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15/08/2002 - 16h25

Sabatina Garotinho: Leia 2ª parte das perguntas dos jornalistas

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da Folha Online

Leia abaixo a íntegra da 2ª parte da sabatina do candidato Anthony Garotinho (PSB), com mais perguntas dos jornalistas. Nesse trecho, Garotinho fala do acordo com o FMI e sobre as propostas que irá levar ao presidente Fernando Henrique Cardoso no encontro que terão na segunda-feira.

Participam da sabatina Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha, Clóvis Rossi e Gilberto Dimenstein, colunistas e membros do Conselho Editorial do jornal, e Marcelo Beraba, diretor da Sucursal do Rio de Janeiro da Folha.

Clóvis Rossi: De todo o modo, governador, essa situação de instabilidade, os fundamentos deteriorados da economia brasileira não se revertem de um dia para o outro. O senhor vai assumir, ou qualquer presidente que venha a assumir terá uma situação de pressão de tudo quanto é lado, exatamente por esses fundamentos. Então falar que vai aumentar as exportações, tudo bem, todo mundo está falando, mas isso não se faz da noite para o dia. Você vai enfrentar, qualquer que seja o presidente, uma situação de emergência. Diria até de emergência nacional a partir de primeiro de janeiro, ou 6 de janeiro se mudarem a data da posse. Eu quero saber, nessa emergência, o que o senhor faz. E nessa negociação com o FMI há pelo menos 3 pontos que estão colocados, e segundo Armínio Fraga, não há pegadinhas nele, superávit primário de 3,75% no PIB, metas de inflação que foram reformadas agora, mas estão constando do acordo e escapou o terceiro item, mas enfim esses dois. Na sua negociação com o Fundo se mantém isso?
Eleonora de Lucena: Tem a questão das reservas
Garotinho: A questão das reservas que sou contra.
Eleonora de Lucena: O desenho é um quadro bastante complicado. O que o senhor faria concretamente.
Garotinho: Não podemos enganar a população brasileira. A situação é difícil. O que se faz a curto prazo? É se administrar a situação. Quando eu assumi também, a gente tem que falar da experiência prática. A palavra era: não chega a março. (Marcelo) Beraba se lembra disso no Rio de Janeiro. Vai quebrar, vai quebrar. Não chega a março, não vai ter dinheiro para pagar sequer o salário do mês de março. Eu fui administrando porque eu levei 9 meses para fechar o novo acordo da dívida do Rio. Foram 9 meses de negociação com o senhor Pedro Malan, Amauri Bier, Fábio Barbosa e toda a equipe do Tesouro Nacional. Não esperem que nenhum presidente sente ali e resolva as coisas em 2 meses. Ninguém vai resolver em dois meses.
Gilberto Dimenstein: Você está prometendo em 2 meses aumentar o salário mínimo numa porcentagem que só vai aumentar o déficit.
Garotinho: 2 meses não, maio, primeiro de maio de 2003.
Gilberto Dimenstein Não seria uma ilusão vender, numa situação como essa, de crise, de arrocho, de evasão de divisas, prometer o aumento do salário mínimo numa sociedade?
Garotinho: Absolutamente. Isso faz parte do nosso plano estratégico, por quê? Quanto o país gastou no ano passado com pagamento de juros e amortização da dívida ao sistema financeiro? 108 bilhões de reais. O aumento do salário mínimo, a incidência dele sobre a previdência e sobre os ganhos indiretos, aqueles benefícios da previdência é de 21 milhões. Cada pontinho que você desce na taxa de juros o país economiza 5 bilhões de reais, então você pode perfeitamente com medida indutora, por fortalecimento do mercado interno brasileiro e para fazer a distribuição de renda. Como você acha que distribui renda? Você que eu leio nas suas alunas colunas é um grande defensor da distribuição de renda. Você acha que algum presidente pode fazer distribuição de renda por decreto?
Gilberto Dimenstein: Nem aumentando o salário mínimo sem ter recursos para...
