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15/08/2002 - 17h17

Leia a íntegra da última parte de perguntas de jornalistas a Garotinho

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da Folha Online

Nesta última parte de perguntas dos jornalistas da Folha o candidato Anthony Garotinho fala sobre o fato de ser chamado de populista, de sua religiosidade e sobre a união de homossexuais.
Participam da sabatina Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha, Clóvis Rossi e Gilberto Dimenstein, colunistas e membros do Conselho Editorial do jornal, e Marcelo Beraba, diretor da Sucursal do Rio de Janeiro da Folha.
Eleonora de Lucena: O senhor está dando esse caráter pejorativo a expressão. Eu não usei essa expressão...
Clóvis Rossi: Tem vergonha... para fora do Rio de Janeiro o restaurante de um real.
Garotinho: Não, não, não, leia um artigo que saiu publicado há poucos dias na Folha de São Paulo, aqui mesmo nesse jornal, a forma pejorativa, Rosinha, Garotinho, Maluf e Collor, os candidatos da ignorância. Que ignorância? Quer dizer que fazer um restaurante popular para as pessoas comer a um real é uma política de ignorância? Isso é um preconceito, uma falta de conhecimento da realidade. Engraçado, quando Betinho fazia campanha de combate a fome e dizia: quem tem fome tem pressa, quem tem fome precisa comer, não pode esperar o dia seguinte, ficar dissertando sobre a fome do ponto de vista intelectual é muito bonito, mas não resolve. Ninguém chamava o Betinho de populista, o Betinho é humanista. (aplausos). (...) É muito cômodo para vocês, ficam rotulando as pessoas, taxando as pessoas pejorativamente sem dar direito de defesa.
Eleonora de Lucena: Eu insisto que pejorativamente é a sua avaliação. Eu queria lhe perguntar, o senhor usa a religião para se alavancar na política?
Garotinho: Outra mentira.
Eleonora de Lucena: Estou perguntando.
Garotinho: Outra inverdade. Eu sou uma pessoa religiosa, não vou abrir mão da minha fé. Eu podia ser hipócrita como muitos são. Fingir que não sou evangélico. Mas eu sou professor da escola dominical da minha igreja, está aqui a minha filha, vai comigo todo domingo. Nós lecionamos para casais, para que vou esconder isso?
Gilberto Dimenstein: A questão não é esconder, é saber se é um ambiente eleitoral ou não.
Eleonora de Lucena: O cheque cidadão não foi um uso político?
Garotinho: Deixa eu concluir primeiro a questão da religião. O grave nisso é a distorção dada pela imprensa. Eu fui num encontro de uma igreja em Minas Gerais falar para 3.000 pastores sobre tolerância religiosa. E lá eu falei sobre tolerância religiosa, sou professor de escola dominical, leciono sobre esse assunto e disse: não há nada mais tolerante do que o cristianismo, a base do cristianismo é o amor. A igreja tem revisto suas posições ao longo dos anos e citei, por exemplo, o encontro de Jesus com a mulher adúltera. Dizendo, faz uso ao encontrar com a mulher adúltera, aquele bando de fariseus queria que ela fosse apedrejada. E Jesus disse: dentre vos o que não tiver pecado atire a primeira pedra. Pois bem, foram embora e Jesus disse para ela: nem eu te condeno, teus pecados estão perdoados, vai, não peques mais. Abro o jornal no outro dia e vou ler a seguinte manchete: Garotinho em Minas se compara a Madalena. Isso é covardia. (risos). Isso é covardia. Isso é falta de compromisso com a verdade.
Marcelo Beraba: Governador, logo no...
Garotinho: Com licença, quero concluir. Vou responder aqui a pergunta dela. Vou responder a pergunta dela. Isso é sério, gente. Isso é sério porque vai criando uma imagem distorcida das pessoas. Todo o ambiente em que eu vou, quando eu termino de falar, as pessoas: mas você é assim, eu tinha uma impressão tão diferente a seu respeito. Eu achava você um tremendo demagogo, um tremendo populista e que misturava religião com política, não entendia nada de economia, só sabia fazer prato de comida a um real para as pessoas. Não, espera aí, vamos colocar as coisas corretamente. Outro dia o jornal o "Estado de S.Paulo" fez uma violência contra a verdade. Eu, num outro encontro sobre religião, falando para pastores de diversas denominações, falei durante uma hora. E no final disse: não há