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12/08/2002 - 18h47

Leia a parte em que Lula responde às perguntas da platéia

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da Folha Online

Leia a seguir a íntegra da parte da sabatina do presidenciável Luiz Inácio Lula da Suilva (PT) em que ele responde às perguntas da platéia. A sabatina faz parte de um ciclo de encontro com os presidenciáveis promovido pelo jornal Folha de S.Paulo.

Participam da sabatina a editora-executiva da Folha, Eleonora de Lucena, e os colunistas do jornal Clóvis Rossi, Luís Nassif e Gilberto Dimenstein.

Clóvis Rossi: Tem muita pergunta dos leitores, a grande maioria delas são bem melhores do que a que nós fizemos, queria passar diretamente a esse bloco, repetindo que vou fazer a pergunta e pedir para que a pessoa que a enviou se identifique para poder eventualmente ser fotografada. A primeira pergunta é do engenheiro Joaquim Augusto Magalhães. Onde é que está, está aí.
Lula, o mais rápido que você puder responder, são muitas perguntas, temo que não consiga fazer todas. "O senhor tem a intenção de reestatizar algumas empresas que foram privatizadas pelo governo FHC? Ele mencionou estradas de rodagem, elétricas, etc.

Lula: Veja, não é a nossa prioridade. Um país que está quase pedindo concordata como o Brasil, ninguém pode aqui assumir o compromisso e dizer: eu vou ganhar as eleições e reestatizar as empresas, até porque você não tem dinheiro para colocar comida na boca desse povo, como você vai tentar reestatizar ar as empresas?

Agora, tem algumas coisas que eu tenho dúvida.

Eu tenho dúvida com relação ao sistema de privatização das telecomunicações, eu acho que algumas empresas foram...

Clóvis Rossi: O modo como foi feito, não a privatização em si?

Lula: Não a privatização, que eu defendia como setor estratégico. Eu acho que algumas empresas foram mal privatizadas, o governo não levou a sério, eu sonho em permitir que neste país seja construído um sistema intermodal de transporte onde...

Luís Nassif : Com relação a telecomunicações, o que você faria em relação as telecomunicações?

Lula: Veja, é que eu acho que o Brasil poderia fazer parceria para as pessoas virem investir em coisas que faltavam. Nós fizemos as privatizações, as empresas assumiram o compromisso que parte dos componentes seriam produzidos no Brasil, hoje estamos com um déficit comercial de quase 8 bilhões.

Luís Nassif: Posto que na está aí?

Lula: O que já está feito, meu caro, não vou ficar chorando o leite derramado, vou ficar tentando ver se as agências reguladoras ajam com dignidade e respeito ao povo brasileiro. Porque por exemplo, nós, por conta da irresponsabilidade do governo tivemos a questão do corte energético. Ou seja, o povo brasileiro, numa demonstração de extraordinária competência política por si só resolveu economizar, economizou, não gastou energia, não gastou energia.

E depois que termina o apagão, o governo vem e apresenta uma conta para a gente: Bom, vocês vão ter que pagar 20% porque as empresas tiveram prejuízo. Mentira, se as empresas não venderam não tiveram prejuízo. Elas podem ter deixado de ganhar, mas não tiveram prejuízo.

Então nós pagamos duas vezes, pagamos quando fizemos o sacrifício do apagão e pagamos depois porque é preciso o governo pagar para as empresas.

Não é possível.

Então eu vou dizer para vocês que nós vamos discutir algumas, quem sabe a gente vá fazer um processo de investigação, mas nós vamos tocar o barco para a frente e fazer o que falta fazer neste país. Para não ficar remoendo aquele negócio do passado de ficar cutucando. Vamos tentar, sabe, trabalhar 24 horas por dia para ver se a gente consegue fazer o povo brasileiro recuperar a auto-estima de ser brasileiro e acreditar que este país pode dar um salto de qualidade, sabe, extraordinário.

Clóvis Rossi: Pergunta agora da Luiza Rebouças, que mandou duas perguntas, eu vou fazer uma agora, se der tempo vou fazer a segunda mais tarde.

"Por que não manter Armínio Fraga como presidente do Banco Central, não seria conveniente ter alguém com livre acesso ao mercados em um governo petista?"

Lula: Só se o José Serra ganhar as eleições. Não tem, não tem. Veja, primeiro eu acho que o Armínio Fraga é uma pessoa, toda vez que eu tenho assistido ele em depoimentos na Câmara dos Deputados, na comissão do Senado, ele tem demonstrado ser uma pessoa tecnicamente preparada, agora nós temos muita gente no Brasil igual ao Armínio.

