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24/08/2002 - 18h00

Confira 37 sugestões de eleitores para fazer um Brasil melhor

da Folha Online

A Folha de S.Paulo convidou 80 brasileiros representativos de todas as áreas, conhecidos ou não, a enviar aos candidatos que disputam a Presidência da República sugestões e idéias para transformar o Brasil em um país melhor. Neste domingo (25/8), a Revista da Folha publica 42 dessas propostas. Confira abaixo outras 37.

Aprenda com os índios

"Quando o cacique de um povo indígena não consegue garantir à sua comunidade direitos fundamentais como moradia, acesso ao conhecimento, à saúde, à terra para plantar e conseguir alimentos, ele sente vergonha. E essa vergonha muitas vezes serve como motivação para que ele se mobilize em busca do direito à qualidade de vida. Manter sua língua, os usos e costumes, mesmo após séculos de colonização, não é uma tarefa fácil, mas os povos indígenas têm dado testemunho vivo de que isso é possível. E o fazem afirmando que são índios, são diferentes e têm que ser tratados como tal. Penso que nosso futuro presidente teria muito o que aprender com os chefes de estado dos povos indígenas do Brasil."
Douglas Rodrigues, 47, médico sanitarista e coordenador do Projeto Xingu da Unifesp

Desigualdade

"Valorize o povo brasileiro. Não somos todos iguais? Então que todos tenham direito à moradia, à educação. Chega de exclusão, de tratar as pessoas sem informação como lixo. O princípio dessa valorização, futuro presidente, é a educação. Só ela dará condições de respeito e progresso ao povo brasileiro."
Marjorie Mendonça, 19, estudante de psicologia

Morador de rua

"O próximo presidente deveria olhar para os moradores de rua do Brasil. Eles não param de aumentar. Por que não criar uma forma de dar um pouco de dignidade a esse povo? Eles precisam de trabalho. Cuidar de praças, limpar ruas, avenidas, viadutos. Uma forma de se sentirem gente. Só vamos construir um país melhor quando o povo mais simples e sofredor ter o mínimo de dignidade."
Josefa Gomes de Oliveira, 45, faxineira

Dívida social

"A luta contra a pobreza terá que se tornar a principal batalha de toda a sociedade, empresários e governo. Crescimento da economia é importante, mas não podemos esperar por ele para combater as mazelas sociais que afligem 53 milhões de brasileiros. A redução das desigualdades significa um grande passo na direção do fim da pobreza, da reafirmação da dignidade de cada um dos brasileiros e ainda vai gerar um crescimento econômico mais equitativo e duradouro, porque vai inserir na economia formal um novo número de consumidores."
Marcos Athias Neto, 32, diretor executivo da Care Brasil, ONG que atua contra a pobreza

Amigo da criança

"É preciso estabelecer claramente as ações e os recursos orçamentários destinados a resolver a delicada situação em que mais de 40% da sociedade brasileira vive. Não permita que o "orçamento criança" seja contingenciado. Elas têm que ser, de fato, a prioridade absoluta, definida pela Constituição. Ao cortar orçamentos e programas, seu olhar deve se dirigir a outras direções, com seu coração e sua vontade política sintonizados num projeto de país que tenha na dignidade de todos e na justiça social a sua razão de ser."
Helio Mattar, 55, diretor-presidente da Fundação Abrinq

Começar de novo

"Não dá para sugerir mudanças na educação e na saúde, por exemplo, se tudo isso praticamente não existe no Brasil. Do jeito que está, é mais fácil recomeçar do que mudar."
Rogério Ceni, 29, goleiro do São Paulo

Governo cultural

"Que a rica e peculiar sensibilidade brasileira seja aguçada na população pelas artes e pela cultura. E que todas as manifestações expressas por essa sensibilidade sejam mostradas ao mundo. Cultura e arte têm que fazer parte de qualquer governo que tenha, verdadeiramente, um projeto de país."
Tomie Ohtake, 88, artista plástica

Todo ouvidos


"Colar o ouvido no chão para ouvir as dicas profundas que vêm especialmente das favelas, das periferias e dos grotões, na voz que a cultura faz ecoar de crianças, adolescentes, jovens e velhos. Da festa da arte ao conflito da guerra, as lições querem se desdobrar em políticas públicas que não reduzam segurança à polícia, nem políticas sociais a migalhas do assistencialismo. A presença constante do Estado precisa incentivar ao desenvolvimento do conhecimento e do pensamento."
Paulo Lins, 43, é escritor, autor do livro "Cidade de Deus"

Amazônia


"A floresta amazônica é um tesouro único no mundo que pertence ao país e a todos os brasileiros. É muito preocupante saber que a floresta com sua biodiversidade única está desaparecendo e não haverá como recuperá-la. São 4 milhões de campos de futebol devastados por ano ou 460 campos por hora e 7,7 por minuto."
Frank Guggenheim, 52, médico e matemático, diretor-executivo do Greenpeace Brasil

