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16/08/2002 - 18h43

Sabatina Serra: íntegra da 2ª parte das perguntas da platéia

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da Folha Online

Leia abaixo a parte da sabatina de José Serra em que ele continua a responder às perguntas formuladas por leitores da Folha que participaram do evento.
Nesse trecho, Serra fala sobre aborto, reforma tributária, transposição do rio São Francisco e como o Nordeste seria tratado em um suposto governo. Também responde sobre programas como o bolsa-escola.
A sabatina foi feita por leitores da Folha e pelos jornalistas Eleonora de Lucena, editora-executiva do jornal, Clóvis Rossi, Gilberto Dimenstein e Luís Nassif, colunistas e membros do Conselho Editorial da Folha.
Esta é a penúltima parte da íntegra.
Clóvis Rossi: Pergunta de Eduardo Fusca, Eduardo, por favor. "Se o senhor é a favor do aborto?"
José Serra: Não.
Gilberto Dimenstein: Não, como? A pessoa é obrigada a se submeter a uma clínica clandestina porque o aborto é proibido?
José Serra: No caso de estupro, o Ministério da Saúde até regulamentou a, digamos, o aborto que é permitido por lei. Eu fui muito atacado por isso, defendendo a generalização do aborto, os abusos, etc. Agora se me pergunta sou a favor do aborto, não.
Gilberto Dimenstein: Não é melhor...
Clóvis Rossi: Não é legislação, o ato em si.
Gilberto Dimenstein: Não é muito mais condenável uma moça ser obrigada a recorrer aos métodos clandestinos a ter um...
José Serra: A margem para o abuso vai ser uma coisa descomunal. É a mesma coisa da questão da maconha (...)
Gilberto Dimenstein: No seu ministério, houve uma grande discussão porque há 1 milhão de adolescentes que engravidam neste país. Boa parte delas sem condições de manter uma criança. Legalizar o aborto não seria uma forma de garantir que a moça pudesse ter uma gravidez desejável?
José Serra: Na hora que você legalizar o aborto, no caso dessa adolescente vai ser um morticínio, porque aí mesmo...
Gilberto Dimenstein: Morticínio tem hoje.
José Serra: Mesmo o trabalho que você tem que fazer junto a família, de esclarecimento, para combater a gravidez na adolescência, que é, em geral, é uma coisa muito ruim. Para a jovem que não está formada, em geral de classe mais pobre. Eu tive até um conflito nessa questão público em relação a esse assunto. Agora, no Brasil de hoje você fazer isso, você vai ter um negócio, como abrir comportas não para evitar a gravidez na adolescência, mas para resolver por esse método e você pode imaginar o que pode acontecer.
Clóvis Rossi: Pergunta da Ricardo, desempregado há dez meses. Ele quer saber se a política de geração de empregos de Fernando Henrique deu errado e por quê? Era um dos cinco dedos também, não era não, Serra?
José Serra: Era agricultura, alimentos, emprego, segurança educação e saúde. Eu acho que na educação e na saúde avançou-se bastante, na produção de alimentos, também. Haja vista a questão da cesta básica e.... Na questão da segurança, nós analisamos e a questão do emprego não mudou. Por quê? Por causa dos problemas agregados do conjunto da economia. No primeiro período, a crise, a sobrevalorização cambial, no segundo momento, crises internacionais que impediram que a coisa entrasse nos eixos. Na minha opinião, nós temos condição e vamos vencer essa barreira proximamente. Eu gostaria que esta pessoa, este jovem que fez a pergunta, acompanhasse isso e controlasse seriamente para depois me questionar quando eu estiver na Presidência. Ricardo, mais um motivo para você se deixar fotografar. Porque ele sabe que tem o direito de cobrar diretamente. Sei que a folha já anotou para quando eu estiver na presidência me cobrar.
Clóvis Rossi: Tenho o e-mail dele.
José Serra: Eleonora fazendo olhares significativos.
Clóvis Rossi: Pergunta de Luiza Rebouças, Luiza, por favor. Ela volta a questão da mudança das regras do fundo de investimento para politizar a questão. Pergunta se a mudança foi prejudicial à candidatura Serra, uma vez que desencadeou um processo de desconfianças e saques.
José Serra: Não acho que isso explique muita coisa do que aconteceu hoje. Mas se o tempo voltasse para atrás, seria melhor não ter feito.