Gente com pensamentos mais próximo de nós do que ele.

Então, obviamente, que nós vamos tentar ganhar para mudar.

Luís Nassif: O que seria o pensamento mais próximo de vocês...

Lula: A mudança do Banco Central para nós é importante. Inclusive.... O Conselho Monetário Nacional que se reúne tão pouco neste país porque hoje o Copom é apenas a burocracia do Banco Central, não tem empresários, José Alencar. Não tem empresário mais. Antigamente tinha até sindicalista, Luiz Marinho, hoje não está mais no Conselho Monetário Nacional, o ministro da Fazenda, o presidente do Banco Central, ou seja, decidem as coisas no Brasil sem que a gente, sabe, então nós queremos envolver mais gente da sociedade, inclusive gente da produção para a gente discutir melhor os destinos da política econômica brasileira. (aplausos).

Clóvis Rossi: Pergunta de Joaquim, já fez uma vou passar para outra. Ângela Luiza Bonossaí. Onde está a Ângela? Não está, em todo o caso a pergunta é a seguinte: "Como convencer uma pessoa a votar no senhor quando ela teme a sua aproximação com Fidel castro e Hugo Chavez da Venezuela?" (risos).

Lula: Olha... eu tenho hoje e espero ter amanhã uma relação política com todos os países do mundo.

Acho que o Brasil precisa ter relações democráticas com todos os países, independentemente da coloração ideológica desse ou daquele presidente da República ou daquele governo, não cabe a nós fazermos julgamento porque nós respeitamos uma coisa chamada autodeterminação dos povos. Cada país decide do jeito que melhor entender.

Ora, eu espero, eu pensei que a companheira ia falar: puxa... pedir, mandar votar em você se você está ligado a um bandido, a um corrupto, não, ao Fidel Castro.

O Fidel castro, se ele tiver que fazer alguma coisa vai fazer por Cuba, com o Brasil nós temos que fazer para nós.

Eu acho que a minha relação com o Fidel Castro poderia até ser um motivo para alguém votar em mim neste país. Eu estou convencido disso. (aplausos).

Clóvis Rossi: Pergunta do professor Roberto Romano, onde é que está o Roberto Romano? Não enxergo nada daqui. Oi Roberto, tudo bem? São várias, vou fazer só a primeira, Roberto, senão não dá tempo. "Governos eleitos na América do Sul enfrentam pesadas críticas da imprensa as quais tentam responder com atitudes respectivas, isso ocasiona choques que chegam a ameaçar a estabilidade institucional como no caso da Venezuela. Qual será a sua política para a mídia internacional e brasileira, como pretende vossa senhoria se relacionar com os formadores de opinião?

Lula: Permita chamá-lo Roberto, eu tive a oportunidade de, estando com o Chavez, dar um conselho ao Chavez, disse que conselho se fosse bom a gente não dava, a gente vendia, mas como eu estava com ele eu tive a oportunidade de dar esse conselho para ele, o Chavez é um jovem de 40 e poucos anos, tem a sua formação iminentemente militar, ele não é um político na essência da palavra. A Venezuela não tem partidos como tem no Brasil, não tem sindicato como tem no Brasil, não tem sequer uma igreja progressista como tem no Brasil, é um Estado de instituições mais frágeis, onde a empresa de petróleo consegue até derrubar um presidente da República. .

Então, eu disse ao Chavez: Olhe Chavez, eu acho que é preciso acertar na política, ou seja, esse negócio do presidente da República ficar dizendo que não conversa com A, com B, não cabe ao Presidente da república dizer que não conversa, ele é presidente de todos. Então você precisa conversar com todo mundo. Eu, quando cheguei lá, no dia que eu cheguei lá, tinha uma turma batendo panela contra ele e outra turma soltando rojão, foguete a favor dele. Eu falei: isso aqui é impossível. Ou seja, é preciso criar um canal de conversação com a sociedade e restabelecer, sabe, a tranqüilidade para você não poder executar a sua política social que você sonha. Uma coisa, Roberto, grave que aconteceu na Venezuela, porque o movimento estava muito nervoso lá, uma das coisas que mais mexeu com a elite venezuelana foi, primeiro a questão da terra, ou seja, quem tinha mais de 5.000 hectares de terra, ou seja, não queria passar por um recadastramento, tinha muita gente que tinha terra como no portal do Parapanema, que o Montoro tentou recuperar as terras em 92, tem muita gente que é dono de terra ilegalmente, ele tentou fazer isso e as pessoas se rebelaram. A questão da pesca, ou seja, ele proibiu a questão do arrastão, quando passa a rede imensa no fundo do mar, aquilo acaba com a fauna, ou seja, ele queria que prevalecesse a chamada pesca artesanal. Essas foram as razões maiores do ódio contra o Chavez. Eu disse para ele: Chavez, não tem jeito, ou você estabelece uma negociação com a sociedade, com os empresários, mesmo com aqueles que são mais duros contra você, com os donos dos canais de televisão com os donos dos jornais para que se estabeleça a possibilidade de governar este país. Ninguém vai conseguir viver nessa tensão a vida inteira.