nenhum mal se você é carente, você evangélico ou você de outra denominação religiosa, mas você é um cidadão, você paga impostos, você tem seu título de eleitor, você tem que exigir, se organizar, defenda os seus direitos, você tem direitos como cidadão, você não pode ser um carente alienado, você não tem asinha de anjo não, você é de carne e osso, precisa comer para viver. No final eu disse: olha, eu tive acesso a um documento que me mandaram do serviço reservado da polícia do Rio de Janeiro, que até o PCC está escolhendo candidatos. Eles são 100 mil presos no Rio. Estão escrevendo para seus familiares pedindo que votem nos seus candidatos. E disse: se até o PCC está se organizando, porque as igrejas não vão se organizar? Abro no outro dia o jornal o "Estado de S.P" e está escrito lá: Garotinho pede aos eleitores que se organizem como o PCC, poxa, aí é difícil. É complicado você manipular e distorcer a informação.
Quanto ao cheque cidadão. O cheque cidadão foi escolhido para ser distribuído pelas igrejas por uma medida econômica, e qual a medida econômica? Um cheque daquele no valor de 100 reais que obriga que as famílias tenham a criança matriculada na escola e a carteira de vacinação em dia. Se eu fosse montar uma estrutura para controlar a emissão e a distribuição dos 65 mil cheques e a seleção das famílias eu ia gastar mais do que com o programa em si.
Eleonora de Lucena: Isso não é fazer política com religião, usando o dinheiro público?
Gilberto Dimenstein: Por que não escola de samba, por exemplo, por que não umbanda, por exemplo?
Garotinho: Quem disse que não tem, tem centro espírita, tem igreja católica, tem igreja da Assembléia de Deus, batista, presbiteriana, foi escolhido critério muito simples, quem tem trabalho social nessas comunidades são as igrejas. Vai lá e vê o trabalho que a pastoral da igreja católica faz, vai lá e vê o trabalho de serviço social que a igreja batista faz, que a assembléia de Deus faz. Não há nada de mal e por que esse preconceito contra a fé das pessoas?
Gilberto Dimenstein: Nenhum preceito.
Garotinho: Se o senhor acha que pode fazer qualquer um e não pode fazer com a igreja me desculpe, mas aí é preconceito. A igreja é uma organização não-governamental como é uma escola de samba, uma associação de moradores.
Marcelo Beraba: Em relação a fé, governador, eu queria fazer uma pergunta para o senhor. Como é que o senhor lida com a sua religiosidade no dia-a-dia? Lembro-me que logo que o senhor assumiu, em 99, o senhor fez uma reunião grande de evangélicos na Baixada Fluminense, deveria ter uns 20 mil evangélicos, o senhor chegou uma hora e pediu para que todos orassem para que o Fernando Henrique abrisse o coração dele, não é isso? Se iluminasse de modo que o Estado do Rio pudesse fazer um bom acordo.
Garotinho: E acabou saindo o acordo.
Marcelo Beraba: Exatamente. Eu lhe pergunto o seguinte: como o senhor lida com a questão da religiosidade e os negócios do Estado? O senhor reza antes de tomar a decisão? Já mudou de decisão importante orando, como é isso no dia-a-dia do senhor?
Garotinho: Os leitores da Folha não merecem a sua pergunta.
Marcelo Beraba: Por que não, governador? (aplausos). Mas o senhor... por que o senhor acha que não merecem?
Garotinho: Porque nós estamos tratando-se de um assunto sério.
Marcelo Beraba: Isso é sério.
Garotinho: Não tenho vergonha da minha fé. Não há nenhum problema em assumir, está aqui a minha filha que sabe também, minha filha é evangélica, minha mãe é católica, não acho nada de mais. Acho bonito que as pessoas tenham ou não tenham, elas devem assumir o que são. Pior são certos candidatos como um agora há pouco tempo que só comparece a igreja para pedir voto.
Gilberto Dimenstein: Quem?
Garotinho: Você não viu? Vocês publicaram na primeira página da Folha a foto do Serra na Assembléia de Deus ajoelhado e aquele monte de pastor com a mão em cima da cabeça dele. (risos). Vocês publicaram.
Vamos tratar de assuntos sérios eu sou candidato a presidente da República, não sou candidato a pastor.
