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16/08/2002 - 15h58

Sabatina Serra: leia íntegra da 1ª parte, quando o candidato se apresenta

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da Folha Online

Leia abaixo a íntegra da primeira parte da sabatina com o presidenciável José Serra (PSDB), dentro do ciclo "Candidatos na Folha", promovido pela Folha de S.Paulo.

Nessa parte, Serra se apresenta. Depois, responde a perguntas de jornalistas do jornal, por 50 minutos. Participam Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha, Clóvis Rossi, Gilberto Dimenstein e Luís Nassif, colunistas e membros do Conselho Editorial do jornal, e

O candidato, entre outras coisas, diz que pretende, em seu governo, dar a mesma ênfase para a área social que foi dada à área econômica.

Na seqüência, o candidato responde às perguntas da platéia. O evento acontece no Teatro Folha, no Shopping Higienópolis, em São Paulo.

Clóvis Rossi: Boa tarde a todos. Eu sou o Clóvis Rossi, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo, circunstancialmente coordenador da última da série de sabatinas que a Folha está promovendo com os candidatos à Presidência da República. Queria agradecer a presença do candidato José Serra, mas acima de tudo queria agradecer a presença dos leitores aos quais esse evento se destina para que possam fazer suas perguntas diretamente aos candidatos como aconteceu nas três sabatinas anteriores. Na semana que vem será a vez dos candidatos ao governo do Estado serem sabatinados, começando na segunda-feira com Fernando Morais, na terça-feira, Antônio Cabrera, na quarta-feira, Geraldo Alckmin, na quinta, Paulo Maluf, na sexta-feira, José Genoino. Todos às 15h.
Os leitores que quiserem se inscrever para fazer perguntas podem ligar para 3224 7624, de segunda a sexta-feira das 10h às 17h. As regras da sabatina são mínimas, restringe-se apenas aos 10 minutos iniciais para a apresentação do candidato. Seguido de um bloco de perguntas feitas pelos jornalistas da Folha de São Paulo, que são Gilberto Dimenstein e Luis Nassif, também colunistas e membros do Conselho Editorial da Folha de São Paulo, Eleonora de Lucena, que é editora-executiva do jornal. Depois disso o segundo e último blocos o candidato responde a perguntas feitas pela platéia. Eu peço a todos que quiserem fazer perguntas que as encaminhe por escrito com nome completo, telefone, e-mail, profissão e idade, que vale também para as senhoras e senhoritas presentes. Há duas recepcionistas para recolher as perguntas durante o evento e a identificação não se destina a nenhum serviço de deduragem, mas apenas a possibilidade de que nem todas as perguntas possam ser feitas ao candidato. As que não puderem ser feitas serão a ele encaminhadas para que ele responda diretamente aos interessados. Quando eu for ler a pergunta do leitor, pediria que o leitor se identificasse para ser fotografado e, de novo, não se trata de espionagem mas apenas para que possa eventualmente aparecer na cobertura do jornal amanhã, como aconteceu nas três sabatinas anteriores. Isso posto, eu gostaria então de pedir ao candidato José Serra que fizesse a sua exposição inicial, o máximo de 10 minutos, por favor, Serra, a palavra é sua.
José Serra: Inicialmente queria agradecer a Folha por essa oportunidade de um debate mais extenso, de um debate mais descontraído. É uma boa oportunidade para expor alguma das idéias e responder algumas dúvidas, ou até para criar dúvidas. Queria começar dizendo que a essência do meu programa de governo é a criação de empregos e a segurança. Se a gente perguntar para uma mãe de família hoje no Brasil, média, o que ela quer mais na vida, ela vai dizer: oportunidade de trabalho para os meus filhos e segurança, seja segurança contra o crime para a família, seja para que meu filho não vá para o crime. Esses são os pontos essenciais. Se me perguntarem o que fará diferença no governo, será exatamente a ação nessas duas direções, que estão combinadas, evidentemente. Crescimento do emprego vai significar a economia crescer no seu conjunto, e nós temos que ter uma estratégia para isso. E a ponta do barbante vai estar nas exportações e na substituição de importações. Exportação gera emprego em si e traz dólar, substituição de importações gera emprego e traz dólar, e o principal fator que detém o crescimento brasileiro é a escassez de dólar. Portanto, nós precisamos ter mais dólares e esse é o caminho. A taxa de juros com maior disponibilidade de dólares, quer