Agora, você sabe que essa não é a minha horta. Eu sou tão negociador que em 1975, quando Petrônio Portela disse: vai começar o processo de negociação, me chamou, tinha muita gente que dizia: Lula, não vá.

Eu falei: Eu vou. Por que você vai? Porque eu tenho o que dizer. Eu fui lá. Então a minha vida inteira só fiz isso, sabe, fazer acordos, fazer negociações (...) Em outros tempos, o que aconteceria, Roberto?

Um dirigente sindical correria e iria para outro país. O que eu fiz? Como eu não era politizado, o que eu fiz?

Eu cheguei ao sindicato, vi a manchete da Folha, liguei para o comandante do segundo Exército, eu falei: O senhor recebeu o Vidigal, eu quero ser recebido. Fui lá, conversei 3 horas com ele e cumpri o que ele disse para mim. Fiquei no sindicato e o Exército não se meteu nas nossas greves. Depois então veio o Miltinho, e botou o Exército para bater na gente.

Mas eu acho que no Brasil nós não temos nem essa cultura, nossa sociedade é mais organizada, acho que os sindicatos estão mais preparados, sabe, então eu acho que nós não temos nenhum problema de ter algo assimilar aquilo lá. Até porque se o cara não quiser conversar comigo eu vou em cima dele para conversar.

Clóvis Rossi: Ainda bem que é para conversar. A pergunta de Piero Furlan: "Se eleito presidente o senhor aprovaria o projeto de união civil entre homossexuais?

Lula: Veja, primeiro eu sou favorável ao projeto apresentado pela Marta Suplicy. Eu acho que se vendeu uma idéia falsa, atrasada, retrógrada, conservadora que não é possível que a gente construa uma sociedade justa, solidária e fraterna com tanto preconceito.

O que diz a lei da Marta?

Olha, a lei diz o seguinte: duas pessoas vivem juntos , e nós sabemos que tem muita gente que vive junto, tem muita mulher que vive junto com outra mulher, tem muito homem que vive junto com outro homem, nós tivemos por todo o lugar neste país, o que a Marta propõe?

No caso da ausência de um, no caso de morte, ou seja, o parceiro então é o herdeiro daquilo. Isso é mais do que o normal. O que eu acho hipocrisia é uma família negar a união das pessoas e quando morre um vão querer herdar o que a pessoa produziu. É hipocrisia pura. (aplausos).

Então... eu há muito tempo aprendi na minha vida que a gente não pode querer que as pessoas sejam como a gente gostaria que elas fossem. Nós precisamos ter consciência de que o importante para a gente é gostar das pessoas como elas são.

E eu acho que nós temos muita coisa no Brasil para ser consertada, que preocupa muito mais do que isso.

Clóvis Rossi: Pergunta de Márcio Alexandre Silva diz respeito diretamente a Folha de S.Paulo: "Você acha a... o Márcio, por favor. Você acha a cobertura da Folha nas eleições isenta ou demasiadamente dura com você e seu partido?

Lula: Não, o problema da Folha com o PT é um caso meio complicado porque... (risos). Porque quando a gente vem aqui na Folha reclamar, toda vez que eu tenho oportunidade eu reclamo a Folha fala: todo mundo reclama.

O problema da Folha é que eu acho que o cara é melhor remunerado na Folha de S.Paulo é o cara que bola a manchete. Porque eu já sofri 20 anos atrás, porque às vezes a manchete é muito picante, e você vai ler o texto, não tem nenhuma razão para aquela manchete. (aplausos). A Folha tem uma coisa ruim na minha opinião que mexe muito com o PT que é o seguinte, para os petistas mais politizados, uma notícia no painel tem mais importância do que uma notícia no jornal nacional. O pessoal lê muito o painel da Folha de S.Paulo, pelo menos no PT. Uma futriquinha no PT no painel, estou dando uma dica, quem sabe vai sair mais futrica.

Clóvis Rossi: Obrigado.

Lula: Como estamos naquela fase de que fale mal, mas fale de mim, pode falar no PT. Eu aprendi a não ficar..., já briguei muito com a imprensa, não estou mais a fim de brigar com a imprensa não.


Leia as íntegras:
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