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12/08/2002 - 19h23

Leia a 2ª parte em que Lula responde a perguntas da platéia

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da Folha Online

Leia abaixo mais uma parte da sabatina de Luiz Inácio Lula da Silva em que ele continua respondendo a perguntas da platéia que compareceu à primeira sabatina da Folha com os presidenciáveis. O evento ocorreu no Shopping Higienópolis, em São Paulo, nesta tarde.

Clóvis Rossi: Por falar em falar mal, a pergunta do Anselmo Mantovani fala bastante mal. "Gostaria que você explicasse para nós qual é o seu segredo. Você não tem emprego há muitos anos, não tem empresa, não é deputado e nunca exerceu cargo político algum. Ensina aos brasileiros...Como você se mantém? De onde você tira dinheiro para sua sobrevivência e quem está te bancando todo esse tempo?"
Lula: Isso é coisa que mais me dá orgulho. É que possivelmente eu seja o único dirigente partidário que não precisa arrumar um caixa 2 para me sustentar. Eu recebo salário do meu glorioso Partido dos Trabalhadores. (aplausos) Registrado em carteira. (aplausos)
Registrado em carteira profissional com contribuição de previdência social, de fundo de garantia por tempo de serviço e não sei até quando o José Dirceu vai querer que eu viva assim. Agora é mais digno viver assim porque quando eu fui deputado, por exemplo, eu além de ser deputado eu pagava a previdência social por uma aposentadoria que nós tínhamos construído quando fomos cassados em 1980. Os 4 anos que fui deputado eu paguei o INSS por essa aposentadoria chamada 12 de maio e tenho orgulho disso. Então seria muito melhor eu estar registrado numa empresa qualquer com aquela carteira fria, sabe, recebendo uma quantia de tanto e dizer que só ganhava tanto.
Então eu acho, meu caro, que se tem uma coisa que eu quero ajudar a sociedade brasileira a fazer é o seguinte: nós não temos que ter vergonha daquilo que a gente faz, se a gente faz corretamente. E eu estou no PT porque o PT está no meu sangue e enquanto eu estiver fazendo política eu vou ficar no PT. Enquanto o PT resolver que eu sou importante, o PT me paga. Eu sou, eu acho que tenho uma certa importância para o PT, eu ganho menos do que qualquer jogador de bola de segunda divisão aí. O PT precisa aprender a valorizar mais o meu passe; ô, José Dirceu.
Clóvis Rossi: A entrevista não incluía pedido de aumento salarial ao vivo e em cores. Ronaldo Usandori. Quem é? "Na sua visão quais os pontos em que o atual governo agiu corretamente e se o seu governo pretende dar continuidade?"
Lula: Veja, eu acho que o presidente Fernando Henrique Cardoso teve como ponto máximo a questão da estabilidade. Que na minha opinião ele começou a perder a partir de 1996 quando não seu o segundo passo.
Eu acho que a estabilidade foi um valor muito grande que a sociedade brasileira conquistou e que possivelmente o governo tenha pensado no real apenas eleitoralmente e não pensado em continuação. Depois eu acho que o presidente cometeu um segundo erro grave que foi não entender a necessidade da mudança na política cambial no tempo certo, antes do mercado...
Gilberto Dimenstein: Não teria mais nada a ser mantido no seu governo? A bolsa escola, por exemplo.
Lula: A bolsa escola nós vamos fazer melhor, a nossa experiência nas cidades que nós governamos é que a gente faz mais e melhor. Obviamente que nós vamos criar as condições. Eu confesso o seguinte, olha, o país que eu sonho, eu acho que um dia a gente vai ter um país em que o povo não vai precisar de muita coisinha assim, sabe? Vale gás, vale isso, vale-tudo, tudo isso é importante como políticas compensatórias.
Luís Nassif: Renda mínima não?
Lula: Mesmo a renda mínima, você vai ter feito uma parcela de gente muito pobre em qualquer país do mundo. Agora, veja, nós vamos manter todas essas políticas mas ir criando as condições para que as pessoas possam ter o emprego e com seu emprego as pessoas possam sobreviver. Eu tenho dito para todo mundo o seguinte, não tem nada que dê mais orgulho a um homem do que uma mulher do que eles trabalharem e no final do mês receber o seu salário, poder entrar numa loja, num supermercado e comprar alguma coisa. Sabe por quê que eu falo isso?
Porque eu lembro do natal de 1955, que eu morava em Santos. Naquele tempo não tinha a quantidade de favela tem hoje. Eu lembro da minha mãe ficar das 5 h da manhã, às 2h da tarde, para eu ganhar um presente da Prefeitura. E eu fiquei na fila até 2h da tarde, quando chegou a minha vez acabou o presente.
Então eu acho que as pessoas que ficam numa fila esperando isso, sabe, a pessoa necessita, mas eu acho que não dá orgulho na pessoa, não é uma coisa que ela faz com prazer, ela gostaria de ver de outro jeito. Eu quero ver se a gente consegue, no futuro, sabe, criar um outro tipo.
Luís Nassif: Lula, além de responsabilidade fiscal qual é a sua posição em relação a ela? Você é a favor da manutenção da lei?
Lula: Eu acho que num país que todo mundo fosse sério você não precisava ter uma lei de responsabilidade fiscal. Imagina que há uma lei: a lei dos maridos sérios. Não precisava. A gente tem que ser sério. Lei de responsabilidade fiscal...
Gilberto Dimenstein: Essa vai ser duro, viu, Lula.
Lula: O PT criou o orçamento participativo, que é um passo extraordinário para a gente ter responsabilidade fiscal. Mas eu acho que a gente tem que manter e tem que cumprir ela. O PT inclusive procura recursos, propôs recursos...
Luís Nassif: O José Genoíno coloca que um dos pontos da plataforma dele vai ser renegociar a dívida do Estado de São Paulo com a união. Você, como presidente da República, e ele como Governador, você aceitaria essa... (risos).
Lula: Não apenas o Genoíno. Ontem eu vi o debate e vários candidatos falaram que querem renegociar. Por isso que o PT entrou com o recurso no Supremo Tribunal Federal, é porque aconteceu alguma coisa engraçada nessa lei, ou seja, essa lei foi feita, ela entra em vigor punindo os Prefeitos que tomaram posse a partir de janeiro de 2003, de 2001 e ela isenta aqueles que praticaram a mal versação do patrimônio público que saíram.
E algumas prefeituras ficam, estão pagando muito. O que eu disse? Nem você pode anunciar que vai renegociar toda a dívida, mas também o presidente da República não pode dizer que não vai analisar situações por situações, principalmente dos principais Estados que estão em situações difíceis, daí que você pode até em alguma situação fazer um novo acordo. Não tem nenhum problema. Isso não tem nenhum pecado capital.
O Malan não é dono da verdade absoluta, que o que ele fez é imutável. Até o casamento que a gente jura na frente do padre, vou casar, outra religião é outra religião não na frente do padre, a gente fala: bom, vou amar a vida inteira, na doença, na saúde não sei das quantas. Três meses depois está separado. Por que a lei é obrigada a ser imutável se está cometendo erros contra essa ou aquele administração.
O que nós precisamos é ter consciência que em alguns casos se for necessário negociar cabe ao presidente da República.

