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16/08/2002 - 18h44

Sabatina Serra: leia íntegra da parte final do evento

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da Folha Online

Na última rodada de perguntas dos leitores, o candidato tucano José Serra responde sobre a Alca, habitação, seu baixo desempenho na campanha e quem apoiaria em um segundo turno entre Lula e Ciro.

Leia a íntegra:

Clóvis Rossi: Pergunta do Fábio.

Pergunta da platéia: Como o senhor enxerga a formação da Alca, qual o papel do Brasil? Eu acrescentaria uma pergunta minha (Clóvis Rossi): o prazo para os países do Mercosul apresentarem as propostas iniciais no caso da Alca é 15 de fevereiro, ou seja, apenas 45 dias depois da posse do novo presidente. Esse prazo é suficiente para o presidente José Serra apresentar as suas propostas de negociação ou haverá um pedido de novo prazo ou empurrar com a barriga?

José Serra: Não, se você olhar bem o regulamento, você apresenta uma proposta, depois vai ser revisada, etc, isso vai para agosto. Está certo? Eu estudei direitinho, na verdade dá para levar para adiante. Não precisa nem ser com a barriga, com a própria regulamentação. Se tivesse que usar a barriga, não teria preconceito. Eu acho que tem que pôr para adiante mesmo. Eu vi direitinho a coisa dos prazos e dá para pôr para adiante.

Gilberto Dimenstein: O Brasil não está preparado para a Alca?

José Serra: Não é para a Alca, o Brasil não está preparado para negociações de comércio sofisticadas quando você, por exemplo, você fala: bens e capital. Você tem economia, a produção dividida em bens de capital, bens intermediários e bens de consumo. Isso não quer dizer nada do ponto de vista de uma negociação. Você tem que desagregar, bens de capital que é para isso, no final você chega a oito dígitos, e nós temos que ter sintonia fina para isso e vamos ter que trabalhar nessa direção.

Clóvis Rossi: Isso implica inclusive definir que setores você protege ou não protege, não é isso?

José Serra: Exato.

Clóvis Rossi: Quais são os setores.

José Serra: Protege, quais você dá sustação de protesto rejeito e quais você não dá sustação de protesto rejeito. O problema do Brasil é esse.

Clóvis Rossi: Quais os setores que o governo Serra dá sustação de protesto rejeita e quais os setores que eventualmente protegerá.

José Serra: Em princípio não vamos dar sustação de protesto para ninguém, em princípio só vamos dar sustação de protesto se a compensação valha à pena. Se o ganho que você puder obter em relação for um ganho mais elevado, está certo? Se você der sustação de protesto para um setor você perde X, se você ganhar X, mas delta X vale à pena, senão não.

Gilberto Dimenstein: Na sua verdade, a Alca vai demorar muito para sair?

José Serra: Vai. Olha...

Gilberto Dimenstein: Se é que vai sair pela boa vontade exposta aqui.

José Serra: Vai demorar não é por nossa causa, não. A Alca poderia ser um grande negócio para o Brasil, se os Estados Unidos removessem as barreiras não tarifárias. O que acontece? O Brasil tem tarifas, deve ser umas 3 vezes a americana. Está certo? se você sentar na mesa achando que comércio é só baixar tarifa, tarifa é o imposto que se cobra da importação. O Brasil vai sair perdendo. Nós já cobramos mais. Acontece que os Estados Unidos usam outros expedientes que nós usamos muito pouco ou não usamos, instrumentos não tarifários, salva-guardas, anti-dumpoing, cotas, escaladas tarifárias. E, por exemplo, o suco de laranja, eu acho escandaloso o dado. Uma tonelada de suco de laranja brasileiro, que entra nos Estados Unidos, paga mais de US$ 400 de imposto especial. Tem cabimento nenhum. Nós podíamos estar inundando os Estados Unidos, literalmente, de suco de laranja, no entanto ter que pagar US$ 400 dólares por tonelada. Se 1 litro tiver um quilo nós estamos pagando 40 centavos por litro. Se um litro tiver 4 copos, 10 centavos de imposto extra por suco de laranja brasileiro. Haja capacidade para competir. Então, eles têm que remover essas barreiras ou admitir que isso vai ser removido senão, não vai dar certo.

Luis Nassif: Do ponto de vista brasileiro, qual é a contrapartida mais custo zero para o Brasil? Vamos supor o seguinte, os Estados Unidos abrem a parte agrícola. O Brasil tem uma competitividade e, digamos, em relação a parte financeira, se quiser que se removam barreiras. Qual seria a pior, eu digo, a mais custo zero contrapartida brasileira?

José Serra: Hoje não tem barreiras, vamos ser francos, hoje não tem. É muito pouco o que teria que se ceder nesse aspecto. Inclusive, de fato o sistema financeiro brasileiro se abriu. Você só tem grandes bancos brasileiros ainda porque eles são mais competitivos, eles sabem fazer um trabalho no varejo e são imbatíveis nisso. O capital estrangeiro não conseguiu entrar aí, não porque houvesse barreira, porque eles perdem a parada.

