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08/09/2002 - 10h02

Lula e Serra se encontraram em sigilo em São Paulo

RAYMUNDO COSTA
KENNEDY ALENCAR

da Folha de S.Paulo, em Brasília

Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra tiveram uma conversa sigilosa há um mês. Cenário: o hangar de uma companhia de táxi aéreo no movimentado aeroporto de Congonhas, em São Paulo, onde os candidatos do PT e do PSDB à Presidência da República encontraram-se quando o tucano partia e o petista chegava de compromissos de campanha.

Um encontro casual, juram assessores dos dois lados. "Você tem tempo para a gente conversar um pouco", sugeriu Lula, convite prontamente aceito por Serra. Os dois trancaram-se numa das duas salas reservadas do hangar, para o espanto dos assessores que os acompanhavam, e conversaram reservadamente por cerca de 30 minutos. Distantes poucos metros, os dois times permaneceram calados, após uma troca protocolar de frases e cumprimentos.

A deputada Rita Camata (PMDB-ES), candidata à Vice-Presidência na chapa do tucano, estava presente, mas não participou da conversa, da qual Lula e Serra são as únicas testemunhas. Foi uma conversa amistosa, que sugeria uma convergência no futuro. Em 30 dias, o clima mudou bastante. Agora, Serra e Lula dedicam-se a uma troca de farpas que tende a se acentuar.

Há um mês, as pesquisas registravam vertiginosa ascensão de Ciro Gomes (PPS), o que favorecia a discussão intramuros sobre eventual composição PT-PSDB no segundo turno da eleição.

Serra, segundo pesquisa do Ibope daquela semana, tinha 11% da preferência do eleitorado, mesmo patamar no qual se achava Anthony Garotinho (PSB). No primeiro lugar, Lula tinha 33%, mas sua posição já não era tão confortável porque Ciro Gomes (PPS), com 27%, havia reduzido a diferença entre ambos para seis pontos percentuais.

Elogios recíprocos
Tendo uma única carta na mão, o horário eleitoral gratuito da TV a partir de 15 de agosto, interessava ao presidenciável do PSDB manter intactas as pontes com o petista. Na campanha do tucano, falava-se em um "ministério importante" para o partido em eventual negociação de apoio para o segundo turno.

No sonho de Lula, Serra lhe daria aval perante o empresariado financeiro e industrial de São Paulo, setor historicamente refratário ao PT e apoiador do tucano. Mais ou menos na mesma época, o candidato petista se encontraria com o banqueiro Olavo Setúbal, do Itaú, um dos pilares de Serra na área empresarial.

Na conversa a sós, Serra elogiou a forma como Lula conduzia sua campanha presidencial. Disse que ele, Lula, e o presidente do PT, José Dirceu, haviam mudado a face do partido, isolando os radicais que tiveram peso nas campanhas anteriores da sigla.

O tucano e o petista julgaram aventureiro o projeto presidencial de Ciro, que não teria, na visão de ambos, capacidade de fazer o país avançar. Para os dois, seria um retrocesso, já que oligarquias, especialmente as do PFL, teriam papel central num governo Ciro, no qual o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB-CE), considerado por Serra como sendo um político de cabeça regional, seria uma espécie de eminência parda.

Serra teria dado sinais de que apoiaria Lula caso viesse a ficar fora da segunda fase. Auxiliares do candidato e tucanos de peso, como o presidente do PSDB, José Aníbal (SP), comentavam reservadamente que Serra já havia tomado uma decisão: votar em Lula se não conseguisse superar Ciro.

Lula, por sua vez, teria elogiado a gestão de Serra na Saúde, tomando por base depoimentos de especialistas do PT na área que reconheciam o sucesso de iniciativas do tucano no ministério.

Na linha de tiro
Uma coisa é certa: ambos manifestaram preocupação com o que classificaram de principal problema do futuro presidente: sair da armadilha da vulnerabilidade externa, a maior herança negativa, crêem, dos anos FHC.

Lula ainda elogiou a forma como o presidente Fernando Henrique Cardoso estava conduzindo a transição. O petista disse que, ao contrário de exemplos do passado recente brasileiro, FHC estava mantendo a compostura, sem recorrer a um uso abusivo da máquina oficial a favor de uma candidatura, ou seja, a de Serra.

Um mês depois, Serra empatou com Ciro e ameaça tirar o segundo lugar do candidato do PPS. Uma semana após a conversa no hangar de Congonhas, Lula estreou seu programa eleitoral com críticas à área da Saúde. E cada vez mais tenta carimbar o adversário tucano como sendo o candidato do continuísmo.

Serra, por outro lado, tenta calibrar os ataques a Lula. Há pressões internas na campanha por uma escalada, mas o sentimento predominante é o de que a crítica ao petista não deve seguir a mesma fórmula adotada em relação a Ciro. Ou seja, a pessoa de Lula deve ser preservada, mas as contradições do programa e o "jeito PT de governar" seriam os alvos. O que inclui escândalos como o da Prefeitura de Santo André.
 

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