Clóvis Rossi: Eu tento insistir nessa pergunta, tem aqui um dossiê que nós fizemos sobre você, no bom sentido da palavra dossiê. Um banco de dados que contém uma frase sua publicada pelo "Globo" do ano passado que diz o seguinte: "Presbiterianos e calvinistas pregam a doutrina da predestinação, dizendo que uns são escolhidos por Deus para determinada missão. Creio que me encaixe nesse perfil quando o assunto e a Presidência. Vejo que chegou a minha hora". Então acho que a pergunta foi perfeita. Não é uma ironia. Não é uma...
Garotinho: Se você discorda, vai discutir com o Calvino, que já morreu há muito tempo.
Clóvis Rossi: Calvino já morreu e não estava fazendo campanha para presidente do Brasil.
Garotinho: Sim, e eu estou. Apenas você...
Clóvis Rossi: A predestinação chegaria ao ponto de Anthony Garotinho ser predestinado a ser presidente da república? Também não vamos exagerar, né?
Garotinho: O Rossi, eu quero dizer a você o seguinte, esse é um texto fora do contexto. O contexto em que foi colocada essa citação aí não era um contexto político. Eu estava conversando, deveria estar em algum ambiente religioso, eu me lembro bem desse episódio e foi tirado o texto do contexto. Você sabe muito bem que qualquer texto retirado do seu contexto original é um pretexto. Então isso é pretexto para a discriminação religiosa e eu não admito. Eu respeito todo mundo e acho que todo mundo deve respeitar as pessoas. As pessoas são livres, a constituição brasileira diz o seguinte: nós vivemos num Estado laico. Onde as pessoas têm liberdade de culto. Eu quero que me aponte um momento de minha vida que eu discriminei qualquer pessoa pela sua religião. Nunca discriminei ninguém e não vou fazer.
Gilberto Dimenstein: Por falar em pretexto, não podia deixar de perguntar, eu vi uma notícia publicada hoje de que vocês apoiariam a candidatura Lula, qual é o contexto, qual o pretexto dessa frase?
Garotinho: Pretexto. Se você ler a matéria, nem a própria matéria diz isso. O que eu disse foi o seguinte, na UNB ontem, dando uma palestra aos estudantes, uma jornalista perguntou: e caso o senhor não vá para o segundo turno, o senhor apoiaria Lula? E qual foi a minha resposta? Não há porque o PT desconfiar, eu já votei no Lula duas vezes, eu quero saber se eles vão votar em mim. Eu acredito que eu vou para o segundo turno. Essa foi a pergunta que eu respondi. Então a manchete do jornal é: Garotinho declara que vai apoiar Lula no segundo turno. Como eu vou apoiar Lula no segundo turno se não sei o que acontecerá no primeiro turno? Vocês me desculpem (...) A Folha fez bem, não fez essa matéria assim. Foi um outro jornal, foi o concorrente de vocês. Se a eleição fosse em janeiro, já era Roseana a presidente. Depois, se a eleição fosse num período, já seria o Lula o presidente. Quando o candidato do governo se lançou, ele já era o presidente. Agora é um outro candidato, eleição só se decide no dia 6 de outubro.
Gilberto Dimenstein: Em termos de afinidade, independente de primeiro, segundo turno, afinidade ideológica, Lula, Serra ou Ciro Gomes?
Garotinho: Essa é uma decisão que compete a meu partido.
Gilberto Dimenstein: Não estou falando em termos de segundo turno ou de eleição. Em termos afinidade ideológica?
Garotinho: Estou no Partido Socialista Brasileiro, essas são as minhas afinidades.
Eleonora de Lucena: Governador eu queria perguntar por que o senhor optou por ter uma linha de censura de fitas (cassetes), divulgadas em reportagens, por que o senhor opta por essa linha de sensor da imprensa, de censurar a imprensa? Brigar com a imprensa dá voto?
Garotinho: Não, você está enganada. Quando eu entrei na Justiça eu queria saber o teor das fitas porque as fitas continham gravações pessoais de colaboradores meus. Tanto que a Rede Globo de televisão solicitou que eu liberasse as fitas com as perguntas e eu liberei (...), tanto que coloquei no meu site. Quem quiser pode acessar: www.40garotinho.com.br. Não há nenhum tipo de censura .
Marcelo Beraba: Liberou parcialmente.
Garotinho: Você mesmo publicou.
Marcelo Beraba: Parcialmente. Do trecho que nós enviamos para ser publicado, nós só recebemos de retorno, com autorização para publicar um trecho mínimo. Muito pequeno.
Garotinho: Trechos que envolvem conversas pessoais.
Marcelo Beraba: Não tinha conversa pessoal.
Garotinho: Com licença, Beraba, não leve a mal, você sabe que um cidadão que privava da minha intimidade gravou conversas de colaboradores meus.
