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05/10/2002 - 08h38

Gesner Oliveira: Choque de credibilidade com Serra

GESNER OLIVEIRA
Especial para a Folha de S.Paulo

José Serra é, de longe, o melhor candidato para presidir o país na atual situação de incerteza interna e externa. O preço do dólar e o prêmio de risco estão muito além daquilo que justificariam os indicadores econômicos. Isso se deve a uma razão simples: a dúvida quanto às políticas do futuro presidente em relação à estabilidade da economia.

A vitória de José Serra representará o compromisso efetivo com os três pilares indispensáveis para o Brasil rechaçar o passado de pacotes e hiperinflação: a austeridade nas contas públicas, a determinação de manter as metas de inflação e um regime de câmbio flutuante sem artificialismos.

As demais candidaturas não reúnem um mínimo de credibilidade diante desses compromissos. Ou porque ainda objetam um ou mais dos pilares da política de estabilidade; ou porque foram recém convertidas a ela e, na melhor das hipóteses, precisarão de tempo para demonstrar coerência com a retórica de campanha, bem como proficiência na gestão da máquina pública federal. Um tempo caro demais em termos de produção e emprego. Um tempo de que o país não dispõe.

A vantagem da candidatura Serra não se restringe, contudo, ao curtíssimo prazo e à possibilidade de estourar a bolha especulativa dos últimos meses mediante um choque de credibilidade.

José Serra tem um plano detalhado e consistente de como romper com o círculo vicioso de prêmio de risco elevado, juros altos e consequente inibição do investimento produtivo e do emprego.

Quatro elementos articulados devem transformar o atual círculo vicioso em um círculo virtuoso de crescimento sustentado: a promoção sistemática das exportações e a substituição competitiva de importações, a reforma tributária, a melhoria da infra-estrutura e a criação de instrumentos de financiamento de longo prazo.

Em contraste, as demais candidaturas, nas melhores vertentes, contêm críticas ao modelo genericamente rotulado de neoliberal, mas são parcimoniosas nas propostas concretas para o futuro.

Por fim, a situação internacional não recomenda experimentação. Não bastasse a tensão no Oriente Médio, o Brasil está prestes a ingressar em uma das mais difíceis e complexas negociações da história do comércio mundial, envolvendo negociações simultâneas nos âmbitos da OMC (Organização Mundial do Comércio), do acordo Mercosul/União Européia, da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), da reestruturação do Mercosul e, por último e não menos importante, de urgentes acordos bilaterais com países como a África do Sul, a China e a Rússia. José Serra protagonizou uma das ações de maior êxito na OMC na questão das patentes durante sua gestão no Ministério da Saúde. Em contraste, os demais candidatos têm escassa experiência internacional.

O eleitor exercerá em breve uma escolha democrática decisiva para os rumos do desenvolvimento brasileiro. O voto em José Serra representa o aprofundamento da mudança, a superação do populismo e do corporativismo do passado e a possibilidade de crescimento sustentado com diminuição das desigualdades regionais e sociais. Não é por outra razão sua vitória nas urnas há de atenuar as atuais pressões especulativas.

Gesner Oliveira, coordenador do programa econômico de José Serra, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), professor da FGV-Eaesp e ex-presidente do Cade.

Veja também o especial Eleições 2002
 

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