Gilberto Dimenstein: Você não tem medo do estouro da boiada?
Lula: Não tem medo, que estouro de boiada, meu caro. Eu sou tocador de berrante. Pode deixar que eu vou manter. (aplausos). Vou manter a boiada equilibrada sem nada para assustá-la pode deixar.
Clóvis Clóvis: Tem uma pergunta da Eliza Marina da Silva, Eliza,





Clóvis Clóvis: Tem uma pergunta da Eliza Marina da Silva, jornalista de Mogi das Cruzes. "Diante do atual quadro de pesquisas como ficaria o Estado de São Paulo com um governo petista na Presidência da República e Maluf no governo de São Paulo, seu antigo rival político?. E se o Maluf também quiser renegociar a dívida de São Paulo?

Lula: Veja, imagina se eu fosse aqui dizer para você aquilo que os militares diziam na década de 70: não, tem que votar no mesmo deputado do partido do governador, tem que votar não sei de onde, no prefeito do mesmo partido, no Governador, não é possível. Democracia é isso. Democracia é a arte da convivência com a diferença.

É a convivência democrática na diversidade. Não tem nenhum problema de você ter um governador de direita num Estado, um governador de esquerda no outro, um presidente da República de outro partido, não tem nenhum problema.

Clóvis Rossi: Não tem nenhum problema São Paulo ser governado por Paulo Salim Maluf?

Lula: Tem, eu gostaria que fosse pelo Genoíno, agora se a maioria do povo de São Paulo votar no Maluf, esse povo merece tanto o respeito quanto o outro.

Quem sabe o erro, quem sabe a virtude não seja do Maluf que está na frente, quem sabe o erro seja nosso de não estarmos quem sabe convencendo a maioria a votar em nós. Vamos trabalhar, faltam muitos dias para as eleições.

