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28/09/2002
-
07h24
Colunista da Folha de S.Paulo
A nunca interrompida conspiração para depor o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ganhou, nos últimos dias, um pretexto novo, chamado Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do PT.
Informa o jornal britânico "Financial Times", em sua edição de ontem: "Oficiais militares dissidentes, radicalmente opostos a Chávez, dizem que há urgência em tentar sua remoção do cargo antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, o provável vencedor, de acordo com as pesquisas, da eleição presidencial brasileira".
Completa Andy Webb-Vidal, correspondente do jornal britânico em Caracas: "Alguns críticos de Chávez vêem a vitória de Lula como a peça que falta no quebra-cabeça que permitiria a Chávez consolidar uma aliança política esquerdista mais ampla na América Latina, que reverteria as reformas econômicas pró-mercado e os avanços democráticos na região".
Trata-se, na prática, de ressuscitar tese que um acadêmico norte-americano de extrema-direita lançou há algum tempo pelo jornal "The Washington Times", de propriedade da seita Moon, segundo o qual a vitória da Lula proporcionaria a formação de um eixo Brasília/Caracas/Havana.
Não é uma tese levada a sério em meios acadêmicos respeitáveis, como a London School of Economics. "Parece-me claramente um delírio ou, pior que isso, um argumento da direita golpista que é o eco de argumentos de outras direitas golpistas latino-americanas dos anos 60 e 70", diz Francisco Panizza, especialista em América Latina da LSE.
Mas, na Venezuela, mesmo opositores de Chávez que não compram a tese do eixo esquerdista, dizem que ela ganha força e pode ser usada politicamente pelo fato de o "Foro de São Paulo", criado pelo PT, incluir partidos ou movimentos de extrema-esquerda.
É o que diz, por exemplo, o sociólogo Rafael Suárez, da Universidade Católica Andrés Bello, um dos ninhos da oposição a Chávez.
Suárez admite que o "fator Lula" pesa na batalha venezuelana pelo poder, mas é secundário em relação aos problemas internos.
O fato concreto é que a oposição venezuelana demonstra pressa em afastar Chávez.
Anteontem, a chamada Coordenadoria Democrática, coalizão anti-Chávez, fez um apelo às Forças Armadas para que desconheçam o governo Chávez. Em abril, conspiração similar levou a um breve afastamento do presidente, logo reconduzido ao poder, pela resistência de setores da população e das Forças Armadas.
Agora, no entanto, avalia o sociólogo Suárez, cresceu substancialmente a oposição a Chávez, como consequência de "um rotundo fracasso em tão pouco tempo, com tantas vantagens que tinha a seu favor".
É claro que pode ser uma avaliação enviesada de um opositor, mas o fato de a economia venezuelana ter retrocedido 7,1% no primeiro semestre do ano é combustível suficiente para queimar o prestígio do governo.
Talvez estimulada por esse novo cenário, a oposição pretende marcar, na segunda-feira, o dia para uma greve geral (na verdade, um locaute, ou seja, um movimento conduzido pelos próprios proprietários de negócios).
Chávez já ameaçou: se houver o locaute, os trabalhadores tomarão as empresas.
A radicalização, portanto, está dada. É tanta que a embaixada dos Estados Unidos, país que nunca escondeu antipatia em relação a Chávez, manifestou sua preocupação com planos para recorrer "a ações violentas e inconstitucionais, destinadas a alterar a ordem constitucional, seja para derrubar o governo, seja para mantê-lo no poder".
Diferenças
Se o fato Lula está sendo pretexto para a conspiração, Panizza e Suárez coincidem em estabelecer diferenças entre o político brasileiro e o presidente venezuelano e entre Brasil e Venezuela.
Diz Panizza: "Lula é um político que sempre atuou no marco das instituições políticas brasileiras e deu uma contribuição muito importante para o fortalecimento institucional da democracia. Chávez sempre foi um político anti-institucional, que arrasou o sistema político venezuelano e implantou uma democracia populista".
O venezuelano Suárez lembra que as pesquisas estão mostrando que os eleitores brasileiros "estão escolhendo uma interessante combinação de forças entre a Presidência, o Congresso e as autoridades locais".
Completa: "Isso é muito importante para o benefício do Brasil e para tornar mais difícil qualquer manobra interna ou externa de Lula ou de qualquer outro. No lado da Venezuela, temos um personagem que conseguiu justamente o oposto, ou seja, confiscar demasiados espaços de poder e deseja conquistar mais e mais".