dizer, com déficit em conta corrente no balanço de pagamentos, com déficit externo menor, ela vai tender a ceder substancialmente. Ela pode, seria, 1 ou 2 pontos mais baixa hoje, para ser substancialmente mais baixa nós precisamos realmente ter uma mudança significativa do déficit do balanço de pagamentos para baixo. Hoje deve estar próximo a 4% do PIB, deve cair para próximo a 2% do PIB. Portanto, a ponta do barbante que vai desatar o novelo do crescimento lento são as exportações e a substituição de importações. Para isto, inclusive, nós vamos criar o Ministério do Comércio Exterior para coordenar todas as ações, por exemplo, outro dia me dizia um construtor brasileiro, no exterior, que está construindo uma estrada num país da América Latina e, nesse país que é muito pobre, ele queria levar todos os insumos do Brasil, inclusive o óleo diesel, e não conseguiu. Porque a empresa dele não tem cadastro de exportação e então para a Petrobras exportar precisaria ou precisa fazer um conselho, uma reunião daqui, uma reunião dali. Resultado, ele vai comprar o óleo diesel da Argentina. Isso não é porque alguém queira prejudicar as exportações, é porque não há coordenação, articulação. Portanto nós vamos criar esse ministério que vai levar a negociação externa para adiante, vai centralizar a política tarifária e coordenar todas as ações do governo. O Brasil tem uma participação pequena no comércio mundial de menos de 1% e portanto a demanda externa não precisa estar explodindo para o Brasil exportar mais. Quando a participação é muito pequena é diferente de quando a participação grande que aí toda a economia mundial precisa estar crescendo.
Nós vamos ter um instituto de comércio exterior, pode ser modificação de alguns, alguma entidade hoje existente, misto, público e privado, para ter gente nos países para vender mercadorias brasileiras. Outro dia eu tive um almoço com a câmara, uma espécie de câmara de grandes empresas italianas, lá estava presente uma pessoa que não era empresário, é do instituto de comércio exterior da Itália, tem 40, 30, 40 pessoas aqui no Brasil só voltadas a vender exportações italianas. E o Brasil nem é um mercado tão extraordinário, é um mercado grandes, mas não é dos maiores do mundo. Nós vamos ter isso. (...) E agir também em matéria de livre comércio, para derrubar barreiras protecionistas (...) Por exemplo, TV digital tem na Europa, tem o padrão europeu, o padrão japonês e o padrão americano, considerações técnicas à fora, noves fora, considerações técnicas, vai ganhar o país ou a região que abrir mais para o comércio brasileiro. Nós vamos passar a introduzir este elemento político, não no sentido partidário, nas com natureza comercial. Porque comércio envolve relações de poder na escala internacional. Não é pura economia, puras vantagens comparativas e coisas do gênero. Vamos voltar o crédito público, o financiamento, os incentivos fiscais e os investimentos orçamentários também no apoio às exportações. Exemplo, a rodovia Cuiabá-Santarém, que está se arrastando há antes tantos anos. Ela concluída, o custo da soja por tonelada exportado diminui em 20 dólares. A ferrovia transnordestina, que pode levar toda a fruta do complexo Petrolina-Juazeiro para o porto de Recife e para o exterior. Hoje vai de avião. Uma parte dessas frutas. Para os Estados Unidos. Ou seja, vamos orientar os investimentos por esse critério. Isto gera emprego diretamente. Substituição de importações na área do complexo eletrônico, e aí tem que ser competitiva porque esse complexo para se instalar no Brasil vai precisar de exportar pelo menos metade do que produz, portanto vai ser competitivo. Nós vamos atrair investimento estrangeiro, capital nacional com o apoio público para fazer isso. Já temos 7 bilhões de dólares de déficit nessa área, daqui a pouco vão ser 20 bilhões, não vai dar. Então nós vamos ter que avançar nessa direção.