Clóvis Rossi: Pergunta de Marlene de Souza. Poderia se identificar. A bagunceira (aplausos), muito bem. "O Presidente Fernando Henrique diz que já mandou a reforma tributária desde o início do ano e ela não foi votada. Mas o senhor não acha que se ele tivesse lutado junto ao Congresso da mesma forma que lutou para a reforma da constituição pela reeleição, a reforma tributária já teria sido aprovada?"
José Serra: O problema aí da reforma tributária é diferente da reeleição. Na época da reeleição, todo mundo queria, menos a oposição. Todos queriam. Os partidos, a grande maioria, etc. Inclusive pesquisa de opinião pública também. A questão tributária, o que é que acontece? Empresário quer pagar menos imposto, empresário da indústria não quer imposto à circulação, o empresário do comércio não quer imposto de vendas à varejo, que os da indústria gostam, manter fiscal em cada biboca. Os deputados, principalmente deputados e senadores, querem mais dinheiro para Estado e município. Alguns governadores querem ampliar a guerra fiscal, outros querem restringir alguns Estados, outros não querem guerra fiscal em lugar nenhum. Você soma tudo na mesa e a resultante é negativa. A meu ver se equívoco o governo cometeu, foi ouvir demais. Chega um certo momento (aplausos) em que deve dizer o seguinte: a proposta é essa e vamos em frente. A minha qual é? Basicamente evidencio na competitividade da economia. Quando eu estava na saúde, nós tiramos impostos de medicamentos, de uso continuado e de antibióticos. Dizem que eu boicotei antibiótico porque sou hipocondríaco, mas não é verdade. Exatamente por ter um pouco de hipocondria, não gosto de tomar antibiótico. Agora, nós tiramos o PIS e o Cofins dos medicamentos, o PIS e o Cofins somados são 3,6%. Qual foi o efeito no preço final? Mais de 10%. Porque cobra na matéria-prima, cobra na produção, cobra no comércio. Ou seja, a gente mostra como isso, como é a cascata na prática. O produto importado não paga isso. Chega e não paga. O produto doméstico paga. As exportações carregam uma parte disso para fora. Então isso conspira contra a produção nacional. A produção nacional, quer dizer, a produção doméstica. E este tem que ser o foco da reforma tributária, se quiser dar para a reforma tributária o objetivo de retribuir dinheiro dentro da federação, fazer justiça social, aliviar a indústria com relação ao comércio ou o comércio com relação à indústria e além disso aumentar a competitividade a resultante é menor do que zero.
Eleonora de Lucena: Ministro só pegando a carona...
José Serra: Esse é um assunto, desculpe Eleonora, que eu tenho experiência, embora fosse uma disciplina chata eu dava aula na universidade sobre tributação. Tudo teórico não conhecia na prática. Depois, na constituinte eu fui o relator do capítulo tributário e vi, ganhei livre docência no assunto, como os interesses pesam, as coisas todas. Tudo isso que se fala, juntar IPI, ICMS num único imposto etc. eu levei para a constituinte. Há 15 anos, vai ver como é a coisa na hora. A gente tem que ter um único objetivo e atuar em função dele, concentradamente.
Eleonora de Lucena: Queria pegar carona nessa pergunta. O senhor disse em dois de julho de 2000 que a reeleição não funcionou bem. O senhor continua com essa idéia?
José Serra: Eu acho que, eu parei de falar no assunto porque eu estou candidato e se tem uma regra do jogo determinada a gente se submete às regras do jogo. Eu não teria nenhuma dificuldade, posteriormente, a reavaliar se essa fosse a intenção do país. Porque não vai poder ser alguém que seria afetado pela mudança de uma regra. Está certo? A gente coloca numa posição mais delicada quando você é candidato e participa com determinada regra do jogo.
Gilberto Dimenstein: A reeleição prejudicou o país?
José Serra: Eu acho que não.
Gilberto Dimenstein: O fato da reeleição fez com que algumas medidas fundamentais da economia tivessem sido evitadas, o que jogou a bomba para o governo seguinte?