Veja também o especial Eleições 2002
Oposição a Chávez usa fator petista para tentar golpe
CLÓVIS ROSSIColunista da Folha de S.Paulo
A nunca interrompida conspiração para depor o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ganhou, nos últimos dias, um pretexto novo, chamado Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do PT.
Informa o jornal britânico "Financial Times", em sua edição de ontem: "Oficiais militares dissidentes, radicalmente opostos a Chávez, dizem que há urgência em tentar sua remoção do cargo antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, o provável vencedor, de acordo com as pesquisas, da eleição presidencial brasileira".
Completa Andy Webb-Vidal, correspondente do jornal britânico em Caracas: "Alguns críticos de Chávez vêem a vitória de Lula como a peça que falta no quebra-cabeça que permitiria a Chávez consolidar uma aliança política esquerdista mais ampla na América Latina, que reverteria as reformas econômicas pró-mercado e os avanços democráticos na região".
Trata-se, na prática, de ressuscitar tese que um acadêmico norte-americano de extrema-direita lançou há algum tempo pelo jornal "The Washington Times", de propriedade da seita Moon, segundo o qual a vitória da Lula proporcionaria a formação de um eixo Brasília/Caracas/Havana.
Não é uma tese levada a sério em meios acadêmicos respeitáveis, como a London School of Economics. "Parece-me claramente um delírio ou, pior que isso, um argumento da direita golpista que é o eco de argumentos de outras direitas golpistas latino-americanas dos anos 60 e 70", diz Francisco Panizza, especialista em América Latina da LSE.
Mas, na Venezuela, mesmo opositores de Chávez que não compram a tese do eixo esquerdista, dizem que ela ganha força e pode ser usada politicamente pelo fato de o "Foro de São Paulo", criado pelo PT, incluir partidos ou movimentos de extrema-esquerda.
É o que diz, por exemplo, o sociólogo Rafael Suárez, da Universidade Católica Andrés Bello, um dos ninhos da oposição a Chávez.
Suárez admite que o "fator Lula" pesa na batalha venezuelana pelo poder, mas é secundário em relação aos problemas internos.
O fato concreto é que a oposição venezuelana demonstra pressa em afastar Chávez.
Anteontem, a chamada Coordenadoria Democrática, coalizão anti-Chávez, fez um apelo às Forças Armadas para que desconheçam o governo Chávez. Em abril, conspiração similar levou a um breve afastamento do presidente, logo reconduzido ao poder, pela resistência de setores da população e das Forças Armadas.
Agora, no entanto, avalia o sociólogo Suárez, cresceu substancialmente a oposição a Chávez, como consequência de "um rotundo fracasso em tão pouco tempo, com tantas vantagens que tinha a seu favor".
É claro que pode ser uma avaliação enviesada de um opositor, mas o fato de a economia venezuelana ter retrocedido 7,1% no primeiro semestre do ano é combustível suficiente para queimar o prestígio do governo.
Talvez estimulada por esse novo cenário, a oposição pretende marcar, na segunda-feira, o dia para uma greve geral (na verdade, um locaute, ou seja, um movimento conduzido pelos próprios proprietários de negócios).
Chávez já ameaçou: se houver o locaute, os trabalhadores tomarão as empresas.
A radicalização, portanto, está dada. É tanta que a embaixada dos Estados Unidos, país que nunca escondeu antipatia em relação a Chávez, manifestou sua preocupação com planos para recorrer "a ações violentas e inconstitucionais, destinadas a alterar a ordem constitucional, seja para derrubar o governo, seja para mantê-lo no poder".
Diferenças
Se o fato Lula está sendo pretexto para a conspiração, Panizza e Suárez coincidem em estabelecer diferenças entre o político brasileiro e o presidente venezuelano e entre Brasil e Venezuela.
Diz Panizza: "Lula é um político que sempre atuou no marco das instituições políticas brasileiras e deu uma contribuição muito importante para o fortalecimento institucional da democracia. Chávez sempre foi um político anti-institucional, que arrasou o sistema político venezuelano e implantou uma democracia populista".
O venezuelano Suárez lembra que as pesquisas estão mostrando que os eleitores brasileiros "estão escolhendo uma interessante combinação de forças entre a Presidência, o Congresso e as autoridades locais".
Completa: "Isso é muito importante para o benefício do Brasil e para tornar mais difícil qualquer manobra interna ou externa de Lula ou de qualquer outro. No lado da Venezuela, temos um personagem que conseguiu justamente o oposto, ou seja, confiscar demasiados espaços de poder e deseja conquistar mais e mais".
Veja também o especial Eleições 2002
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