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23/08/2002 - 18h14

Sabatina Genoino: leia a última parte das perguntas dos leitores

da Folha Online

Nesta última parte da sabatina da Folha, o candidato José Genoino (PT) _último a ser ouvido entre os candidatos ao governo do Estado de São Paulo_ responde perguntas formuladas pelos leitores do jornal, presente a mais este evento do ciclo de sabatinas da Folha.

Entre outras questões, o candidato fala sobre a ocupação de áreas de mananciais, sem-terra e até de religião.

Fernando Canzian: Deputado, o Tiago de Carvalho, estudante, volta aqui ao Caso Santo André ele pergunta: um desvio de verba de R$ 40 mil reais é troco, como o Lula disse?

<>José Genoino: Em primeiro lugar, eu vou reafirmar o que eu já respondi sobre Santo André. As investigações aconteceram, estão acontecendo, a representação foi feita no Ministério Público e nós vamos esperar a decisão da Justiça, que está para decidir sobre os problemas que aconteceram na administração de Santo André _que não têm nada a ver com a candidatura do Lula, com o presidente do partido, José Dirceu, e que nós estamos muito à vontade para acompanhar e aceitar as investigações e a decisão da Justiça.

Fernando Canzian: Qual o comentário que o senhor faz em relação a declaração do candidato?

José Genoino: A declaração do Lula?

Fernando Canzian: Isso.

José Genoino: Primeiro que nós temos que examinar e olhar o contexto...

Fernando Canzian: Em relação a essa declaração...

José Genoino: O Lula estava se referindo, no caso desse valor aí, aos escândalos que existem de corrupção. Mas o próprio Lula, com essa declaração, não está fazendo nenhuma (corrupção), tomando nenhuma posição em relação a admitir qualquer tipo de corrupção, independentemente do valor.

Fernando Canzian: A senhora..., desculpe-me parece que estou pronunciando errado. Professora.... (Pergunta da platéia) O que o seu programa prevê para a proteção de mananciais em áreas já ocupadas?

José Genoino: Olha, em relação às áreas já ocupadas eu costumo dizer que é como aquela história:, a pasta do tubo de dente, o creme que sair não volta. Nós temos uma situação de fato. Primeiro, nós temos que discutir, junto com a população local, qual o limite de legalização para não comprometer os nossos mananciais e, principalmente, as duas represas principais, Guarapiranga e Billings. Fazer uma legalização racional, negociada com a população, um acordo para não avançar na ocupação dessas áreas. Segundo, garantir o investimento para preservar essas áreas. Tanto em relação à serra do Mar, tanto em relação às nossas represas. Por exemplo, a serra da Cantareira tem que ter uma política de preservação em que o uso e a legalização da ocupação não pode ter uma continuidade. Nós temos que fazer uma negociação com essa parcela da população que já vive nessas áreas ocupadas. E temos que fazer um trabalho que envolve também as prefeituras dessas áreas e a iniciativa privada.

Nilson de Oliveira: Só uma questão... O que o senhor acha dessa lei recentemente aprovada na Assembléia Legislativa sobre o uso de mananciais?

José Genoino: Olha eu acho que a lei partiu de uma situação de fato, ela tentou legalizar a situação de fato. Eu acho que o governo do Estado, no meu governo, nós primeiro negociaremos com a Assembléia Legislativa uma lei que garantisse a legalização, não em termos amplos, como a lei sinaliza... eu acho que deveria ter algumas limitações. Nem tanto ao céu nem tanto a terra, nem 8 nem 80. . E fazer essa legalização com alguns cuidados, com algumas prevenções previamente definidas na ação do governo com a população que ocupa aquelas áreas.

(Pergunta da platéia): O senhor pretende renegociar a dívida do Estado de São Paulo com a União? Se sim, em que moldes deve se dar essa renegociação?

José Genoino: Tem dois ítens da dívida que eu quero discutir com o futuro Presidente da República, que eu espero que seja o governo Lula. Que é o item da venda do Banespa. Porque o governo do Estado, ao vender o Banespa, aceitou um acordo em que o valor descontado da dívida foi apenas o valor avaliado de R$ 1 bilhão e 800 milhões _e o valor do ágio que chegou a R$ 5 bilhões e 200 milhões não foi abatido da dívida de São Paulo. Isso nós vamos examinar. Até porque o governo do Estado deu, para esse ágio tão grande, a conta do Estado para o Banespa _por 7 anos. E eu pergunto: o que é que o Estado de São Paulo ganhou com essa negociação? Nós queremos discutir isso.

Segundo ponto da negociação, a federalização da Ceagesp, que não foi privatizada. Ela é fundamental para o Estado de São Paulo ter centrais regionais de abastecimento, e nós pretendemos discutir realmente essas questões.