José Serra: Eu não acho. Sinceramente, acho que de fora pode ser plausível. Tinha que fazer tal coisa e não fez. Eu acho que o problema do câmbio foi em 95, 96. Eu tenho, essa é a minha análise, não 97, 98. Digamos, a coisa tinha cristalizado nesse período. O que eu vejo é o seguinte, se tivesse tido, com aquela pressão cambial, com a crise da Rússia, antes a do sudeste asiático, etc., etc., uma mudança de pessoa, a transição para um regime de câmbio flutuante teria sido muito mais traumática do que foi. Eu não sei o que poderia ter acontecido. Teria sido do México para cima. No Brasil a transição foi suave e em dezembro de 98 o câmbio era 1 dólar, 1,2 real, no ano passado chegou a 2,80, a inflação teria que ser movida por 1/5 do aumento do câmbio, isso não teria acontecido com uma mudança de governo, propriamente dita. Teria sido muito mais complicado por causa das incertezas que hoje tem, estariam na época só que numa situação mais complicada.
Luís Nassif: Para não fugir da questão da reforma tributária, independentemente da reforma que se faça, temos uma carga tributária hoje excessiva. Quais são seus projetos para redução dessa carga tributária?
José Serra: O único jeito de reduzir a carga tributária é a economia crescer. O gasto público, se crescer 3,4% ao ano, e a economia crescer a 4,5, 5, ou 6, você tem aí uma redução natural da carga tributária. Está certo? Essa é a questão fundamental. Porque você tem um problema de simultaneidade. (...) Você tem que ter uma maior racionalidade nesse sistema. Está certo? Você tem dois mundos que pagam impostos e não pagam impostos. Você quer um exemplo na previdência. Contribuição do autônomos, ela é muito alta, uma parte mínima paga. Eu acho que tinha que ter uma contribuição menor para mais gente pagar.
Luis Nassif: Você que é governo, você sabe que dentro de governo qualquer, você não tem espaço vago em termos de tributação. Se a receita, todo o excesso de receita é apropriado pelo governo. Não é o caso de estabelecer um limite para... para essa apropriação de tributação do PIB?
José Serra: Ou seja, de enfiar por exemplo na LDO?
Luis Nassif: Isso.
José Serra: Acontece que isso é uma resultante a posteriori, você tem na verdade que controlar o gasto, não a receita. Você percebe? Se o gasto vai atrás, aumenta o déficit. Por isso eu não acredito muito na hipótese de você dizer: não, pela lei não pode crescer a receita acima de tanto. Sim, mas aí se o gasto crescer não adianta nada, vai ter que correr atrás.
Luis Nassif: Se não dá limitação para o gasto, ele sempre vai crescer.
José Serra: A limitação para o gasto você pode dar no plurianual e na LDO. Essa é uma questão concreta a ser colocada. Aliás, as duas coisas. Eu acredito tanto em planejamento que a própria existência da Lei de Diretrizes Orçamentárias e o plano plurianual foram emendas minhas na constituinte para dar um horizonte para o país de planejamento de médio e longo prazo. Eu defendo o planejamento nesse sentido.
Clóvis Rossi: Duas perguntas ligadas, sobre o Nordeste, Marcos Rodrigues e a Veridiana. O Marcos diz que o senhor é muito ligado a São Paulo... perdão?
Gilberto Dimenstein: Márcia.
Clóvis Rossi: Márcia.
José Serra: Cadê a Márcia.
Clóvis Rossi: Márcia Rodrigues. A letra está impossível de ler, Márcia, mas tudo bem.
José Serra: Ondas ela está?
Clóvis Rossi: Bom. Ela diz que o senhor é muito ligado a São Paulo e a sua elite. Como ficará, no seu governo, o Nordeste do Brasil? A Veridiana pergunta, também sobre os planos para o Nordeste, e acrescenta se o senhor é a favor do desvio do rio São Francisco?
José Serra: Olha aqui, a minha origem não é de dentro da elite. Pelo contrário. A minha origem é de família modesta de imigrantes trabalhadores. Isso só para esclarecer também quanto à origem social. Eu tenho muito pouca vivência dentro, pelo menos da elite econômica. Claro que se a gente vai para a universidade, isso e aquilo, eu sou professor universitário, passa a ser da elite intelectual, mas eu não enquadro isso como algo depreciativo. A respeito da questão de identidade com São Paulo, eu sempre fui um político nacional. Desde a época estudantil. Primeiro sou de família de imigrantes, a gente, primeira geração, então a gente tem uma visão do país como um todo, maior. Segundo porque eu fui líder estudantil e com pouca idade, enfim, pude conhecer todo o Brasil quando era presidente da UNE, me metendo na luta política e nas encrencas políticas nacionais.
