamento ostensivo e afirmou que pretende acabar com o serviço militar obrigatório.

Veja também o especial Eleições 2002
 

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