Marcelo Beraba: Como governador, o senhor já fez isso. Com o Luiz Eduardo Soares. .
Garotinho: Não gravei conversa de terceiros, gravei a minha conversa com ele, é diferente. Não gravei conversas de terceiras nem conversas íntimas, minha conversa com ele, ele ligando para mim, me agradecendo, dizendo, você foi maravilhoso, foi um grande companheiro não deu para a gente trabalhar mais junto. Estou aí, estou na sua campanha para presidente.
Marcelo Beraba: O senhor acha correto ter divulgado isso?
Garotinho: Eu já te disse que não faria novamente. Eu dei uma matéria que você publicou na Folha corretamente. Mas isso é outro caso. O caso das fitas é um caso superado. Eu liberei e quem quiser, quisesse publicar tinha a autorização, desde que submetesse para não ser conversa pessoal.
Eleonora de Lucena: O senhor é hostil aos homossexuais?
Garotinho: Absolutamente.
Eleonora de Lucena: O senhor é contra a união civil dos homossexuais?
Garotinho: Sou contra casamento de pessoas do mesmo sexo.
Eleonora de Lucena: Por quê?
Garotinho: Porque (casamento de) pessoas do mesmo sexo não está previsto na lei. O projeto que existe é um projeto de contrato civil entre as pessoas. E isso pode acontecer entre dois homens, duas mulheres, duas mulheres pode ser até parente do outro. Isso é uma questão de herança, é outra questão. Casamento...
Eleonora de Lucena: Como adoção?
Garotinho: Casamento de pessoas do mesmo sexo não há projeto sobre isso no Brasil.
Clóvis Rossi: Eu queria só avisar que o tempo dos jornalistas está esgotado, que eu vou passar portanto às perguntas dos leitores.
Garotinho: Eu saio um pouco frustrado da conversa com vocês, pensei que vocês fossem perguntar mais sobre o Brasil.
Marcelo Beraba: Posso fazer uma pergunta sobre o Brasil? O seguinte, o senhor tanto em relação a questão da segurança como em relação a questão da reconstituição da infra-estrutura ou da estrutura nossa o senhor volta e meia fala sobre o papel das Forças Armadas.
Garotinho: Sim.
Marcelo Beraba: Que teriam sido completamente abandonadas. E.... Tem um papel importante inclusive na questão da fronteira, da Amazônia e tudo o mais. Como o senhor vê isso? O que o senhor imagina que seja possível fazer, qual o papel que elas vão ter no seu governo?
Garotinho: As Forças Armadas foram destruídas do ponto de vista da defesa nacional. Elas são importantes para a manutenção da defesa nacional e para a integração do território nacional. E para a vigilância das nossas fronteiras. Elas tiveram o orçamento cortado, elas tiveram recursos para a compra de equipamentos cortados, tiveram seus projetos principais suspensos.
Marcelo Beraba: Como o senhor imagina que vá...
Garotinho: Nós vamos dotá-las de orçamento, para que elas possam ser reequipadas e que volte um programa que não parece, aos olhos do governo, importante, mas para mim é importantíssimo, o programa de alistamento militar é muito importante. Para alguns jovens aquele recurso é o único recurso que a família tem. Não há outro recurso para aquela família pobre. Os garotos foram dispensados, mandados para casa. Os quartéis não têm sequer comida hoje. Isso é uma total falta de responsabilidade administrativa.
Marcelo Beraba: Esse seria um aspecto assim social das Forças Armadas, eu me refiro.
Garotinho: Social não, social e de soberania nacional, para guardar as nossas fronteiras.
Marcelo Beraba:Refiro-me mais à parte bélica, seja de defesa, seja de capacidade. Como o senhor imagina isso de aviões? O senhor já se debruçou sobre isso?
Garotinho: Não, sobre esse assunto ainda não, eu acho que elas precisam receber um apoio maior para que seja cumprido o dever que a constituição quer que elas exerçam.

Leia todas as íntegras:

  • Apresentação do candidato


  • 1ª pergunta respondida por Garotinho a jornalistas


  • 2ª parte das perguntas dos jornalistas


  • 3ª parte das perguntas dos jornalistas a Garotinho


  • Íntegra da última parte de perguntas de jornalistas


  • 1ª parte das perguntas da platéia


  • 2ª e última parte das perguntas da platéia


  • Leia mais
    Especial Eleições 2002
     

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