Isso me custou 14 anos de exílio, eu aprendi a olhar o Brasil como um todo. Eu aprendi a olhar o Brasil como quando o homem chegou à lua, e olhou a terra como um todo. Essa é uma visão que só a distância pode permitir. De enxergar o país como um todo. E a minha atuação parlamentar na esfera nacional e no Ministério sempre foi uma atuação nacional. Tanto que o nordeste, no caso da saúde, teve uma destinação de recursos privilegiada. O grande salto que o Nordeste teve em matéria de saúde foi na minha gestão. Programa de saúde da família, agentes comunitários, investimentos em hospitais, pusemos tanto agente de saúde que acabou o cólera. Está certo? O cólera é basicamente uma questão de pingar as gotas de hipoclorito. Não me lembro mais a composição, duas ou três, o pessoal aprendeu como tratar. De maneira que eu vejo o Brasil como um todo e desenvolvimento como um todo. Não dá para desenvolver o Brasil com o Nordeste ficando para atrás, com a Amazônia não se envolvendo também, chutando o Sudeste para baixo. O Brasil tem que ser olhado como um todo. E essa é a esse ciência da minha política, da minha vida, da minha, das minhas idéias a respeito do Brasil. O Nordeste tem um potencial tremendo em matéria de exportação, de desenvolvimento, tem condições climáticas que podem ser revertidas, não as condições, que podem, o aproveitamento delas ser revertido favoravelmente. Para muitas culturas. Tem, em alguns lugares, boa capacidade empresarial. Eu concebo o Nordeste como uma área que virá, será cada vez mais dinâmica no Brasil.
Agora, sobre a transposição do rio São Francisco. O fato é o seguinte, metade do Nordeste é contra, 20% não tem opinião, 30% é a favor. É uma questão política crítica. Além da questão técnica. É uma questão política de peso. O que eu defendo, acima de tudo, é a revitalização do São Francisco. Inclusive botando mais água no São Francisco. Porque aí resolve o problema. Inclusive toda a discussão. E tem duas possibilidades para isso. Obras em Minas Gerais para botar mais água no São Francisco, em Minas, desviando rios e etc., ou a transposição do Tocantins. Qual é o estágio que eu estou nessa matéria? O pessoal está avaliando custos. Mais acho que um outro será um projeto de longo prazo em que vale a pena embarcar. Porque o São Francisco é progresso, mais do que qualquer outro rio brasileiro. Mais até do que foi o Tietê, no caso de São Paulo, o São Francisco é fundamental para uma grande área do Brasil.
Clóvis Rossi: Pergunta de Valdo Lima. Ele volta a questão dos exorbitantes lucros bancários, faz o contraponto com o grande crescimento da população com fome. Antes de FHC eram 36 milhões, mais ou menos, hoje seriam 55 milhões, quase dobrou, diz. E pergunta se FHC contava com sua eleição para resolver esse dilema?
José Serra: A sua dele ou a minha.
Clóvis Rossi: Suponho que seja a sua.
José Serra: Agora, a questão é a seguinte, primeiro a pobreza no Brasil. O nível de pobreza não aumentou. Eu não tenho aqui o número. Mas o nível de pobreza absoluta diminuiu no Brasil. Mesmo os dados do IBGE, que apontaram uma maior concentração de renda, são dados de rendimentos do trabalho, nem o governo soube explicar isso direito. São rendimentos do trabalho, não levaram em conta, por exemplo, aqueles 30 bilhões que o Gilberto se referia, de elementos de proteção social, que nada, nada, são 2,6% do PIB. Que é retribuído por aí.
Portanto, eu não, não estão corretas análises que dizem que que a pobreza no Brasil aumentou ou que piorou a situação. Não melhorou tanto quanto a gente gostaria, quanto, tanto quanto a sociedade deseja. E este é o objetivo crucial nosso, nos próximos anos. É... eu tornei viável, tornei um benefício concreto, com volume, o seguro desemprego. Tirei o papel, não foi idéia minha, aliás eu tinha 4 anos de idade quando o seguro desemprego foi inventado na constituição de 1946. Depois, o governo (José) Sarney criou uma espécie de auxílio desemprego. Mas não tinha volume, peso, abrangência, nós, na constituinte, através de emendas minhas e depois projetos de lei, vários, entre eles meus, viabilizando-se o seguro desemprego. O seguro desemprego hoje atende até mais de 5 milhões, 4 milhões e 700 mil pessoas, mas aí nós temos que ter emprego, está certo? As medidas retificadoras não resolvem. Daí essa ciência do nosso projeto segunda-feira. Eu insisto no nome, segunda-feira, porque segunda-feira é o dia que pesa para quem está desempregado. Está certo? Sexta-feira é a expectativa do descanso, segunda-feira é a do trabalho, e é nisso que nós vamos estar concentrados. Vocês podem estar certos de uma coisa: nós vamos mudar essa situação. Isto vai acontecer no Brasil nos próximos anos. Aqui está a Folha que não vai deixar mentir porque vai estar controlando isso, os leitores, os jornalistas e tudo o mais.
