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FHC viaja pela Ásia por 10 dias para discutir comércio
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MARTA SALOMON, da Folha de S.Paulo
O presidente Fernando Henrique Cardoso embarca hoje para uma volta ao mundo em dez dias com um olho nas contas externas brasileiras e outro em projetos de democracia e paz tocados do outro lado do planeta.
Os resultados práticos da agenda oficial na Ásia são incertos: o governo
busca na Coréia do Sul e na Indonésia virar um jogo desfavorável no comércio.
Se a balança comercial com os dois fosse equilibrada, o Brasil escaparia de ter fechado essa conta com quase US$ 700 milhões no vermelho em 2000. Haveria até alguma folga.
Os dois países a serem visitados oficialmente por FHC integram o time dos tigres asiáticos que batiam recordes de crescimento até serem abatidos pela crise iniciada na Tailândia em 97. Eles vivem hoje situações bem diferentes.
Coréia do Sul
A Coréia do Sul voltou a registrar altas taxas de crescimento da economia (mais de 10% em 99) depois de amargar a recessão que se seguiu à desvalorização de 61% de sua moeda, o won.
A balança comercial entre os dois países registrou um dos piores resultados nas contas externas brasileiras. O Brasil importa sobretudo componentes eletrônicos e enfrenta barreiras na venda de produtos agrícolas.
Os investimentos diretos sul-coreanos também são considerados tímidos. Essa escala da viagem é a de maior interesse para o grupo de empresários que acompanha FHC.
Indonésia
Assim como a Coréia do Sul, a Indonésia também se comprometeu a seguir a receita do FMI (Fundo Monetário Internacional) de reformas econômicas para tentar tirar a rupia do buraco de uma desvalorização que bateu 72%. Mas a recessão foi brutal, e o país ainda não se recuperou.
A importância da Indonésia para a política externa brasileira é diretamente proporcional ao tamanho do seu mercado. Embora com renda menor, há mais indonésios que brasileiros; o país só perde em tamanho da população para China, Índia e Estados Unidos. A balança comercial também registra déficit para o Brasil.
Na Indonésia, o governo quer pôr mais um pé no mercado da Ásia e ganhar um aliado contra as barreiras aos produtos agrícolas em outras partes do planeta. Nos discursos que preparou para empresários nos dois países, FHC baterá na mesma tecla: comprem mais e invistam mais no Brasil.
Sossego e paz
Entre Seul e Jacarta, FHC terá um final de semana de descanso no paraíso turístico de Bali. A escala foi incluída oficialmente no roteiro por ser a ilha mais próxima do Timor Leste, onde o Airbus 330 fretado pelo governo não consegue pousar.
O custo da viagem -incluídas as 55 horas de vôo- não havia sido divulgado pela Presidência até a véspera do embarque.
No Timor Leste, território administrado pelas Nações Unidas, muda também o sentido da viagem à Ásia. O que estará em jogo aí não é o mercado: o presidente passará o dia numa Dili arrasada pelos conflitos contra a ocupação indonésia, que registram um saldo de 300 mil mortos. As milícias contrárias à independência destruíram a maior parte da região.
Além dos 70 soldados brasileiros que integram a força internacional de paz, o Brasil apóia o projeto de reconstrução do país nas áreas de alfabetização (mais da metade da população é analfabeta) e de formação profissional.
O português -língua da resistência à ocupação indonésia- poderá ser
adotado como idioma oficial pela ex-colônia de Portugal depois que for concluído o processo de independência, o que ainda não tem data marcada.
O projeto tem o apoio de Xanana Gusmão, principal líder da independência e presidente do Comitê Nacional de Reconstrução.
Gusmão forma com o bispo Ximenes Belo e com José Ramos Horta -que receberam o prêmio Nobel da Paz em 1996- uma espécie de trindade da resistência timorense. FHC tem encontro marcado com os três.
Nobel
A agenda de contatos do presidente na Ásia começa na quinta-feira com outro Nobel da Paz. O presidente Kim Dae Jung recebeu o prêmio no ano passado, pouco depois da reunião histórica dos dirigentes das duas Coréias, separadas há mais de 50 anos.
FHC incluiu no roteiro uma viagem à fronteira com a Coréia do Norte, em sinal de apoio ao projeto de unificação.
Com o gesto, ele relevará o fato de os crescentes investimentos na Coréia do Sul na vizinha tornarem ainda mais difíceis os planos de atrair investidores sul-coreanos para o Brasil.
FHC chegará a Seul para a primeira etapa de sua visita somente na quarta-feira.
No caminho, fará uma escala em Vancouver (Canadá), para se acostumar com o fuso horário de 11 horas e uma diferença de temperatura de quase 40 graus que o esperam do outro lado do mundo.
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