Eu considero que a negociação da dívida de São Paulo foi uma negociação mal feita pelos dois governos _do primeiro governo do Mário Covas e no segundo governo Mário Covas e Alckmin. O governo de São Paulo aceitou as imposições da política econômica do Malan, da política econômica cambial para para fazer uma negociação errada para os interesses de São Paulo. Mas nós vamos governar respeitando contratos, respeitando as normas. Agora, esses dois ítens nós vamos querer discutir. Deixei muito claro quais são os dois ítens. E não vamos dar continuidade ao programa estadual de desestatização. Para nós, a geração de energia elétrica, as águas, saneamento e a Nossa Caixa Nosso Banco não passarão por nenhum processo de privatização.

Fernando Canzian: Deputado, na discussão que houve no início do governo Fernando Henrique sobre a desestatização, o senhor foi, como PT, contrário à desestatização de vários órgãos e empresas públicas. No entanto o senhor era a favor da desestatização das empresas telefônicas estaduais, e chegou a se posicionar a favor. Eu gostaria de perguntar para o senhor, vendo agora o resultado. Quer dizer, o governo federal teve que negociar, à beira de negociar uma espécie de "pró-fone" (em alusão ao Proer), as empresas com problemas financeiros, o dinheiro da privatização tendo sido queimado aí, boa parte para pagar juros da dívida. Qual o balanço que o senhor faz dessa privatização?

José Genoino: O balanço é negativo e vamos deixar isso muito claro. Eu, quando discuti a privatização, eu defendi, na Câmara Federal, que a bancada do PT negociasse a preservação preservação de algumas empresas e outras, dependendo do modelo, nós podíamos discutir a privatização. Por exemplo, a questão da telefonia.

A Embratel jamais poderia ser privatizada. Porque se a Embratel é pública, a privatização das telefonias estaduais não teria grande problema porque você mantinha o fundamental, que era o quê? Longa distância, satélite...

Segundo problema que eu defendia, a Vale do Rio Doce: não privatizar. Porque era uma empresa globalizada e a exemplo da Embraer disputava no mundo a chamada marca Brasil. E não deveria ser privatizada. Como não aceitei a privatização da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, nem da Petrobras. Em relação à geração de energia me coloquei claramente contra a privatização da geração, da geração (de energia). A distribuição, desde que fosse um processo transparente com o governo controlando a geração, nós poderíamos discutir. Eu estava absolutamente correto. Veja a situação da Embratel hoje. Veja a situação da geração de energia com o apagão. E a geração de energia em São Paulo? Só não foi privatizada a Ilha Solteira, Porto Primavera, Jupiá porque nós entramos na Justiça, nós entramos na Justiça contra a privatização. Apoiando o sindicato.

Portanto, nós queremos defender aqui que algumas empresas são estratégicas, que o governo não deveria perder o seu controle acionário. Tipo, vou repetir: Embratel, Vale do Rio Doce, Banco do Brasil, Petrobras, Caixa Econômica, Nossa Caixa e, no caso da energia, a geração da energia hidrelétrica, fundamental, está sob o controle público.

Fernando Canzian:O leitor Sérgio Russo, professor... (pergunta da platéia) Como se pode atender aos interesses para o assentamento de sem-terra e a preservação do meio ambiente? Aproveito para perguntar qual seria o seu relacionamento com o MST, eventualmente, como governador?

José Genoino: Será um relacionamento democrático. Sou contra a invasão de terras produtivas, sou contra a invasão de fazendas legalmente constituídas. Eu sou favorável a uma reforma agrária, em áreas de devolutas e terras improdutivas, e vou negociar com o MST assentamentos decentes para se produzir, viver com dignidade e condições de vender o que se produz. Ter nos assentamentos escola, qualidade de vida, assistência à saúde, assistência na área de educação e, principalmente, assistência financeira, assistência e crédito.

Vou negociar com o movimento dos sem terra, democraticamente. O meu governo respeitará todos os movimentos sociais porque a democracia se baseia na negociação de alto nível. Em relação à questão do meio ambiente. Nós vamos negociar, seja com assentamentos, seja com áreas de ocupação dos sem-teto, as razões pelas quais uma determinada área não pode ser ocupada. Nós vamos usar o convencimento, a paciência e o diálogo para não tratar os movimentos sociais na base do grito, na base da violência.

Fernando Canzian: Uma decisão judicial onde a Justiça mandasse a PM tirar centenas de famílias de uma área invadida... como o senhor agiria?

