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16/08/2002 - 17h26

Sabatina Serra: íntegra da 1ª parte das perguntas da platéia

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da Folha Online

Leia abaixo a parte da sabatina com o candidato José Serra (PSDB) em que ele responde a perguntas de leitores da Folha, que compareceram ao Teatro Folha para o ciclo "Candidatos na Folha.

Nesse trecho, Serra fala sobre a manutenção do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, num possível governo seu, mas evita falar de nomes para o ministério. Fala também de incentivos à cultura e política educacional, como a criação de vagas nas universidades e adoção de cotas para negros.
Participam da sabatina com Serra, o últimos dos entrevistados a participar do ciclo, Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha, Clóvis Rossi, Gilberto Dimenstein e Luís Nassif, colunistas e membros do Conselho Editorial do jornal.
Clóvis Rossi: Muito bem, agora podemos passar a parte de perguntas dos leitores. Eu vou começar com a pergunta da Marina... (nesse momento acontece uma discussão entre uma pessoa da platéia, que gostaria de fazer perguntas oralmente, e o mediador. Clóvis Rossi insiste que isso está fora das regras, que não estão permitidas intervenções orais). "Tanto Ciro quanto Garotinho criticaram a imprensa taxando a de governista, o que o senhor acha dessa crítica? E eu acrescentaria, inclusive em relação à Folha de S.Paulo, que é sempre acusada de ser governista, anti-governista, depende do candidato que vem aqui.
José Serra: Olha, eu não acho isso. Eu não acho isso. E alguns disseram até que estão favorecendo a minha candidatura. Eu diria, tomara fosse. Não é assim, mas tomara fosse.
Gilberto Dimenstein: A imprensa também está prejudicando-se a sua candidatura, ou não?
José Serra: Não faço tipo de juízo, está certo? Eu olho objetivamente as coisas. Eu não... não sou julgador da imprensa. (aplausos) Agora, quando dizem isso, tomara fosse. Eu não acho que seja assim.
Clóvis Rossi: Perguntas do aposentado José Luis Santana. José Luis, por favor, se puder se identificar. "Se eleito, pretende repor as perdas de mais de 50% dos aposentados acumuladas ao longo dos 2 últimos governos do seu partido?
José Serra: Olha, tudo o que for possível fazer para os aposentados nós vamos fazer. Eu, todo o fim de semana, ouço reclamações de minha mãe, de minhas tias, que são aposentadas, que contribuíram por mais, estão recebendo menos, então a gente tem que fazer um empenho enorme nessa direção e, no caso de previdência, a questão fundamental que estou me referindo ao INSS é aumentar a receita. E aumentar a receita significa ter mais emprego, porque aí tem mais contribuintes. Segundo, diminuir a informalidade (...)
Gilberto Dimenstein: Significaria flexibilizar normas trabalhistas para poder ter mais empregou? Isso daí seria uma traição aos direitos dos trabalhadores?
José Serra: Não, eu acho que essa questão dos encargos sobre a folha de salários tem que ser uma questão tratada nacionalmente, com todo mundo. Está certo? Porque acontece o seguinte, toda vez que se fala: vamos mexer nisso, não, quer violar direitos sociais. Algumas não são direitos sociais propriamente ditos. Então nós vamos ter que tirar uma proposta daí que seja bem debatida, com consciência. Porque hoje qualquer coisinha que se diga vira um negócio escandaloso. Por outro lado, eu pensaria também na idéia de tributar de maneira diferente a folha de salários para o INSS. Ou seja, não diminuir a receita mas... não diminuir a receita, mas você obter uma outra fonte de financiamento a partir de uma mudança tributária global. Para onerar menos diretamente a folha.
Clóvis Rossi: Pergunta de Leonilda Fagundes, assistente social: "o senhor pretende eliminar a CPMF?"
José Serra: Só no contexto de uma reforma tributária, senão você vai aumentar o buraco na dívida pública. Está certo? A CPMF e outros impostos cumulativos.