Eu acho que nós temos que estabelecer uma política de convivência com todos os governadores, com todos os prefeitos, independentemente do partido a que ele pertencer. Democracia, meu caro, é isso, salada de fruta só é bom porque tem várias frutas ao mesmo tempo, se fosse só de mamão não era salada de fruta, era o mamão.

Clóvis Rossi: Pergunta do Carlos Antônio dos Santos Júnior. "O que o senhor pensa a respeito da intervenção do governo federal nos Estados em que o Estado não venha obtendo êxito na segurança pública. Se for contra, qual a alternativa proposta?

Lula: Olha, primeiro o Governo Federal não tem nenhuma autoridade moral para intervir no estado que não está aplicando bem políticas de segurança pública porque o Brasil não tem política de segurança pública. (...)
Sabe por que gente, olhem, eu até queria aconselhar vocês o verem, está passando um filme aí chamado "Cidade de Deus", do Fernando Meirelles, que é de um livro, de um autor chamado Paulo Lins que foi morador da Cidade de Deus. Eu assisti a esse filme esses dias no Centro Cultural Vergueiro, Fernando Henrique Cardoso assistiu domingo.

Clóvis Rossi: Mais alguma coisa em comum.

Lula: Eu queria que vocês prestassem atenção no seguinte, há um equívoco enorme na lógica da discussão da segurança pública hoje no Brasil.

Agora se inventou a palavra mágica, todo mundo fala polícia inteligente. Todo mundo fala.

Deixa eu falar uma coisa, nós precisamos dar dois tratamentos, primeiros nós precisamos sabe, de ter uma polícia mais eficaz, uma polícia que esteja mais na rua, uma polícia que seja inibido ora de determinadas práticas criminosas. Também melhor remunerados.

Eleonora de Lucena: A polícia pode fazer greve?

Lula: Eu vou lhe falar, deixa eu responder senão, vai querer que eu decrete uma greve aqui se eu não respondi a pergunta ainda. Eu acho que nós precisamos de uma polícia, inclusive nós temos a idéia de criar uma política, uma política de segurança única no Brasil, nós temos a idéia de unificar salarial aumento as pessoas. Nós temos a idéia, está no nosso programa escrito de criar presídios subordinados ao Governo Federal para crimes de narcotráfico, 'colarinho branco' e crime organizado. Mas sobretudo, o Rossi, nós temos que nos preocupar com o seguinte, ou seja, se você de um lado vai cuidar de quem já está na bandidagem, você precisa quase que construir uma comporta para evitar que outros venham e a nossa criançada, os nossos adolescentes estão órfãos de pai e mãe.

Nós fomos fazer um seminário sobre a delinquência juvenil em Belo Horizonte e um professor da Universidade Federal apresentou um trabalho que mostra o seguinte: onde que tem maior incidências e onde cresce mais a delinquência juvenil?

Exatamente nos bairros periféricos mais longes, mais pobres, onde não há políticas públicas, nem de saúde, nem de educação, nem de lazer, nem de esporte.

E também não tem polícia.

Então, o que nós precisamos fazer?

Primeiro, nós precisamos mapear corretamente cada região e onde tiver a maior incidência de violência nós temos primeiro que fazer políticas públicas, eu acredito que com uma polícia mais competente você tem que ter uma política social mais competente.

Luís Nassif: Você está falando de município...

Lula: Nós estamos fazendo uma combinação entre governo federal, governo municipal e estadual, municipal. O grande feito do presidente da República, sabe qual é Nassif?

O grande feito é ele ter a capacidade de ser o articulador de uma política entre os 27 governadores de Estado.

E ao mesmo tempo, entre os Prefeitos das cidades consideradas regiões metropolitanas que é onde está a maior incidências de crimes.

Então eu acho que nós temos que fazer, o Gilberto Dimenstein, um grande investimento na questão, primeiro do emprego, depois na questão cultural, depois na questão da educação, depois na questão do esporte e do lazer.

Gilberto Dimenstein: O senhor daria uma bolsa para os jovens... tipo bolsa escola para....

Lula: Inclusive daria oportunidade de emprego, fazendo com que ele trabalhasse nem que fosse meio período prestando algum serviço à comunidade, ensinado as crianças menores a, no reforço escolar, ensinado prática de esporte, porque ou nós fazemos isso agora e isso fica muito mais barato, ou nós amanhã teremos que construir cadeia que fica muito mais caro. Eu vou dar um dado para vocês, o governador Mário Covas, uma das últimas aparições dele, por ocasiões de uma invasão na Febem, o Mário Covas dizia que Estado de São Paulo gastava 1.800 reais para manter uma criança na Febem.