Clóvis Rossi: Pergunta de Edson Santana. Edson, por favor, se puder se identificar. Ele formula duas hipóteses para o famoso episódio da Lunus: o governo ou o senhor teriam feito alguma leitura errada quando atacaram a invasão do escritório do marido da então candidata Roseana Sarney e deu no que deu, perdendo-se o apoio do PFL, ou foi o PFL que a pretexto do episódio aproveitou para, já prevendo que a sua candidatura não decolaria, sair apoiando outro candidato com mais possibilidades, o que aliás é característica deles.
José Serra: Quanto a primeira hipótese, ela não existe, o que aconteceu lá foi Justiça e Ministério Público. Isso é o que aconteceu. Outra coisa, não é o que se diz. Não tem nada a ver com o governo, com candidaturas, nada. Portanto não foi uma escolha isso. Quanto aos desdobramentos da segunda hipótese, eu realmente me sinto desconfortável para analisar, sendo candidato tão interessado em ganhar a eleição e estou confiante de que vou ganhar. De maneira que eu não tenho condição agora de especular sobre isso.
Gilberto Dimenstein: No seu governo, vai estar o PFL?
José Serra: Uma parte que quiser estar estará. Eu vou formar uma maioria. Nós vamos precisar de uma maioria. Você, experiente repórter que foi em Brasília, sabe que é importante ter uma maioria.
Gilberto Dimenstein: É uma tentativa de aproximação com o grupo de Antonio Carlos Magalhães?
José Serra: Não fiz nenhuma.
Gilberto Dimenstein: Vai tentar fazer ,caso seja necessário, para formar a maioria?
José Serra: Caso seja necessário, eu espero e não seja necessário. (aplausos).
Clóvis Rossi: Pergunta de Pedro Gomes, se puder se identificar: "Qual o seu compromisso com a reforma agrária? O senhor pretende fazer? Qual o compromisso, seu compromisso, com a reforma agrária? Se o senhor pretende fazer uma ampla reforma distribuindo toda a área demandada ou vai acabar inflando os números como ocorreu no governo Fernando Henrique Cardoso e qual a sua opinião frente ao movimento do sem terra?
José Serra: Olha, números errados ou certos, o fato é o seguinte, o que o Fernando Henrique fez em matéria de assentamento supera toda a soma que foi feito antes. Independentemente dos ajustes que a Folha numa ocasião, aliás uma boa reportagem investigativa, mostrou que se superestimou o volume do que tinha sido feito. Mesmo não superestimando é mais do que foi feito no passado somados todos os governos. Agora o que é importante no caso daquilo que foi feito? Fazer o pessoal ter condição de produzir. A prioridade agora é tornar esses assentamentos boas propriedades familiares do ponto de vista produtivo e da renda que as pessoas têm. Isso custa muito. Porque reforma agrária até é um detalhe. Depois tem crédito, assistência técnica, condições de moradia, escola, comercialização e tudo o mais. Então, nós vamos continuar com os assentamentos num ritmo da demanda e no ritmo das possibilidades econômicas também porque não adianta nada, e recriando a pobreza em assentamentos que têm condições de produzir. Outra questão que eu queria acrescentar é do banco da terra que está tendo uma boa experiência. Já tem, eu acho, em torno de 5.000, não tenho certeza, em torno de 50 mil famílias beneficiadas. São terras compradas em 20 anos, com juros de até 4% e que têm tido um impacto interessante, inclusive no sul do Brasil. Nós vamos dar força para essa modalidade, que também é da reforma agrária no sentido de reproduzir a propriedade familiar; em última análise, é o que a reforma agrária acaba trazendo.