Clóvis Rossi: Pergunta de Juliana Pereira. Juliana se puder se identificar, por favor. "Qual a avaliação que o senhor faz do ensino universitário atual, e quais suas metas para as universidades, inclusive no tocante à pós-graduação?"
José Serra: Olha, nosso empenho vai ser para aumentar no mínimo em 50% as matrículas nas universidades públicas do Brasil. Há quem ache até que se pode duplicar. Nós vamos colocar com um piso, uma meta mais realista você aumentar 50%, o que vier em cima disso é lucro. Evidentemente, a pós-graduação deve se desdobrar na mesma proporção. Agora, o que está, a coisa mais importante da universidade, é ela sentir também o seu papel, no caso brasileiro. Está certo? Para que serve? Eu já vi muita gente falando, a universidade pública estagnou, não aumenta o número de vagas. Na verdade nos últimos anos cresceu, cresceu muito nos últimos 8 anos o número de vagas nas universidades públicas. O que falta mais é identidade, um projeto nacional, o Brasil precisa voltar a pensar no futuro. Como era na nossa juventude, Clóvis, que essas décadas da ditadura militar levaram.
Gilberto Dimenstein A idéia de cota está eliminada?
José Serra: Não está, eu acho que essa é uma questão a ser debatida e examinada. Eu tenho uma proposta mais direta para isso, que é estabelecer cursinho pré-vestibular gratuito para famílias de menor renda nas universidades com aulas dadas pelos alunos da universidade. Eu, quando estudava na (escola) Politécnica, eu dava aula de matemática. E digo a você, fazia um empenho enorme. Você tem muito bons professores que são alunos universitários. Se você tem prédio, tem aluno que, com um pequeno auxílio, pode dar aula, você consegue fazer cursinho pré-vestibular para aqueles que atravessaram o ensino médio de baixa qualidade. Que precisam ter mais condição para poder enfrentar o vestibular. É uma medida, se você quiser, retificadora, não corrige a base que é a deficiência do ensino médio que precisa ser enfrentada.
Luis Nassif: Um dos pontos que não foi enfrentado pelo atual governo foi a questão da autonomia universitária e a questão dos critérios de avaliação das universidades, que ficaram restritos aí ao provão. Quais são as suas idéias em relação à autonomia universitária e à cobrança que pode ser feita da universidade?
José Serra: Autonomia na esfera pública, eu sou a favor. Até porque a autonomia não é fazer o que quer. É você ter recursos que você tem que usar melhor. Porque do contrário você não terá. Porque autonomia de outra forma pode gerar abusos, se fica autônomo, torra o dinheiro como bem entender (...)
Luis Nassif: E os indicadores que devem ser criados para cobrar a universidade?
José Serra: Aí (estão) os indicadores do provão e indicadores de relação custo/benefício, relação professor/aluno, pesquisas, produção científica, são indicadores dessa natureza e nós vamos avançar nessa direção. Estou me referindo naturalmente a universidade pública.
Clóvis Rossi: Pergunta de Ricardo Barreto: "Até agora, nenhum candidato abordou a questão ambiental na sabatina da Folha. Em seu programa de governo o senhor afirma que promoverá o crescimento de 4,5% no investimento na agricultura e na produção industrial para exportação. Qual o custo ambiental desse crescimento?
José Serra: Eu não acho 4,5%, se fosse o crescimento do passado que eu gostaria, 7,5% ao ano, essa questão teria mais força. Olha, na agricultura nós temos explorado hoje algo próximo a 40 milhões de hectares. O que me dizem, as informações que eu tenho, é que há 90 milhões de hectares que podem ser explorados sem derrubar uma árvore da floresta amazônica, o que mostra o nosso potencial. Por exemplo, em relação à agricultura, sem provavelmente grandes danos ambientais, uma vez que você tem solo que pode ser explorado sem derrubar florestas não é que esse é o único problema ambiental, evidentemente tem o problema das estradas, tem o problema de ingredientes de pesticidas, e coisas do gênero. Mas eu não vejo isso como um problema realmente crítico para o Brasil. Se a gente tiver, naturalmente, controle nessa área. Eu acho que no Brasil até nos últimos anos o controle aumentou muito porque o Ministério Público é muito ativo, até em excesso nessa área. Eu não condeno, pelo contrário, o excesso, porque ele é uma parte natural de um processo de intervenção que no passado não existia, que com o tempo vai se ajustar.