Dentro do crescimento vamos dar força para setores que geram muito emprego, agricultura irrigada, que gera 10 vezes mais empregou, 20 vezes mais do que uma montadora de automóvel, agricultura familiar, turismo, que é uma exportação, que é um copo de água mineral passa a ser vendido como se fosse em dólar, no caso do turismo, o Brasil tem 1/4 do movimento de turistas do México, gasta de promoção comercial só 24, por aí, milhões de dólares, se gastasse como o México, que já está gastando oitenta e tantos milhões, junto com a área privada, não conseguimos organizar direito os vôos charts para o Brasil, isso não é difícil de fazer. E por aí vai.Turismo gera muito emprego. Da mesma forma que construção civil, moradia, saneamento, nós temos que e vamos fazer isso, destravar os mecanismos de financiamento para a habitação no Brasil. Hoje menos de um terço da caderneta de poupança vai para a construção civil. Para financiar, o que é uma distorção que está se prolongando por muito tempo. E educação e saúde. Quando eu estive no ministério (da Saúde), nos 4 anos, nós geramos mais de 300 mil empregos, porque educação e saúde são setores onde o melhor atendimento, a modernização, gera mais empregos. Não é por menos que um dos indicadores de qualidade do ensino é um índice alto da relação professor/aluno. ou seja, quanto menos aluno tiver por professor, é considerado um padrão de ensino melhor. Na saúde é basicamente gente trabalhando, por que é que nós criamos tantos empregos na saúde? Programa de saúde da família, agentes comunitários de saúde, equipes de saúde bucal, agentes de combate a endemias, etc. Nós temos a expectativa de aumentar muito esse número nos próximos anos porque vamos levar o programa de saúde da família de 15 mil e tantas equipes para 45 mil. Cada equipe tem um médico, uma enfermeira, duas auxiliares de enfermagem, 5 agentes de saúde. Para atender até mil famílias. Nós vamos levar isso, já temos a experiência, sabemos como fazer, na minha gestão aumentamos 8, 9 vezes as equipes e vamos fazer isso agora para cobrir toda a população brasileira.
Hoje está entre 50 e 60 milhões os brasileiros sob este programa. Portanto, a questão do emprego vai permanecer, é o foco, digamos, da nossa ação. E não vai ser só o Ministério do Trabalho, como é hoje, preocupado com isso. Não, o Ministério do Trabalho, o Ministério dos Transportes, o Ministério da Agricultura, o Ministério da Educação, Ministério da Saúde, junto a questão da segurança, porque ela coloca um problema que é anterior e superior aos outros, que é a questão da vida. Sem falar do prejuízo do problema da segurança com relação a própria economia, que pouco a pouco vai criando dificuldades nessa área. Eu me reservo para falar, depois, sobre a segurança. Do outro lado o que é que nós vamos fazer? Nós vamos manter as conquistas que o Brasil fez nos últimos anos e aprofundá-las. Por exemplo, na área social. Na educação se avançou muito, na quantidade inclusive, no caso do ensino fundamental. Nós vamos levar isso mais longe, ampliando o direito, digamos, à escola, encaminhando para a normalização do ensino pré-escolar. Da pré-escola, como elemento até para melhorar a qualidade do ensino fundamental do ponto de vista dos alunos. Sem falar nas questões que envolvem treinamento de professores, reciclagem, que são realmente questões fundamentais. O ensino médio, o governo Fernando Henrique duplicou a proporção de alunos que freqüentam o ensino médio, nós vamos duplicar de novo. Hoje tem 1/3 dos jovens, vamos elevar para 2/3, agora aí com uma evidência tremenda na questão da qualidade, que é calcanhar de Aquiles do ensino médio no Brasil. Ao mesmo tempo, no caso da saúde, como eu disse, vamos levar o programa de saúde da família para todo mundo, vamos aprofundar toda a questão de acesso a medicamentos em torno da qual temos uma experiência grande, o Brasil pela primeira vez passou a ter uma política nacional e internacional na área de medicamentos. Ganhamos batalhas, algumas delas memoráveis, inclusive junto a Organização Mundial do Comércio. E vamos aprofundar. Na área da proteção social, que se desenvolveu muito no Brasil durante o governo Fernando Henrique, erradicação do trabalho infantil, bolsa escola que está ligado à educação, bolsa alimentação, que está ligado à saúde, pensões para deficientes, pensões para idosos, o que nós temos que fazer é racionalizar o sistema, consolidar e nós vamos, de fato, criar uma equipe social que vai ter o mesmo status da equipe econômica.
E tem que ter metas, controle, avaliação (...). Porque a área social fica como coisa de segunda categoria. Não se tem indicadores, os indicadores são sempre defasados. O caso da mortalidade infantil é clamoroso, porque a gente sempre tem dados de dois ou três anos para traz, medidas por métodos corretos estatisticamente, mas que não têm muito a ver com a atualização que a gente precisa. Então nós vamos ter que montar esses indicadores, acompanhar, avaliar, mudar, reformular. Uma equipe social, com o mesmo status da econômica e que seja sempre ouvida. Não é o problema de fazer uma coordenaria, um conselho, não. (...) O problema de evidência política, além da questão administrativa e de coordenação que esse trabalho tem que assumir em relação à questão social.