É um erro imaginar que você pode recuperar uma criança na Febem dissociada da relação com a sua família. O papel do Estado não é o de prender é de saber em primeiro lugar a origem daquele jovem chegar a delinquência juvenil. E quem sabe a gente tem que cuidar da família, e não do jovem. E quem sabe ficaria muito mais barato ao invés de gastar 1.800 reais com aquele jovem, a gente gastar 300 com 6 famílias cada uma, daria 1.800, se a gente co-responsabilizar a família para ajudar a recuperar o jovem e o jovem co-assumir a responsabilidade para ajudar a recuperar aquela família. Eu estou falando-se de uma coisa que vou dar uma experiência agora. São Bernardo do Campo, outra vez, São Bernardo do Campo os metalúrgicos da Volkswagen, isso é um dado importante porque os metalúrgicos da Volkswagen estão dando a última hora de trabalho deles, por ano, a última hora do ano, eles estão dando para uma coisa chamada Centro Cultural Solano Trindade. Esse centro pegou 50 crianças pobres em São Bernardo do Campo e aí começou a estudar essa criança e percebeu que o problema estava na família. Uma parte não queria voltar para a família. Então o que o sindicato fez?

Adotou também a família, dá um salário de 150 reais para a família, mantém a criança numa escola fazendo, aprendendo, estudando ou fazendo esporte, fazendo música, o que eles quiserem fazer e está ajudando a recuperar a família, criando condições das mulheres se organizarem em cooperativas para que essas crianças, essas mulheres possam, amanhã, se harmonizarem com seus filhos. É assim que deveria proceder o Estado.

E eu acho que fazendo assim a gente pode sonhar que daqui a 10 ou 15 anos a gente vai ter uma geração menos violenta do que nós temos hoje em função da falta de expectativa e da falta de esperança da sociedade.

Eleonora de Lucena: O senhor não respondeu, greve (na polícia) pode ou não pode?

Lula: Olha, deixa eu te falar uma coisa de greve. Vou lhe falar uma coisa, o PT surgiu por conta disso. Sabia? Em 1978 o (presidente Ernesto) Geisel resolveu criar uma coisa chamada categorias essenciais. E foi por conta da criação das categorias essenciais que eu fui a Brasília brigar com o governo e lá eu descobri que não tinha ninguém dos trabalhadores e resolvemos criar o PT.

Agora veja, eu acho que tem que ter categorias essenciais, tem que ter categorias, sabe, como a polícia, tem que ter categorias como educadores, tem categoria como médico, que necessariamente não precisam fazer greve.

Agora, veja, Eleonora, o que é importante, se eu defino, enquanto Estado, que uma determinada categoria é essencial para o efeito de greve, eu tenho que considerá-la essencial para efeito de remuneração e das condições de trabalho. (aplausos). Se eu não considerar, sabe... se eu não considerar isso, mesmo tendo uma lei proibindo fazer greve, a greve vai acontecer.

Eleonora de Lucena: Você é favorável a essa... proibição de greve no setor essencial?

Lula: Não, meu amor, vou negociar com essa eminente gente, você vai cobrir muita matéria.

Clóvis Rossi: Você mesmo disse que os teus filhos pedem as coisas e você não pode.... Você não pode dar. Aí... a polícia vai pedir as coisas, vai achar sempre que o salário é menor do que eles pretendem e de repente fazem greve.

Lula:Não vamos fazer uma caricatura disso, veja, eu sou contra a lei proibir a fazer greve.

Gilberto Dimenstein: Isso não é caricatura.

Lula: É, deixa eu lhe falar uma coisa. É plenamente possível que em algum momento, em algum lugar no mundo e mesmo no Brasil, uma determinada categoria que pela lei não poderia fazer greve possa fazer greve. É um estado de exceção que você tem que tratá-lo como estado de exceção.

Não é regra. É uma exceção e você vai tratar de acordo com o estado de exceção.

O que nós poderemos, e aí nós pretendemos, é por isso, meus amigos e amigas, que entre as reformas que eu quero fazer, uma delas é a estrutura sindical brasileira e a questão do direito trabalhista, para a gente repor porque ela vem, sabe, de 1943, portanto já faz 60 anos, e não é possível que com uma terceira revolução tecnológica a gente não tenha uma mudança na estrutura sindical e na legislação trabalhista. Como é que nós vamos fazer?

Não vai ser imposição de nenhum intelectual de direita ou de esquerda, vai ser resultado, meu caro (sindicalista Luiz) Marinho, de negociação com os trabalhadores e com os empresários.

Aí vamos fazer uma adequação da estrutura sindical... da legislação trabalhista, dos direitos e deveres de cada um de nós para que o Brasil, ordenadamente, possa dar um passo adiante.

Leia as íntegras:
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