Clóvis Rossi: Pergunta de Veridiana Ali Montes, estudante, 16 anos: "Quais são os projetos que o senhor pretende realizar em relação à cultura. Que incentivos ao teatro e ao cinema nacional?
José Serra: Olha, quando eu morava no Chile, no exílio, que eu comecei a namorar com a Mônica, que está aqui. Ela era bailarina. É... o balé se apresentava poucas vezes no Teatro Municipal. Sempre implicava com isso. Porque eu gosto muito de balé. E você vê, treina, ensaia, todo dia, treina, treina, treina, e o número de apresentações era muito pequeno. Por quê? Porque boa parte do tempo eles passavam se apresentando sabe para quem? Para escolas, para crianças, viajando pelo país, para os lugares mais distantes, né? Levando realmente a cultura sofisticada, porque balé é uma cultura, é uma atividade cultural sofisticada, exige grandes equipes, cenário, coreografia, enfim, é um negócio complexo, e no entanto levava para grande massa da população, principalmente a grande massa jovem. E realmente nós temos que levar a cultura, e isso vale para o esporte, aos setores que não têm acesso a ela. Para o seu deleite, para sua satisfação, isso é um bem em si e também para reproduzir isso. Uma coreógrafa, como eu vi no Rio de Janeiro, ela é capaz de montar balé para crianças, para jovens homens também. Em 7, 8 lugares com um salário. Essa questão a gente tem que conseguir romper essa barreira no Brasil. Realmente de levar a cultura e trazer a cultura de fora para dentro e de dentro para fora. A questão dos incentivos é outra, outro departamento. Eu acho, eu sou a favor de manter, sou a favor de torná-los mais eficientes e, inclusive, dar incentivos para a compra de espetáculos. Uma coisa é você subsidiar a montagem, seja filme, seja lá o que for, a montagem do espetáculo, outra é você subsidiar o público assistente, está certo? Comprando o espetáculo. Porque eu sou a favor que se estenda também para isso.
Luis Nassif: Hoje, algumas leis, alguns aspectos da lei de incentivo à cultura, permite abater até 100% de cada real que é colocado lá. Isso é correto numa...
José Serra: Se você pegar o montante agregado é pouco. Agora eu acho que aí isso tem que merecer uma revisão quanto a sua eficiência. Mas não quanto ao princípio. Quanto ao princípio eu manteria.
Clóvis Rossi: Pergunta de Regina Maria Rafaelle. Regina, por favor. "Como o senhor estava no governo na época das privatizações, eu gostaria de saber onde foi aplicado o dinheiro delas?"
José Serra: Foi para abater dívida, basicamente. Senão a dívida teria crescido mais. A dívida pública no Brasil não cresceu 10 vezes, conforme um dos candidatos costuma dizer. Ultimamente já não diz porque eu corrigi isso. A dívida cresceu 10 vezes (...). A dívida aumentou em torno de 2 vezes e meia. (...) Antigamente se devia muito para a Caixa Econômica, BNDES, etc, tudo isso foi consolidado num tipo de dívida que é a dívida mobiliária, que não é o caso de entrar aqui a mostrar as suas especificidades. Agora a privatização abateu dívida como aliás isto vinha numa lei já da época do governo (Fernando) Collor e foi aplicado no governo Itamar (Franco), inclusive no segundo semestre de 94, quando foi privatizada a Embraer. E se a gente for pegar hoje os números, nós vamos ver que em dólar a estimativa de privatização no valor em dólar, no governo Fernando Henrique, ou seja, 95 para cá, foi em torno de 50 bilhões. Foi algo próximo a 62,6 bilhões de reais, que pode parecer exagerado, mas havia uma época em que o dólar valia bastante menos. Então tem que levar isso em consideração.E foi basicamente para segurar serviço da dívida que permitiu economizar nos juros. Agora, tem outra coisa, carga tributária, aumento, privatização, tudo isso passa pelo orçamento, Tribunal de contas da união, está na internet e é amplamente controlado por todo mundo.