Transporte gratuito


"O próximo presidente deve dar mais atenção ao trabalho das instituições não-governamentais na área de saúde, fazer parcerias com essas entidades, doando terrenos, medicamentos e até o transporte para deslocar os pacientes. O transporte é um dos aspectos determinantes para a continuidade dos tratamentos: de cada 100 crianças carentes que sofrem problemas de reumatismo, 20% abandonam o tratamento por falta de condições de se locomover."
Cláudio Len, 38, médico, presidente da ONG Acredite (Associação dos Amigos da Criança com Reumatismo)

Sem vaidade


"A principal armadilha é deixar a vaidade atrapalhar seus objetivos. Mantenha o olhar sempre no povo brasileiro para ter uma vida digna e orgulho do nosso país."
Lino Villaventura, estilista de moda

Incentivo ao esporte


"Imagine quantos atletas em potencial estão escondidos nos bairros pobres? Por que não criar uma forma de abater em imposto o patrocínio de empresas a atividades esportivas em regiões carentes? O Brasil vai descobrir novos talentos e atingir dois objetivos: manter os jovens longe de drogas e criminalidade e aumentar a saúde do povo. Não vamos mais ser só o país do futebol."
Maria Zeferina Rodrigues Baldaia, 29, ex- cortadora de cana, campeã da São Silvestre (2001) e da 8ª Maratona Internacional de São Paulo (2002)

Desejos


"Que o próximo presidente e todos os governantes trabalhem realmente para que tenhamos um país digno, com justiça, trabalho, saúde, educação e cultura para todos os brasileiros."
Othon Bastos, ator

Mais turismo


"Precisamos de um ministério exclusivo para o turismo, com poderes e recursos para estimular esta indústria tão importante, sinônimo de investimentos, empregos e redistribuição de renda _sem esquecer dos impostos. Para incentivar o turismo exterior, crie representações nos principais países emissores do turismo para vender os atrativos do país, sua cultura, suas riquezas naturais únicas. Reduza as taxas aeroportuárias e incentive os vôos fretados, como existe em todos grandes destinos internacionais. Estimule a infra-estrutura receptiva para turismo de eventos nas grandes cidades.

Para aumentar o turismo doméstico, altere o calendário de férias escolares para que as famílias não tenham um único período para viajar, quando, devido à procura, os preços sobem. Reduza os impostos e encargos salariais para tornar os nossos preços mais competitivos. Melhore a infra-estrutura de transporte e a segurança nas estradas. Crie uma espécie de ticket-férias para o trabalhador poder conhecer o país, nos mesmos moldes do vale-refeição. Todo país que deseja ter seu turismo forte precisa criar uma política séria para o setor."
Roland de Bonadona, 52, francês naturalizado brasileiro, diretor geral da Accor Hotels, que administra 119 hotéis e flats em todo o Brasil

Divisão justa


"O Brasil é um país injusto, porque ninguém ataca de verdade o problema da riqueza. Não basta produzir riqueza, ela precisa ser melhor dividida."
Chico César, 38, cantor e compositor

Segurança


"O presidente deve se sensibilizar pelo sentido de urgência que todos temos em relação à diminuição das diversas formas de violência em nosso país. Mas deve cuidar, porém, que suas ações não sejam guiadas por uma concepção estreita de segurança pública e que se manifestem em medidas pontuais, de caráter simbólico, voltadas apenas para responder aos sobressaltos da opinião pública.

Aliás, o próprio nome "segurança pública" deveria ser substituído por um conceito de segurança social ou segurança cidadã, baseado na concepção atual de direitos humanos e cujo objetivo geral é a promoção da justiça social. A Declaração de Viena (1993) enuncia a indivisibilidade, interdependência e inter-relação de todos os direitos humanos, bem como a sua interdependência com a democracia e o desenvolvimento. Essa concepção de segurança cidadã deve guiar as necessárias reformas das leis, dos procedimentos e das organizações do sistema judicial (como o Poder Judiciário, o Ministério Público, a polícia, as prisões)."
Andrei Koerner, 39, cientista político e pesquisador no Núcleo do Estudos da Violência

Mais leitura


"Espero incentivo à leitura, com edições em larga escala de bons textos de nossa literatura."
Pedro Corrêa do Lago, 44, livreiro antiquário, editor e escritor

Violência


"Que colabore na reconstrução de uma nova ordem internacional, na qual os conflitos possam ser equacionados sem a guerra unilateralmente declarada; na contenção da globalização econômica para que não se aumente a exclusão social e a pauperização dos povos; na preservação do meio ambiente para que as gerações futuras possam ainda ter a esperança de sobrevivência.