Mais dois pontos, temos que garantir o equilíbrio macroeconômico, não é segredo para ninguém que eu defendo, há muito tempo, mesmo quando não era, o câmbio flutuante, a responsabilidade fiscal, cuja lei inclusive tem origem numa Emenda minha à constituição, que falava de um código de finanças públicas que poderia interferir nos Estados e nos municípios, por isso é que a lei de responsabilidade pode, porque senão não poderia, seria inconstitucional. Da mesma forma que a política de metas de inflação que ordena expectativas com relação à economia, não tem nada, não existe, 20, 30 instrumentos de combate à inflação, segundo o combate o folclore de alguns candidatos. A política de meta de inflação é um elemento de coordenação de expectativas, não é que é uma coisa assim que interfere imediatamente para dizer: vai acontecer aquilo. Não é uma previsão apenas, ela envolve também um elemento que ordena o futuro, porque o mundo econômico de hoje está cada vez mais governado pelas expectativas, que nem sempre, eu diria, quase nunca, são racionais em escala internacional. Portanto, nós temos que garantir o controle da situação econômica por aí. Ao mesmo tempo, me refiro à política de curto prazo, não à política de médio e longo prazo, de garantir e, ao mesmo tempo, termos presenteado que nós vamos entrar num novo ciclo nesta década.
O Brasil, nos anos 70, teve um crescimento econômico muito acentuado, mas não teve políticas sociais dignas deste nome, resultado: as desigualdades, os problemas sociais acumulados durante tanto tempo não foram resolvidos. Nos anos 80, estagnação de um lado, não política sociais dignas também desse nome ao longo da década. Nos anos 90 tivemos boas políticas sociais, a começar pela estabilização, o controle da inflação, porque não tem nada pior para as classes mais pobres do que a inflação, políticas na área da educação, na saúde, da proteção social, para resumir, crescimento do emprego.
Nesta década nós vamos combinar boas políticas sociais com rápido crescimento das oportunidades de trabalho. Por isso, podemos ter uma época primorosa do ponto de vista do Brasil, primorosa. Agora, hoje, no mundo atual, a distância entre o erro e o acerto é muito pequeno, quando o (ex-presidente Ernesto) Geisel entrou, em 1974, o Brasil estava sofrendo um desequilíbrio externo por causa da aceleração do crescimento com distorções na época do milagre econômico. Os bens de consumo durável, a produção cresceu 100% em três anos, e ao mesmo tempo se superpõe a isso a crise do petróleo. O que fez o governo? Fechou a economia, planejou substituição de importações, deixou a inflação multiplicar. (...) Hoje as coisas não são mais assim. A abertura que existe é um dado da realidade, a menor participação do Estado na produção é um dado da realidade, não é reversível, e portanto o manejo da política econômica tem que ser muito mais preciso, muito mais equilibrado. Com um foco muito mais claro. Portanto, a distância entre o erro e o acerto, no mundo e no Brasil, diminuiu. E.nesse sentido a decisão, isso que vai acontecer nessa eleição, é muito mais vital para o nosso futuro do que era há mais tempo, ou do que é inclusive em alguns outros países que estão mais no centro da economia mundial. Mesmo assim, para eles, os problemas são bastante sérios como aliás nos vimos com relação ao Japão, que passou aí uma década com a economia estagnada.
Clóvis Rossi: Serra, seus dez minutos.
José Serra: Vou concluir. Nós temos um bom período pela frente, nós tivemos com otimismo essa fase. Aqueles que me conhecem sabem que não sou do tipo oba-oba. Mas teremos uma boa fase pela frente se o Brasil souber adequadamente seguir a estratégia correta de ao mesmo tempo que reduz a vulnerabilidade externa manter o equilíbrio econômico e saber promover as reformas e as mudanças, a que não fiz referências a todas aqui, que são necessários para dar sustentação a esse crescimento, muito obrigado. (aplausos).

As íntegras da sabatina de Serra:

  • 1ª Parte - Pergunta Jornalistas

  • 2ª Parte - Pergunta Jornalistas

  • 3ª Parte - Pergunta Jornalistas

  • 1ª Parte - Perguntas Platéia

  • 2ª Parte - Perguntas Platéia

  • 3ª e Última Parte - Perguntas Platéia


  • Veja também o especial Eleições 2002
     

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