Clóvis Rossi: O Jorge Murtinho, sem querer, pegou uma carona nessa questão, porque pergunta. Você já falou sobre a primeira parte da pergunta que é a evolução da dívida. Ele quer saber quanto a capacidade do Brasil para pagá-la?
José Serra: Eu acho que não tem muito problema. O próprio Stevens, esse economista do Banco Mundial que foi também do conselho de assessores econômicos do (ex-presidente norte-americano Bill) Clinton, ele mostra isso com clareza. O que precisa ter é um ambiente de calma, de mais tranqüilidade, passar essa ansiedade e a dívida poderá ser rolada. Agora, a médio e longo prazo, o que nós precisamos fazer é baixar os juros, o problema do Brasil não é o tamanho da dívida, é o tamanho dos juros. Essa é que é a questão. Porque se os juros se mantém assim pela eternidade, não haverá superávit primário que agüente segurar um crescimento da dívida realmente insustentável.
Gilberto Dimenenstein: Qual o tempo de limite dessa taxa de juros?
José Serra: Olha, eu acho que até meados da década nós podemos ter uma taxa real um pouco maior da metade da que é hoje. Em termos reais.
Luís Nassif: Todo candidato ou pelo menos muita gente sugere que se mantenha a atual equipe do Banco Central e tudo o mais. Você acredita que o Banco Central foi competente este ano no manejo da política monetária?
José Serra: Olha, no atacado, sim. No atacado, sim. Houve problemas que você mesmo escreveu com relação àquela marcação a mercado, que talvez tivesse deixado para depois, embora a intenção fosse boa e correta. Aquilo que fez foi correto, talvez o momento não fosse o mais oportuno. Mas honestamente eu não acho que isso esteja na origem das complicações atuais e da tensão atual. Eu acho que a tensão atual é muito mais...
Gilberto Dimenstein: O Armínio (Fraga, presidente do BC) fica na sua gestão?
José Serra: Fica, eu inclusive convidei o Armínio para ficar. Parece-me que é importante ter uma transição segura, ter alguém competente, que conheça o riscado, que tenha equilíbrio emocional e que tem experiência imagino...
Gilberto Dimenstein: Fica como transição ou convidado?
José Serra: Pelo menos na transição, depois, se ele quiser, a gente pode ver.
Clóvis Rossi: Muitos analistas atribuem parte da desconfiança financeira a mudança das regras e à introdução da tal marcação a mercado. E agora o governo, o Banco Central, recua exatamente na marcação a mercado. Não dá tanta segurança quanto essa famosa...
José Serra: Eu não acho que aquela questão, se você tiver a tensão atual, ela não explica, a tensão atual, a tensão atual vem de questão de fora. É um problema de peso na explicação daquilo que está acontecendo. A incerteza, a crise americana, a incerteza, o desconhecimento do Brasil e tudo o mais.
Clóvis Rossi: Esses fatores não estavam todos presentes antes e a tensão agora é muito maior?
José Serra: Não, os fatores, tanto que no ano passado eu achava que ia ter problema cambial neste ano. Sempre achei por causa da eleição, das incertezas que abre. Lembra na Coréia, era um país até mais sólido do que o Brasil, a sucessão na Coréia gerou uma incerteza tremenda antes da eleição.
Gilberto Dimenstein: O (Pedro, ministro da Fazenda) Malan também fica ou é só o Armínio?.
José Serra: Não vou formar o Ministério antes de ganhar a eleição. (aplausos). Aí vai dar azar. Eu falei do Banco Central porque era uma coisa relevante.

Gilberto Dimenstein: O Ministério da Fazenda não é relevante. Já vi como vai ser o Ministro da Fazenda...

José Serra: Era relevante dar um sinal a respeito do Banco Central. Agora não imagina que eu, presidente da República, vou ser ministro da Fazenda também, isso não existe. Como seria ter o Scolari de goleiro. Está certo? Não daria certo.

Demais íntegras da sabatina de Serra:

  • 2ª Parte - Perguntas Platéia

  • 3ª e Última Parte - Perguntas Platéia


  • 1ª Parte - Pergunta Jornalistas

  • 2ª Parte - Pergunta Jornalistas

  • 3ª Parte - Pergunta Jornalistas


  • Veja também o especial Eleições 2002
     

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