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27/09/2002 - 03h29

FHC diverge de Serra em declarações sobre Mercosul

LEILA SUWWAN
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A dez dias do primeiro turno das eleições, o presidente Fernando Henrique Cardoso divergiu publicamente das declarações do candidato governista à Presidência, José Serra (PSDB-PMDB), sobre a importância e o futuro do Mercosul. Em duas cerimônias oficiais com o presidente argentino, Eduardo Duhalde, FHC defendeu enfaticamente a "chama do Mercosul" diante do que chamou de "céticos" e "pessimistas" e disse ter certeza de que seu sucessor dedicará a mesma atenção à aliança com o vizinho.

Anteontem, em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", Serra disse que o Mercosul "não deu certo" porque o Brasil fez concessões demais aos parceiros.

Ele chamou de "monstruosidade" o Tratado de Ouro Preto, que estabeleceu a união aduaneira do Mercosul. Ainda segundo o candidato tucano, a Argentina sempre "pula para trás e a gente aceita", o que inviabiliza ir além da zona de livre comércio.

"Como presidente do Brasil, dediquei muitas horas do meu dia-a-dia à Argentina, à construção da nossa aliança estratégica, ao fortalecimento da nossa confiança. Continuarei pela vida afora com essa dedicação e tenho certeza de que, dentro de poucos meses, meu sucessor estará fazendo o mesmo", disse FHC, em brinde a Duhalde no Itamaraty.

Brasil e Argentina celebraram três acordos ontem, considerados "históricos" por FHC devido às crises financeiras dos dois países: um entendimento de temas econômicos e comerciais, a revisão do acordo automotivo e um convênio de créditos recíprocos entre os dois bancos centrais.

O presidente tratou as cerimônias de ontem como uma demonstração de força dos dois países. Ele fez questão de dizer que reiterava, diante da imprensa brasileira, argentina e internacional, que os dois países vão "continuar juntos" nos objetivos, que incluem a "recuperação" de ambas economias. Duhalde agradeceu FHC, em público e reservadamente, pelo apoio expressivo nos momentos de "decadência" da economia de seu país.

"A cooperação Brasil-Argentina não comporta nem pessimismo nem medo ou desânimo diante das adversidades", disse FHC. Para ele, os acordos "servem de resposta aos céticos e pessimistas".

"Num momento de tanta dificuldade, em que tão poucos acreditavam que nós fôssemos capazes de levar adiante nossas negociações e de manter viva a chama do Mercosul, o documento ora firmado mostra, mais uma vez, que Brasil e Argentina são capazes de resolver suas questões comerciais, ainda que dentro de conjunturas muito desfavoráveis."

FHC afirmou que foi discutida, na reunião privada com a delegação argentina, a possibilidade de fazer a "limpeza da mesa" antes do fim de seu mandato, ou seja, concluir todas as negociações pendentes com Argentina. "Quem sabe nós possamos antecipar o livre comércio, num momento em que todos pensavam que era quase impossível manter esse tipo de negociação firme."

Em posicionamento contrário, Serra disse anteontem que pretende, se eleito, desacelerar o processo de integração dos dois países porque considera que as etapas estariam sendo atropeladas. "Quiseram fazer em quatro anos o que a União Européia fez em 40", disse Serra anteontem.
Outro ponto em que o presidente e o candidato governista discordam é a possibilidade de acordos comerciais entre o Brasil e países fora do bloco, como, por exemplo, a Índia.

O presidente não deixou dúvidas sobre a impossibilidade de excluir o vizinho dessas negociações. "Tomamos a decisão de continuarmos no caminho de Brasil e Argentina disputarmos, em conjunto, terceiros mercados com a China, com a Índia e onde mais seja", afirmou. "O Brasil não contempla nenhuma iniciativa ou projeto regional sem a parceria com a Argentina", disse, incluindo entre as possibilidades as negociações sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e acordo de livre comércio com a União Européia.

Veja também o especial Eleições 2002
 

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