Que se proponha a reinventar o Estado, com poder próprio de decisão e com capacidade de controlar os abusos do poder econômico, de combater a corrupção oligárquica, de incluir os que estão socialmente excluídos, de formar uma democracia real e participativa na qual todos tenham direito à vida digna, à liberdade, à educação, à saúde e à seguridade social.

Que, pessoalmente, não seja imperial, dono da verdade, intempestivo ou autoritário e que tenha a capacidade de ouvir e sentir os reclamos dos que não estão no poder."
Alberto Silva Franco, 70, vice-presidente do IBCCrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais)

Resultados concretos


"É claro que espero uma abordagem comunitária transparente, eficaz e conduzida de forma democrática. Um governo que nos dê resultados concretos traduzidos em melhor qualidade de vida, ensino decente e melhores cuidados com a saúde de um povo. Não há dúvida de que, para tanto, o Brasil deve se repensar. Os partidos, no Congresso, tratam e defendem apenas seus interesses maiores, ditados pela ganância de grupos privados.

A educação vem sendo tratada nos moldes do maquiavelismo romanesco, irrigando-se a área de desperdício e de futilidade, como se o dinheiro pudesse substituir a essencialidade. O brasileiro quer resultados nos domínios do emprego e da luta contra a pobreza e a exclusão social, bem como no domínio da coesão econômica e social. Na área da segurança e da defesa também, é claro, e, por outras palavras, uma ação reforçada e mais bem coordenada na luta contra os focos de crise.

A pergunta que faço questiona a forma de tornar mais transparente a repartição dessas competências. De que forma poderão as expectativas dos brasileiros servir de fio condutor? Quem é responsável pela reforma, por que e respondendo a qual tipo de interesse?"
Felipe Hirsch, diretor teatral

Boa educação


"Gostaria de ver o foco deslocado para uma preocupação não só com quantas pessoas estão na escola, mas também com o que essas pessoas estão aprendendo. Do contrário, nunca seremos uma força cultural e tecnológica condizente com nossas dimensões. Num plano mais imediato, melhoras na musica clássica só podem existir numa economia estável; alterações drásticas destróem qualquer projeto, pois a música clássica trabalha com prazos longos."
Fabio Zanon é violonista clássico

O homem no centro


"Na contramão da voragem globalizante, sugiro um fundamento, néo-humanista: é o homem, e não a economia, é o homem, e não o capital, o centro da produção da riqueza, da invenção e da descoberta dos métodos industriais, dos processos tecnológicos, da criação da beleza, da razão de viver e, experiência máxima, da reprodução de si mesmo à sua imagem e semelhança. Em primeiro lugar, extirpe a fome, porque é um escárnio; civilizações lastrearam sua prosperidade até no trabalho escravo, não na fome. Distribuir renda é mais estratégia de segurança do que justiça social. Com a crise de valores que nos assalta, educação e cultura, juntas, precisam ser prioridades numa sociedade que perdeu a noção de certo e errado, justo e injusto, público e privado, ético e aético. E, "last but not least", emprego."
Alcione Araújo, 52, romancista, dramaturgo, filósofo, roteirista de cinema e TV

Segurança


"O próximo presidente deveria investir num novo programa de segurança educativa. Ele teria como novidade uma polícia que estivesse preocupada com a educação, com o diálogo e o envolvimento com as pessoas, jamais uma polícia que implantasse o medo, a agressão. As pessoas não suportam mais tanto desrespeito. Precisamos de uma polícia que converse e esteja permanentemente ligada ao povo."
Emerson Ribeiro dos Santos, 30, motorista

Fim da bandalheira


"O novo presidente deve criar algum método para parar com essa bandalheira. O povo não pode continuar pagando a conta da especulação do dólar, que acaba caindo na conta do consumidor. Sobem o gás de cozinha, a gasolina, o pãozinho. É uma festa para um grupo de aproveitadores, enquanto o povo vive na miséria. O próximo presidente não pode deixar o Brasil às margens desses interesses especulativos."
André Rosa, 49, jornaleiro e dogueiro

Mais caráter, menos acordos


"Que o próximo presidente só faça conchavos no Congresso em prol dos interesses do povo, e não de particulares que só visam o bolso de políticos corruptos. Precisamos de um exemplo à nação. O meu conselho esbarra no caráter. Sem ele, não haverá solução."
Josefina Gomes, 33, vendedora

Corrupção


"A panela em Brasília está azeda, presidente, não se deixe contaminar. Não deixe que o povo perca totalmente o respeito pela classe política, cada vez mais desacreditada. Ninguém suporta mais picaretagem."
João Alves de Luna, 40, camelô