Quanto ao problema do movimento sem terra, a questão crítica aí é outra, é se é correto admitir a invasão de propriedades produtivas, como aconteceu no Rio Grande do Sul, complexo Ana Paula, chamado assim, uma fazenda de 15 mil hectares, craque, campeã de produtividade, produzindo para exportação, foi invadida. Por quê? Porque era grande e produzia para exportação. E houve corpo mole do governo estadual na retirada dos invasores. Quer dizer, isso eu acho que francamente não dá para aceitar porque a partir daí, daqui a pouco vai se invadir hotel, porque vai se alegar que é para estrangeiro vir e invadir indústria, como já foi invadida a fábrica da Parmalat que eu vi uma vez também no Rio Grande. Isso não dá para aceitar. Lembra a questão do seqüestro, no começo era só para ricasso, hoje eu soube, há pouco tempo, seqüestraram dono de padaria, prefeito de cidade pequena que não tinha muito dinheiro, etc., etc., vai se banalizando a transgressão e o crime. Isso não pode acontecer. Eu sou absolutamente contra e não vou permitir isso no meu governo. (aplausos).
Clóvis Rossi: Mariana Borges Martins da Silva. Se ela puder se identificar, por favor. Ela diz o seguinte, o senhor valoriza tanto os planos sociais do governo Fernando Henrique Cardoso que além de serem paliativos como a bolsa escola são um canal para corrupção em cidades menores onde o dinheiro destinado às famílias pobres é desviado para prefeitos e vereadores. O senhor pretende continuar com essas políticas que são falhas, distanciam o cidadão do governo, não passam de esmolas e são uma confirmação de que o PSDB não acredita que seja possível tratar os pobres do país com dignidade?
José Serra: Como é o nome dela?
Clóvis Rossi: Mariana Borges Martins da Silva.
José Serra: Olha, Mariana, eu não tenho a certeza que você tem em duas coisas, que tudo está sendo mal utilizado, primeiro. Segundo, que isso é assistencialismo em estado puro. E terceiro, eu não acho errado fazer assistencialismo.Depende do setor, se é um setor muito vulnerável, tem que ter assistência sim. É a mesma coisa da pensão, do auxílio para quem não pagou a aposentadoria e, no entanto, meu pai se beneficiou disso. Porque ele não recolheu a aposentadoria, chegou, não tinha aposentadoria, com 70 anos pôde ganhar um auxílio. Isso é puro assistencialismo e não está errado fazer. Agora, a questão da bolsa escola , ela não é assistencialismo puro. Veja bem, não tenho preconceito com o assistencialismo, mas ela não é assistencialismo puro. Ela exige como contrapartida a freqüência na escola. O estímulo para que a família mande está criança para a escola. Pode ter desvios? Tem. Mas aí se tiver vamos reformar e vamos corrigir. Porque eu me enfrentei com essa questão em relação ao SUS. A elite brasileira o que queria? Jogá-lo pela janela. Por quê? Tem desvios, tem fraudes, atendimento em hospital, isso e aquilo. E a elite, quer, toda vez, eu não estou dizendo se que é o caso dela, mas eu estou dizendo inclusive a elite econômica, quando olha um serviço público funcionando mal, a tendência é jogar a criança junto com a água do banho pela janela. Não vai jogar só a água, vai jogar a criança junto. Não, o que nós temos que fazer era reformar. Se a bolsa escola tem tanto desvio, nós temos que avançar nos mecanismos de controle.
Agora, a erradicação do trabalho infantil, podemos, porque teria em tese o mesmo problema. Deveria existir crianças trabalhando no corte de cana como eu vi? Crianças de 6, 7 anos cortando cana? Não tem cabimento. Que pode ter desvio? Pode. Mas esse é um drama, sempre que existe em matéria de serviços sociais, funciona mal, vem o pessoal e quer eliminar. Eu não sou dessa escola. Está certo. Nunca fui. Eu sou da escola de que tem que ter gasto social, tem que ter programa seletivo, tudo como contrapartida e que tem que reformar, controlar e fazer funcionar melhor. Essa, aliás, não é uma visão estritamente do PSDB, porque programas como esse têm inclusive em amplas áreas da oposição, como é o caso do PT.

Demais íntegras da sabatina de Serra:

  • 3ª e Última Parte - Perguntas Platéia


  • 1ª Parte - Pergunta Jornalistas

  • 2ª Parte - Pergunta Jornalistas

  • 3ª Parte - Pergunta Jornalistas


  • Veja também o especial Eleições 2002
     

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