Clóvis Rossi: Há uma prova que impede a expansão dos bancos estrangeiros ou filiais já instaladas, dependendo do presidente da república? Você, como presidente da república, daria novas ações ou basta?

José Serra: Não, eu não sou sou a favor de desnacionalizar totalmente o sistema financeiro. Acho que chegou num bom tamanho. Eu não iria além disso não. Essa história de: não, na Argentina está ótimo. Ótimo. Os bancos e as filiais de banco estrangeiros vão trazer dinheiro de fora. Veja o que aconteceu. Eles traziam dois, três, meses, e depois? Veja na hora de comprar título de governo. Quem compra? Banco estrangeiro não compra, quem compra é banco internacional ou linhas comerciais para o exterior. Não dá para ficar pendurado em banco estrangeiro não.

Clóvis Rossi: A pergunta de Júlio César Ribeiro.

Pergunta da platéia: Pergunta quais são os motivos do seu baixo desempenho na campanha?

José Serra: Como dizia o Didi, que só o Clóvis e eu sabemos quem era. Meia direita da seleção, o folha seca, campeão do mundo, em 58 e 62, treino é treino, jogo é jogo. O jogo vai começar agora. (aplausos)

Gilberto Dimenstein: Por que se quer, por que a distância tão grande, as pessoas que gostam do presidente, gostam, acham bom, acham ótimo e o seu, isso que me intriga mais. Porque há uma distância enorme entre as pessoas que querem o presidente, apreciam ele como um presidente bom, que avançou o país, e as pessoas que apóiam a sua candidatura. Quando vê quem gostaria de ver o presidente mais tempo, ou quem gostaria de ver, que elogia o presidente se divide entre o Ciro, o Lula e uma parte vai para você. Por que, não houve uma identificação com ele?

José Serra: Você teria que entrar na alma das pessoas porque, na verdade, muita gente que avalia positivamente o governo Fernando Henrique quer continuidade de mudança. Não é uma coisa assim estática. Segundo, tem um problema de informação. Há pouco tempo todo mundo achava que eu era médico. Está certo? E muita gente dizia nas pesquisas: não, o Serra, não, para presidente não não. Ideal que continue no Ministério da Saúde. Porque ele é um médico, boa gente, tal, não vai conseguir enfrentar os economistas. Que aliás é a minha especialidade. Não é aplicar vacina para enfrentar economistas? Então... eu acho que ainda falta muito em matéria...

Gilberto Dimenstein: A culpa não será de uma dubialidade de sua candidatura que nem é oposição e também não parece governo. Isso fica no meio termo e não há uma definição frente a opinião pública?

José Serra: Te digo com toda a franqueza dubialidade seria se existisse na minha cabeça. Não tem a dubialidade na minha cabeça, fui duas vezes ministro d oFernando Henrique. Ele me deu todo o apoio. É óbvio que nesse sentido eu sou o candidato do Fernando Henrique. É óbvio também, olhando a minha biografia, minhas idéias, o que eu fiz, a minha história de vida, que eu também trago a mudança junto. Está certo? Para mim isso não tem contradição. Ao contrário, são duas coisas que se completam, e isto, nós acreditamos, vai se consubstanciar, vai tomar forma e conteúdo ao longo da campanha. Inclusive porque eu insisto, o nosso governo vai fazer diferença em dois aspectos: desenvolvimento, expansão de oportunidade de emprego, projeto segunda-feira e segurança. Mas a educação? Educação e saúde nós vamos aprofundar. Vamos dar continuidade, aprofundando as coisas boas feitas.

Clóvis Rossi: Pergunta de Leon Hilda Fagundes.

Pergunta da platéia: Como será a política habitacional para a classe baixa?

José Serra: Classe baixa tem que ter subsídio. Classe baixa tem que ter subsídio. E aí tem que entrar orçamentário. Na verdade, nós temos muitas fontes de financiamento para habitação, Orçamento da União, que isso é muito disperso, muito pulverizado. Todo o ano tem emendas nessa direção. Orçamento da União, Orçamento dos Estados, Orçamento dos municípios, que todos entram nessa e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, além do sistema brasileiro de poupança e empréstimo. E a contribuição das pessoas. Eu sou a favor de que por mais modesta que seja uma família, sempre tenha algo para pagar. Mesmo subsidiada. Então, nós vamos ter é que montar, reorganizar os mecanismos de financiamento, de subsídio, etc, para que a coisa funcione. Por exemplo, isso não é a família de baixa renda tanto, a questão do sistema de poupança e empréstimo. Hoje menos de 1/3 no Brasil vai para financiar a habitação. O que é um absurdo. Acaba funcionando como um fator de política monetária, como contrapartida da poupança. Eu vou criar, inclusive, um outro incentivo, que existia no Chile, onde eu morei, existia nos Estados Unidos, ondas eu morei, que é poder abater os juros no Imposto de Renda, de quando se compra uma casa. Porque isso, a pessoa está investindo e gera emprego e é uma maneira de poupar. Então, nós vamos realmente impulsionar para adiante. Inclusive pondo para adiante uma modalidade que eu não sei, qual é o nome de quem perguntou?