DJs na periferia


"Vamos encher a periferia de pistas de skate e grafite, instrumentos que podem tirar as crianças das ruas e transformar as comunidades. Inclua aula de samba e de percussão nas escolas públicas. Jovem tem que aprender a usar toca-discos, virar DJ."
Xis, 29, rapper

No popular


"Aposte nas classes baixas. É a maioria pobre deste país que ainda apresenta soluções criativas e inteligentes. A elite assiste a todos os problemas de violência e não consegue abrir mão de nada para reduzir essa diferença social absurda. Cada vez mais egoísta e burra, nunca trouxe nem trará nenhuma solução social, econômica ou cultural ao país."
Marcelo Yuka, 36, músico do grupo O Rappa, paraplégico há 19 meses, depois de levar oito tiros num assalto

Exportar malabaristas


"O primeiro passo para melhorar o Brasil é desatar o nó da economia. Para isso, basta colocar um brasileiro fazendo malabarismo com bolas de tênis em cada esquina movimentada de todos os países desenvolvidos. A grana arrecadada deverá ser remetida para equilibrar nossa balança, realizar obras sociais e comprar toneladas de calmantes para dar a esse mercado tão nervosinho."
Helio de la Peña, 43, carioca, humorista do "Casseta & Planeta"

Cidadania

"Cultura não é (só) Beethoven ou Proust. É também não roubar nem permitir que alguém o faça, é não jogar lixo na rua, não furar a fila, não mentir, defender os direitos dos honestos."
Arnaldo Cohen, 54, pianista

Terceiro setor


"Aproveite modelos de sucesso entre as ONGs _como o nosso, extremamente barato e reconhecido internacionalmente_ e estimule a implantação em todo o país, mudando em curtíssimo prazo a realidade de famílias que vivem abaixo da linha da pobreza. Adote uma política de "tax exemption", em que empresas e pessoas possam destinar recursos diretamente a essas entidades. Hoje, eles passam por caminhos tão tortuosos e demorados que prejudicam o nosso dia-a-dia."
Vera Cordeiro, médica, fundadora da Associação Saúde Criança Renascer

Não finja


"Não faça um governo de aparências. Assuma compromisso com a história, o destino do país, verdadeira e obstinadamente. Como idiota romântico que sou, acho que a verdade sempre vence, seja ela qual for."
Zeca Baleiro, 36, cantor e compositor

Originalidade e soberania


"Espero que o próximo presidente lute para fazer do Brasil um país mais justo, mais independente, mais original. Que consiga transformá-lo estruturalmente, que deixe de ser o país das oportunidades perdidas. E que ele não se submeta a uma ordem que não nos diga respeito."
Walter Salles, 46, é cineasta

Meninas do Brasil


"Lares desajustados, gravidezes precoces e falta de estrutura financeira são os fomentadores da tragédia social das crianças de rua. No dia em que as meninas do Brasil não forem mais subservientes, não se submeterão a parceiros violentos, não engravidarão sem vontade. Não é a legalização do aborto que é urgente: urgente é o fornecimento de métodos contraceptivos, a expansão da auto-estima e as oportunidades para as nossas adolescentes. Sociedade e governo, juntos, podem fazer isso."
Stella Florence, 35, escritora paulistana Juros mais baixos

Menos juros


"O presidente tem que investir no povo, pois é ele que constrói um país. Um dos pontos importantes será controlar a taxa de juros que deveria ser de 15% ao ano, no máximo, para não aniquilar desde a micro até a grande empresa."
Vincenzo Ondei, 70, italiano de Brescia, dono do restaurante francês Le Coq Hardy, vive há 44 anos no Brasil

Não venda


"Fora bom senso e humanismo, só aconselhamos uma coisa, sob pena de danos irreparáveis: não nos venda. Nem uma gota d'água, nenhuma camada, a mais ínfima que seja, de subsolo, nem uma avenca, quanto mais matas, florestas... A gente sobrevive, paga o que tiver que pagar, com trabalhos forçados, mas, por favor, não venda nada."
Matheus Nachtergaele, ator

Numerocracia


"Que não venha com mais numerocracia. Números são mais manipuláveis que palavras. Que tenha coragem de investir pesado na educação porque essa é a maneira de se combater as desigualdades sociais."
Nasi, 40, vocalista do grupo Ira!

Menos ciência, mais consciência


"Cabe ao próximo presidente difundir uma ética contrária ao crime e à corrupção. Isso implica uma mudança de mentalidade e só pode ser alcançado através da educação, que deve, sobretudo, fazer a autoridade da lei vigorar. Ocupar-se menos da ciência e mais da consciência, porque disso dependem a solidariedade e a paz."

Betty Milan, escritora e psicanalista, autora de "O Clarão"


 

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