José Genoino: Vou agir, Fernando, da mesma maneira que proporciona o Congresso Nacional. Uma proposta de lei, no Congresso Nacional, que quando se tratar de decisão judicial, o governo do Estado tem que agir no limite para fazer a negociação sem jamais usar a violência, no limite da força, sem violência. E qual era a condição para isso, que eu apresentei um projeto de lei junto com o Dutra? Que a autoridade que dá autorização para desocupar ela esteja presente. Ao juiz, é muito fácil uma liminar dada no gabinete do juiz e para desocupar. Aí é o oficial da polícia que vai lá pagar o ônus por uma decisão. Primeiro eu vou negociar, não vou praticar a violência e vou solicitar, e vou fazer, lutar por essa mudança na lei, que o juiz que autoriza esteja presente até como negociador e mediador _para não transformar conflito social em mortes, em violência, como aconteceu nos últimos anos no Brasil.

Vaguinaldo Marinheiro: O que seria no limite?

José Genoino: No limite, rapaz, a democracia é uma coisa fantástica porque ela trabalha no limite. Isto é, você não deixa a corda se quebrar: você vai negociando, conversando, chama a atenção, não deixa a corda se quebrar, nem para um lado nem para o outro outro, esse é o limite.

Vaguinaldo Marinheiro: Tem a possibilidade de impasse, e se tiver que desocupar...

José Genoino: No impasse, estou sugerindo que chamem o juiz, como projeto de lei, para... para estar presente, vou dar exemplos aqui: Eldorado dos Carajás! Se tivesse uma autoridade civil ali presente, conversando com aquelas pessoas, de preferência, um juiz, de preferência um político _se antecipando_ o efeito não poderia ser pior. Nós não podemos trabalhar na política só com a idéia do conflito. A política, a boa política é exatamente para negociar para o conflito não chegar às vias de fato. É assim que eu vou ser, aliás nessa matéria eu tenho uma longa experiência. Você sabe que para mim, no Congresso Nacional e no PT, a política é a arte da disputa e da negociação. Você nunca deixa a corda se quebrar. Mas, ao mesmo tempo, você tem que ter posição e firmeza para garantir a autoridade do Estado democrático de direito.

Fernando Canzian: (pergunta da platéia): O senhor defende a pena de morte para crimes hediondos e vai, afinal, colocar a Rota na rua?

José Genoino: Eu, por questão de princípio, sou contra a pena de morte. A vida humana é um bem e este bem, ele tem que ser defendido por um Estado democrático e civilizado. E a pena de morte não é solução para se combater a criminalidade. Em relação à Rota, eu já coloquei a minha posição aqui, que foi dita em janeiro para o jornal Folha de S.Paulo: a Rota é uma força especial, ela não pode ficar na rua de maneira vulgar e banal, como alguns políticos falam. É uma força especial que age de maneira especial, com um comando especial, com critérios.Vou dar um exemplo: desativar um cativeiro, onde tem seqüestrador. O toque de recolher em certas regiões; tem que fazer o bloqueio de uma estrada ou de uma grande avenida? É o uso da força com critério e com orientação, é assim que, no meu governo , a força será usada. Ela pode ser enérgica sem ser truculenta, aliás, polícia truculenta não é sinônimo de polícia eficiente.

Fernando Canzian: Rafael Duarte, estudante (pergunta da platéia): a questão da homossexualidade em São Paulo tem sido muito discutida. O senhor tem algum projeto destinado a esse grupo, enfim?

José Genoino: Olha esta é boa pergunta e foi bem colocada. Para mim, várias coisas são muito importantes na política ,mas há uma que tem um destaque: o ser humano. O ser humano não pode sofrer qualquer tipo de constrangimento, por sexo, por cor, por idade, por ser pobre, rico ou menos rico. Por uma questão de princípio eu não aceito qualquer forma de discriminação.

É por isso que na Constituinte eu defendi o direito das pessoas (terem) a orientação sexual. O que é mais perverso com o ser humano é, muitas vezes, e eu quero nesse momento me dirigir as mulheres, é a gaiola de ouro ou a gaiola de papel _mas ambas são gaiolas que discriminam, que constrangem, que violentam a condição humana. Portanto, no meu governo, nós vamos ter políticas públicas para combater qualquer forma de discriminação com o ser humano, por religião, por idade, por sexo, por cor, por poder econômico, por uma questão de vida... Eu tenho motivos, na minha história de vida, para radicalizar a democracia enquanto o direito à diferença, o direito à dignidade, o direito ao não-constrangimento.

Que sociedade humana é essa que as pessoas sofrem, que as pessoas são humilhadas, que as pessoas têm vergonha? O ser humano é a obra mais fantástica desse planeta. Porque nós somos uma identidade pluralista, nós somos uma identidade do ser humano, e se a política tem uma razão fundamental é colocar o ser humano no centro da política. E o meu governo será radicalmente um governo humanista _no sentido de que o ser humano é o centro das políticas de governo .

