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Donos de terra no Piauí impedem que Luz Para Todos chegue a invasores
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KARIN BLIKSTAD
da Agência Folha
A disputa entre posseiros e proprietários de terras está ameaçando o andamento das obras do programa federal Luz Para Todos no Piauí. Ao menos dois fazendeiros impedem a execução de obras que levariam energia elétrica a 110 famílias.
Dono de 300 hectares na região rural norte de Teresina, Sebastião Rodrigues diz que não vai permitir que a energia chegue às 75 famílias que vivem em sua propriedade enquanto o Incra não lhe pagar por ela. A comunidade foi escolhida para ser beneficiada pelo programa há três anos.
Funcionários da empresa licitada para fazer as obras foram impedidos de trabalhar quando faziam um levantamento topográfico da área, segundo o coordenador do programa no Estado, Júlio Rodrigues.
"Eu não permito que instale energia. Jamais. Eu só autorizo quando o Incra me pagar", disse Sebastião Rodrigues à Folha, por telefone. Para negociar uma saída para o impasse, uma reunião entre o proprietário, o Incra, o coordenador do programa e a comunidade foi agendada para hoje.
Invasores
"Estou impedindo porque não permito que levem energia para invasores. Depois que o Incra me pagar, eles passam a ser assentados. É a minha forma de pressionar", disse Rodrigues. As negociações entre o Incra e o proprietário já duram dois anos, segundo o ouvidor do Incra no Piauí, Estânio Vieira.
Apesar de ser uma área de invasão, o programa entende que o acesso à energia elétrica é um direito do cidadão e deve ser isolado da questão do conflito de terras, afirma o coordenador do programa no Piauí.
Enquanto isso, as 75 famílias continuam à luz de lamparinas. A comunidade é formada por pequenos agricultores que produzem para sua subsistência. A água para o consumo e o cultivo é escassa --sua falta poderia ser resolvida se houvesse energia para bombear água de um poço, diz Maria Julia de Jesus, 45, lavradora da comunidade.
Outro caso
Situação parecida vive a comunidade de Marrecas, na cidade de Barras (133 km de Teresina), onde 35 famílias de posseiros, que invadiram a área há pelo menos 20 anos, segundo Júlio Rodrigues, ainda esperam pelas obras do Luz Para Todos --o benefício às famílias foi aprovado há dois anos.
De acordo com Rodrigues, lá também há desentendimentos entre os posseiros e o proprietário, que não quer a desapropriação de suas terras e só concorda em autorizar as instalações se as famílias abandonarem as áreas onde fazem sua produção agrícola.
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