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16/08/2002 - 16h23

Sabatina Serra: íntegra da 2ª parte de perguntas dos jornalistas

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da Folha Online

Leia abaixo a íntegra da segunda parte das perguntas feitas pelos jornalistas ao candidato José Serra, no ciclo "Candidatos na Folha", que acontece agora em São Paulo.

Participam Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha, Clóvis Rossi, Gilberto Dimenstein e Luís Nassif, colunistas e membros do Conselho Editorial do jornal, e
Nesse trecho, Serra fala sobre privatização da Petrobras, sobre monopólios e sobre como deveria ser a participação do Brasil em entidades como a Organização Mundial do Comércio e o FMI.
Eleonora de Lucena: O senhor tem repetidas vezes feito críticas às gestões da Petrobrás. Queria uma resposta, um pouco mais elaborada do que um simples não, se o senhor pretende privatizar a Petrobrás.
Clóvis Rossi: Posso acrescentar uma coisa? Você fez um elogio à privatização das telecomunicações. Mas é conhecida a sua restrição ao fato de que a privatização dos serviços, especialmente para empresas estrangeiras, gera problemas de balanças de pagamentos do Brasil. Por quê?
José Serra: Que empresas de serviço?
Clóvis Rossi: Todo o setor de serviços, telecomunicações não exporta nada. Só causa problema. Você disse isso, não fui eu, não. Gostaria que você comentasse.
José Serra: Vamos por partes, na questão do petróleo, eu não sou a favor de vender a Petrobrás, mas eu fui a favor da quebra do monopólio legal. São duas coisas diferentes. A Petrobrás antes tinha monopólio legal. Se alguém quisesse entrar para comercializar ou para produzir não podia. Está certo? Independentemente de se tinha tamanho ou não para isso. E foi feita a mudança legal. Acontece que a Petrobrás é monopolista de fato pela escala dos investimentos, porque tem monopólio do transporte e tudo o mais. Então a Petrobrás não pode ela decidir, sozinha, sobre os seus preços. Isso é teoria econômica elementar. Olha, pode ser de esquerda, de direita, norte, sul, leste, oeste, todo mundo, com o mínimo de formação, reconhece que isso não pode ser. Porque aí faz o preço que quiser. E eu fui crítico, sou crítico da idéia de que a Petrobrás possa ela definir os seus preços da gasolina, do gás, do GLP, etc., etc. E o governo, aliás, mudou isso entregando agora a administração para a Agência Nacional do Petróleo. Que vai definir, porque a empresa, ela procura maximizar a sua receita e os seus lucros. Se ela está livre e não tem concorrência. Agora, a concorrência vai demorar muito para poder acertar preços nessa área porque é um investimento pesado. Tem que penetrar no mercado. A Petrobras também atua no sentido, com unhas e dentes, de manter as suas fatias de mercado. Daí, a minha crítica.
Com relação às empresas de serviço, no caso por exemplo eletricidade ou telefone, que praticamente não geram exportações. De fato isso aconteceu. Eu não teria feito uma privatização deixando entrar muito capital estrangeiro aí. Mas o fato é que faltou bala para capital nacional para entrar mais nessa área, até assumindo mais empresas e tudo o mais.E realmente gera remessas, agora também gera investimentos. E eu acho que agora, dada essa situação, que precisa fazer é que o pessoal invista. Agora eu lembraria que muita gente na área de telecomunicações, Clóvis, pagou preços que são 4 ou 5 vezes acima do que as empresas hoje estão valendo. O pessoal não tem se regulado tanto com a coisa, exatamente no caso das telecomunicações por causa das privatizações.
Eleonora de Lucena: No caso das elétricas, o governo está discutindo um socorro, a privatização teve esse problema, houve essa entrada de capital externo, os problemas na balança comercial que o senhor descreveu. Mas agora as dificuldades...
José Serra: No caso aí afeta a conta corrente.
Eleonora de Lucena: Exatamente por causa dos serviços, no caso das elétricas o governo está tendo que socorrer...
José Serra: Não é bem um socorro.
Eleonora de Lucena: É dinheiro do tesouro que vai ter que subsidiar....
José Serra: É uma reserva.
Eleonora de Lucena: Se a privatização não tem que... por isso que tem que ir até o fim.
José Serra: Eleonora, é uma política social. Você tem uma empresa, muda de energia elétrica para outro produto. Suponha que você fabrica geladeira e que as geladeiras de menor tamanho, mais simples, o governo resolva que tem que ter um subsídio. Está certo? Como é que a empresa que produz faz? O subsídio tem que sair de algum lugar. Se você define que para um número X de partes de consumo a tarifa é gratuita, ou tem alguma coisa, isso envolve custo.
Eleonora de Lucena: Isso era antes. As empresas estão em dificuldades...
José Serra: Agora foi feito inclusive com a medida provisória, a conversão que foi feita foi uma coisa cristalizada e aumentada para todo o país.
Luis Nassif: Ministro, um pouquinho essa questão internacional e econômica também. Está uma ampla discussão hoje sobre o papel do FMI. O Brasil, ele se colocou de uma maneira agressiva na questão da Organização Mundial do Comércio liderando um grupo de países em relação às instituições multilaterais, com essa crise do mercado financeiro internacional, com a necessidade do país de ter recursos, que papel o seu governo teria na tentativa de mudar a função das instituições multilaterais?
José Serra: Olha, primeiro que elas funcionem como tal. Porque a OMC, pouco a pouco, foi virando um fundo monetário comercial. Está certo? Com hegemonia dos países desenvolvidos? Caso típico do avião, o conflito da Embraer com a Bombardier, do Canadá. Está certo? Reparem que foram decisões arbitrárias que acabaram levando a uma condenação do Brasil, que quase acabou não se materializando. A nossa batalha é pela multilateralização de tudo. Essa é uma batalha fundamental que, no âmbito inclusive de ampliação da composição política do Conselho de Segurança dessas instituições, que tem que estar preparadas para serem multilaterais. E não dá para ter, como os Estados Unidos fazem às vezes, um multilateralismo à la carte. Está certo?
Clóvis Rossi: O que quer dizer exatamente multilateração, especialmente no Fundo Monetário? O Fundo Monetário funciona por cotas. Evidentemente os Estados Unidos têm um peso mais determinante, como é o multilateralismo no Fundo Monetário Internacional?.
José Serra: Você tem que avançar nas regras, apesar das cotas e na mudança de proporção das cotas para. Está certo? Tem que criar um mecanismo que permita isso. Isso não é para que o Fundo Monetário vire uma instituição beneficente ou uma instituição financiadora de déficits, mas para que ele cumpra funções de maior estabilização no contexto da economia mundial. Porque o fato é que hoje eu não sei se você teve a oportunidade de ler um artigo e uma entrevista do economista chefe do Banco Mundial, prêmio Nobel, é o economista vivo da minha geração, até, deve ter um pouquinho só mais de idade do que eu, que eu mais admiro. É realmente um economista completo. Mostrando as desproporções entre a visão que se tem sobre o Brasil e o que acontece de fato no nosso país. Um economista dessa categoria mostra que o Brasil não está tão mal quanto dizem e que não há razão para esse movimento de manada com relação à economia brasileira, de comportamento de manada lá fora, embora que isto esteja acontecendo é um dado da realidade.

Demais íntegras da sabatina de Serra:

  • 3ª Parte - Pergunta Jornalistas

  • 1ª Parte - Perguntas Platéia

  • 2ª Parte - Perguntas Platéia

  • 3ª e Última Parte - Perguntas Platéia


  • Veja também o especial Eleições 2002
     

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