Fernando Canzian: Deputado, Maurício, estudante (pergunta da platéia): Qual a sua opinião sobre a verticalização política e seus resultados se foram um tanto quanto separados os resultados da verticalização?

Rogério Gentile: Aproveitando essa questão. Quer dizer, o PL apóia o Lula na eleição presidencial e aqui em São Paulo apóia o Maluf. Quer dizer: como o senhor se sente quando o senhor vê deputados colocando uma emenda Lula Maluf...

José Genoino: Em primeiro lugar, esse não é um problema meu, é um problema do PL. Não há chapa com cara mais definida do que essa. Não há. A gente anda na rua, a gente chega lá, mostra a cara para todo mundo: é isso ali, pessoal, tudo bem.

Rogério Gentile: Constrangimento?

José Genoino: A a nossa chapa, a nossa aliança é muito tranqüila. Sobre essa questão de o PL apoiar o Lula, apoiar o Maluf... aqui essa é a questão do PL . Eu vou responder a verticalização, eu combati a verticalização e tem declaração minha nos jornais: a verticalização foi casuística, a verticalização alterou as regras durante o jogo e essa verticalização desconhece uma dimensão da realidade política brasileira, que é a combinação da dimensão nacional com a dimensão regional. E no meu modo de ver, não era competência da Justiça Eleitoral fazer a verticalização. Isso, se fosse decidido, teria que ser competência de uma lei votada no Congresso Nacional.

Fernando Canzian: Deputado, nós estamos chegando ao final aqui do nosso encontro.

José GenoinoPuxa, que pena, rapaz...

Fernando Canzian: Pois é, todos dizem isso. A gente...

José Genoino: No final vai ficando melhor...

Fernando Canzian: Para manter na área a tradição da provocação, queria fazer uma aqui: o senhor, o senhor negou o marxismo depois o socialismo. O senhor continua ateu?

José Genoino: Não é verdade que tenha negado o marxismo e o socialismo. Mais uma vez eu resgato a Folha de S.Paulo. Dei uma entrevista para o grande jornalista e meu amigo, Mauro Lopes, em 93. Eu dizia que o marxismo não é uma Bíblia, nem um dogma... O marxismo é uma referência, aliás, quem quer mudar o mundo tem que levar em conta todas as referências que a humanidade constrói.

E o marxismo é uma dessas referências, tenho que levar boa conta em referências. Você não revoga o que a humanidade constrói, o que não pode ser um dogma ou uma Bíblia. Com relação ao socialismo... também nessa entrevista, que virou depois um livro, "Repensando o socialismo". Eu digo o seguinte: o socialismo é uma referências de valores, como a igualdade, como a liberdade, como o humanismo, como a diferença, e eu digo, nessa entrevista, e nesse livro, que o grande desafio da esquerda é combinar igualdade com liberdade.

Quando um desses valores ultrapassa o outro, nós corremos risco de não ter um bom resultado. Portanto.... Em relação a religião.. Olha, eu tenho respeito por todas as crenças e tenho as minhas crenças. E as crenças e as religiões fazem parte de uma intimidade e de uma subjetividade do ser humano.Tenho, em relação a todas religiões, uma relação até de gratidão. Você sabe que para eu sair para estudar, filho de camponês, para poder comer e morar e estudar, foi um padre que me tirou do sertão do Ceará, no distrito de Encantado.

Fernando Canzian: Foi coroinha?.

José Genoino: Fui coroinha e sacristão como era chamado na época. Eu dirigia o carro do Padre, aliás grande amigo meu. Quantas vezes recebi solidariedade de nomes importantes da igreja? Faço questão de citar dois nomes aqui: dom Paulo e dom Aloísio Lorscheider. Que, por sinal, visitei recentemente. O respeito que tenho por todas as religiões... quando as pessoas perguntam sobre religião em campanha eleitoral eu digo: eu tenho tanto respeito aos 10 mandamentos e ao sermão da montanha! Nos mandamentos, o que mais me lembra, primeiro: não usar o nome de Deus em vão;, segundo, não roubarás. (aplausos).

Fernando Canzian: Muito obrigado. Queria agradecer a presença de todos aqui e agradecer a presença especial do deputado e dos leitores da Folha. Estou entregando as perguntas que não foram feitas aqui para o deputado. Obrigado.

José Genoino: Eu quero, talvez, quebrar o protocolo. Posso, Fernando?

Fernando Canzian: À vontade.

José Genoino: Quero quebrar o protocolo e agradecer de coração a presença de vocês, a todas as perguntas, aos meus companheiros de partido e de campanha. Valeu à pena, muito obrigado, vocês estão vendo que eu estou preparado para governar o Estado de São Paulo. (aplausos)...

Veja também: o especial Eleições 2002
 

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