Garotinho: Tem recursos. Reduz a taxa de juros e o lucro do sistema financeiro e você tem recurso. Acontece que isso é uma decisão política. Essa conversa é velha, Gilberto. Você é um homem inteligente, você sabe que quando foi feita a abolição da escravatura no Brasil aqueles que se diziam os economistas da época, você sabe o que eles diziam? Que não podia ser feita a abolição da escravatura porque aumentaria o custo da agricultura brasileira. Porque os brasileiros seriam escravos até hoje. Por essa visão elitista, conservadora, o Brasil tem hoje um salário mínimo menor do que o Paraguai. Isso é conversa. Nós não podemos cair nessa armadilha. A decisão de aumentar o salário mínimo não é uma decisão econômica só, é uma decisão política. É uma necessidade para que o país tenha uma sociedade com níveis melhores do que esse que nós estamos vivendo, que são níveis vergonhosos. (...) O governo não baixa (as taxas de juros) por uma questão de prioridade. Você escolhe as suas prioridades.
Gilberto Dimenstein: O crescimento é prioridade de qualquer governante. Qual governante não quer que o país cresça, distribua renda, aumente salário.
Garotinho: Com toda a sinceridade, se fosse não teria feito isso. A média da taxa de juros dos países emergentes, no mundo, a média é de 3,1%. Taxa de juros real descontada a inflação. A taxa de juros real no Brasil, descontada a inflação, é de 10%. Então há uma margem enorme para diminuir a taxa de juros. Se você diminuir 3 pontos ainda fica sendo o dobro da média dos países emergentes.
Eleonora de Lucena: O senhor não tem receio de que essa redução da taxa de juros afaste o capital externo? E o senhor não tem receio das consequências, digamos, dessa política? Eu insistiria na pergunta que não teve resposta sobre a sua posição em relação aos Estados Unidos, vai ter uma atitude mais antiamericana do que o atual governou, ou não?
Garotinho: Eu respondi, vou ter uma atitude patriótica em função do interesse nacional. Não vou me confrontar com os Estados Unidos, nem com o Japão, nem com a Rússia> Eu tenho, como presidente do Brasil, que defender o interesse dos brasileiros. É para isso que eu sou eleito. Esse é o papel do presidente da República. (aplausos).
O papel do presidente da República não é defender o interesse da Coréia nem de Cingapura. O papel é defender o interesse das suas empresas, do seu povo. Esse é o papel, não vou fazer política de confrontação com ninguém. Eu tenho que defender os interesses dos meus cidadãos, daqueles que vão me eleger. Segundo ponto, não arrisco, se eu estou dizendo que a taxa de juros, descontada a inflação, a taxa de juros real é hoje de 10% contra a média dos países emergentes, de 3%, ainda diminuindo 3, 4 pontos nós ainda seremos mais atraentes do que outros países.
Clóvis Rossi: É que nós precisamos de mais capital externo do que os outros países emergentes para cobrir o buraco que você mencionou.
Garotinho: Sim.
Clóvis Rossi: Essa relação não é lógica.
Garotinho: Importante é o seguinte, mesmo assim continua sendo o dobro. Que venha, eles só vão ganhar menos. Só vão ganhar menos.
Eleonora de Lucena: O senhor acha que não vai haver fuga?
Garotinho: Não, com certeza, hoje o capital não está buscando apenas lucro fácil, está buscando segurança. Hoje o que faz aumentar o risco-país e a fuga do capital é a insegurança porque os fundamentos da economia brasileira, leiam os artigos que são publicados nos jornais americanos, nos jornais ingleses, especializados em economia. Todos eles estão anunciando que país passa uma fase muito difícil e que não há clima para os investidores no Brasil.
Clóvis Rossi: Todos eles, eu leio diariamente, dizem também que em parte, alguns dizem em grande parte, essa insegurança recorre do cenário eleitoral e do fato de que 3 dos candidatos são de oposição, sendo que 2 deles estão à frente na pesquisa.
