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30/07/2000 - 10h41

EJ era sócio de negociador com a Encol

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ALEXANDRE OLTRAMARI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira era sócio até dez dias atrás de um ex-diretor do Banco do Brasil acusado de liberar empréstimos irregulares para a construtora Encol.

A sociedade é na empresa DTC-Direct To Company S/A, com sede em Curitiba, no Paraná. De acordo com a Junta Comercial de Curitiba, entre os oito acionistas estão Eduardo Jorge e o ex-diretor de crédito do Banco do Brasil Edson Soares Ferreira, que deixou o cargo em março de 99.

Em depoimento ao Ministério Público na semana passada, o ex-dono da Encol, Pedro Paulo de Souza, disse suspeitar que EJ tenha se beneficiado das operações do BB com a construtora. Pedro Paulo tratou da dívida com Edson Soares por orientação de EJ. "São sócios? Não acredito!", afirmou à Folha o ex-dono da Encol.

Na última sexta-feira, ao ser procurada pela Folha, a DTC apresentou documentos para mostrar que EJ cedeu as últimas ações que tinha na empresa há dez dias. Na Junta Comercial, contudo, ele continua aparecendo como acionista.

Embora a sociedade formal entre EJ e o ex-diretor do BB seja recente, pois ambos tornaram-se acionistas da DTC no final do ano passado, a relação dos dois é antiga. No governo, Edson Ferreira dividia com EJ a tarefa de tentar encontrar uma solução para a Encol, a construtora que faliu em 99 e deixou uma dívida de R$ 210 milhões com o BB.

Cerca de 42 mil famílias pagaram à construtora pelos apartamentos, mas nunca receberam os imóveis. Segundo o Ministério Público, a dívida da Encol com bancos públicos, hoje, é de R$ 1,5 bilhão.

A relação de EJ com o BB, no qual Edson Ferreira ocupava a diretoria de crédito, está sendo investigada pelos procuradores da República.
No início do mês, eles denunciaram à Justiça dez ex-funcionários do banco, como o ex-presidente Paulo César Ximenes e o próprio Edson Ferreira. O Ministério Público acusa a antiga direção do BB de crime contra o sistema financeiro.

Edson é apontado como um dos responsáveis por diversas operações de rolagem da dívida da Encol, a partir de 95, quando a empresa já estava inadimplente. Além disso, segundo a denúncia, ele teria aceitado garantias "insuficientes e inidôneas", como prédios que já estavam alienados em outros empréstimos.

O início da sociedade
A sociedade entre EJ e Edson Ferreira teve início no final do ano passado. Em novembro de 99, quase dois anos depois de deixar o governo, EJ tornou-se dono de 10% das ações da DTC.

Edson Ferreira entrou na sociedade em dezembro do ano passado, já aposentado no BB, com 5% de participação. Detalhe: nenhum deles gastou um real para virar sócio da DTC, empresa que presta serviços nas áreas de televisão por assinatura e Internet.

Nessa época, os dois eram os únicos ex-funcionários públicos numa sociedade que envolvia empresários como Mário Petrelli (dono de emissoras de televisão no Paraná e em Santa Catarina) e Carlos Casagrande Sehbe (dono da corretora Blue Chip).

Desde janeiro deste ano, contudo, a DTC começou a vender ações no mercado. O ex-diretor do BB e EJ continuaram sócios da empresa. Na última sexta-feira, quando a Folha procurou Petrelli para falar da DTC, o empresário disse que EJ não era mais sócio da empresa.

Petrelli entregou ao jornal cópias das ordens de transferência da ações de EJ. Os documentos mostram que a primeira cota, de 5%, foi devolvida por EJ em 6 de junho último. A segunda, também de 5%, foi devolvida em 20 de julho (veja quadro nesta página).

A explicação de Petrelli é que EJ não injetou na empresa os R$ 200 mil que havia se comprometido. Segundo Petrelli, como a DTC é hoje uma empresa de sociedade anônima, não havia necessidade de informar à Junta Comercial sobre a saída de EJ.

"Pela lei, bastava fazer o que nós fizemos: comunicamos a transferência de ações ao banco gestor da empresa", afirmou.

Ao destituir EJ da sociedade, a DTC está seguindo o mesmo caminho do Grupo Meta, do qual o ex-secretário era sócio até a semana passada.
Ao se associar ao Grupo Meta em abril de 1999, EJ também ganhou 10% das ações, avaliadas em R$ 140 mil, mas não investiu um só real na empresa.

"Nenhum tostão"
"Até hoje, ninguém recebeu nenhum tostão porque a empresa ainda está sendo montada. E por que o dois (EJ e Edson Ferreira) juntos? Se houvesse malícia, eu não teria convidado os dois", justificou Petrelli. Ele disse que é amigo de Edson Ferreira desde 1985 e conhece EJ há nove anos. "Ele (EJ) trazia para mim uma expectativa de poder ajudar onde ele tem uma posição boa, que é no conhecimento que tem nessa parte toda de comunicação", disse.

"EJ foi um investidor. Infelizmente, não pudemos tê-lo em nenhuma reunião para discutir a estruturação da empresa", afirmou Carlos Casagrande Sehbe, outro sócio da DTC.

Segundo Petrelli, EJ só foi uma vez a Curitiba. "Ele (EJ) agregaria talento à empresa. E, como a empresa ainda está em fase de montagem, ele não agregou", disse Petrelli. "Eu acredito que, com o tiroteio que ele recebeu, acabou perdendo o interesse (pela DTC)", afirmou.

O único contrato da DTC de que se tem notícia é com o Instituto Tancredo Neves (ITN), do PFL nacional. Por R$ 789 mil, a DTC foi contratada para transmitir, comprar e montar equipamentos da Escola Nacional de Gestores do PFL, que promove cursos de formação de gestores públicos.

Antenas parabólicas e aparelhos de televisão foram instalados em 150 cidades brasileiras. O objetivo do PFL é tentar elevar o padrão de qualidade dos candidatos do partido em todo o país. A primeira teleconferência foi transmitida no último dia 8 de julho. A segunda vai acontecer em agosto.

A assessoria do PFL se diz satisfeita com o serviço que vem sendo prestado pela DTC. "Como a empresa não estava estruturada, nós tivemos que terceirizar alguns serviços", disse o coordenador e acionista da DTC Leonardo Petrelli, filho de Mário Petrelli.

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