Clóvis Rossi: Leon Hilda.

José Serra: A Leo Hilda, não sei se ela tem isso presente. Quando eu estive no Ministério do Planejamento, nós trouxemos o setor de habitação para reorganizar, porque a partir dos escândalos do governo Collor se fecharam as torneiras do fundo de garantia e nós reabrimos na minha gestão. Não era algo assim para ficar para sempre, mas trouxe para a gente poder reorganizar. E nós criamos aí uma linha de financiamento para materiais de construção com o fundo de garantia. Nos últimos anos, foram R$ 2 bilhões para isso. Nós vamos duplicar para R$ 4 bilhões porque mais de 70% da venda de materiais de construção, no Brasil, são feitas em lojas para pessoas e para famílias. 80% das casas são feitas ou diretamente pelas pessoas ou por pedreiros que elas mesmo contratam. Isto é uma maneira de aumentar a oferta de habitação e nós vamos multiplicar esse mecanismo. São financiamentos de R$ 2.000, R$ 3.000. O Bradesco, depois que viu que isso aí dava certo, entrou nessa linha também financiando. Independentemente do fundo de garantia. E outro dia eu fui a um encontro de habitação, estava lá o presidente do Bradesco. Eu perguntei a ele como isso funcionava. Ele me disse que o índice de inadimplência, quer dizer, de gente que não paga é baixíssimo. Essa, aliás, é a experiência. Como o crédito popular no Brasil, que tem sempre um nível de cumprimento muito alto. Quanto mais modesta a família, mais paga. Essa é a realidade.

Pergunta da platéia: Qual será o estilo dessa corrida eleitoral? O senhor continuará com as agressões ao candidato Ciro Gomes, como mostrou na música lançada recentemente?

José Serra: Olha, eu, no meu estilo é de debater idéias. E isso... cobrar coerência.

Gilberto Dimenstein: Seu site está atacando pessoalmente.

José Serra: Eu disse para tirar, não foi uma coisa com o meu conhecimento. Eu acho que você me acha meio centralizador. Mas imaginar que eu estou controlando o site, seria um super-homem.

Gilberto Dimenstein: Umas 3 da manhã, não dorme, de noite é só internet pode comandar.

José Serra: Não dá para fazer isso, não sou a favor, não. Agora, na minha campanha, eu debate idéias. E coerência. O sujeito apresenta uma proposta sob sistema, sobre sistema tributário que seria uma insanidade completa para o país eu analiso a questão do sistema tributário. Quando se fala de regime de capitalização da Previdência, eu tenho arrepios, regime de capitalização é assim. O Gilberto hoje trabalha e recolhe para a Previdência, o Clóvis supostamente aposentado, recebe o dinheiro que o Gilberto está pagando. Regime de capitalização significa por uma parede no meio. O Gilberto vai recolher para uma instituição financeira que pode ser pública ou privada. O Clóvis vai receber de quem? ou ele não recebe mais nada ou o governo vai ter que rodar a maquininha. Essa é a proposta para resolver o problema da Previdência do Ciro Gomes. Quando eu faço isso eu não estou agredindo, eu estou debatendo. Se a pessoa tem elementos para responder a isso, então que venha responder. Eu acho que a campanha é confrontar idéias e propostas. Isso é a esse ciência do que eu acho como algo produtivo e criativo para o país. Eu, quando Lula falou a questão da exportação de alimentos, que primeiro tinha que matar a fome do povo para depois exportar alimentos. Eu critiquei a tese, não porque eu não quero acabar a fome do povo, é porque exportar ajuda a acabar a fome. Porque as pessoas ganham renda e vão comprar alimentos e a agricultura tem condição para produzir. Isso é um debate de idéias, se a gente não puder fazer isso realmente, eu não sei o que se poderia fazer. (aplausos)

Clóvis Rossi: O nosso tempo está esgotado. Eu vou juntar as duas últimas perguntas, são perguntas sobre política parecidas, ou pelo menos com algum parentesco.

Pergunta da platéia: Você não pode ficar estigmatizado como ruim de votos caso não passe para o segundo turno e na mesma hipótese se você apoiaria Lula ou Ciro Gomes?

José Serra: Olha, bom, vocês não deixam escolha ou estigmatizado ou apoiando um ou outro.

Clóvis Rossi: A hipótese não passar para o segundo turno. A escolha é passar para o segundo turno.

José Serra: Olha eu tenho uma maneira simples de responder as duas perguntas juntas, eu vou para o segundo turno. (aplausos)

Clóvis Rossi: Muito obrigado ao candidato José Serra, obrigado a todos, estou passando a ele o pacote de perguntas que não puderam ser formuladas para que ele eventualmente responda diretamente. Está aqui a prova de que o pacote está entregue (aplausos).

Íntegras da sabatina de Serra:

  • 1ª Parte - Pergunta Jornalistas

  • 2ª Parte - Pergunta Jornalistas

  • 3ª Parte - Pergunta Jornalistas


  • Veja também o especial Eleições 2002
     

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