Garotinho: Faz o seguinte, suspende a eleição e coloca o (José) Serra lá. Seria o único jeito de continuar tranqüilo.
Clóvis Rossi: São eles que...
Garotinho: Isso é desculpa.
Clóvis Rossi: Você acha que é desculpa, acha que a incerteza eleitoral não tem nada a ver com isso?
Garotinho: Nunca vi investidor fazer pronunciamento contra ele. Eles fazem: .
Clóvis Rossi: Nem candidato.
Garotinho: Sim, sim. Então eles fazem os pronunciamentos que interessam às suas lógicas econômicas para manter seus lucros, eles não vão chegar aqui e dizer que a crise criada foi por causa da posição deles, não, não vão dizer, claro, é culpa do candidato A. Quando o Lula estava na frente, era culpa do Lula, se o Ciro subiu, é culpa do Ciro, se o Garotinho subir, é culpa do Garotinho. Isso é conversa. Isso não tem nada a ver. Risco eleitoral... o que há nesse momento hoje é que a economia brasileira está chegando a um grau de insolvência . A política do governo fracassou totalmente. E agora vem um socorro, um socorro medido, calculado, para que se faça uma transição e o próximo presidente da república...
Gilberto Dimenstein: Diante desse socorro qual vai ser a sua posição na segunda-feira (quando o candidato se encontra com Fernando Henrique para discutir o acordo com o FMI)?
Garotinho: Minha posição na segunda-feira é aquela que eu já externei, o FMI não é um lugar bom para ninguém comparecer.
Gilberto Dimenstein: Vai ter o apoio a essa medida específica que foi tomada ou vai ter um confronto com o que foi tomado?
Garotinho: Deixa eu concluir. O FMI não é lugar bom para ninguém. O FMI é um banco. Você não deve ficar satisfeito, comemorar quando você vai a banco. Você vai a banco quando você está mal. Quando você está em dificuldades. Essa é a realidade. A segunda, havia outra alternativa diante do colapso? Não havia. Havia uma outra alternativa de negociar melhor esse acordo? Ah. Porque ainda não foi assinado. Então o que eu vou levar.
Eleonora de Lucena: Qual é essa medida?
Garotinho: Por exemplo, não aceitar essa história de redução de reservas das divisas brasileiras. Não tem que aceitar. Não temos que aceitar nenhum tipo de cláusula, eu não sei se está, porque eu não conheço o acordo.
Gilberto Dimenstein: Isso quem pediu foi o Brasil, não foi o que impuseram...
Clóvis Rossi: Usar as reservas para combater...
Garotinho: Tenho minhas dúvidas, não sei se há, como outros acordos em que vinha estabelecido claramente: taxa de crescimento zero. O Brasil não poderia crescer por alguns acordos do FMI.
Clóvis Rossi: Ao contrário, vários acordos do FMI proibiram, no caso do México.
Garotinho: Estou falando Brasil, não vamos comparar, por isso que eu te disse, cada país tem a sua realidade e nós devemos tratar cada realidade de cada país com a especificidade de cada país. O Brasil já fez acordos onde prévia metas de crescimento zero, por conta do Fundo Monetário Internacional. Então, eu não sei exatamente, vou ver o acordo, vou analisar, espero que o presidente faça uma exposição e a minha atitude será uma atitude sincera, patriótica, não vou ser contra nada que ajude o nosso país, mas também quero deixar bem claro que os nossos caminhos seriam outros, por isso eu vou entregar um documento ao presidente da República.
Clóvis Rossi: Quais seriam os outros caminhos isso eu não estou entendendo. Além das reservas.
Garotinho: Você não quer que eu te dê um furo aqui hoje.

Leia todas as íntegras:

  • Apresentação do candidato


  • 1ª pergunta respondida por Garotinho a jornalistas


  • 2ª parte das perguntas dos jornalistas


  • 3ª parte das perguntas dos jornalistas a Garotinho


  • Íntegra da última parte de perguntas de jornalistas


  • 1ª parte das perguntas da platéia


  • 2ª e última parte das perguntas da platéia


  • Leia mais
    Especial Eleições 2002
     

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