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07/10/2002 - 17h28

No 2º turno, Lula precisa de apoio da esquerda, e Serra, recompor base

CAMILO TOSCANO
da Folha Online

O segundo turno das eleições presidenciais de 2002 põe frente a frente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato do principal partido de oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso, e José Serra (PSDB), candidato do presidente.

A oito anos na oposição a FHC, criticando o modelo econômico e o legado na área social deixado pelo atual governo, Lula chega pela primeira vez a um segundo turno como favorito, ao contrário de 1989, quando enfrentou Fernando Collor de Mello, e de 1994 e 1998, ao se defrontar com FHC.

Aliadas a oposição ao governo, o discurso e as negociações políticas mais voltados a setores situados no centro do espectro político colocaram Lula na condição, com 46% dos votos válidos (quase 40 milhões de votos), de diálogo com setores antes refratários e combatidos por ele e o PT. Seu discurso, propostas e, talvez principalmente, imagem tornaram-se menos radical e mais próxima dos setores mais conservadores.

Indicativos dessa guinada para o centro de Lula foram a indicação do empresário do setor têxtil e senador José Alencar (PL-MG) para vice, a confecção de propostas mais moderadas, as adesões de figuras políticas como os ex-presidentes José Sarney (PMDB-AP) e Itamar Franco (sem partido), o ex-governador Orestes Quércia (PMDB), e os empresários Eugênio Staub (Gradiente) e Josmar Avelino (ex-presidente da Klabin).

Sua campanha teve também a maior estrutura já presente na história do partido, com previsão de gastos na ordem de R$ 36 milhões. Carro blindado, guarda-costas e jatinho para viagens, somados aos comitês, ao material de campanha e a nomes como o do publicitário Duda Mendonça, do jornalista Ricardo Kotscho, do cientista político André Singer, do cineasta Paulo Caldas e de outras 200 pessoas, fizeram desta a campanha mais profissional de Lula.

Duda trabalhou para reduzir o índice de rejeição a Lula -historicamente maior entre as mulheres e os mais velhos -, com inserções na TV nas quais falava diretamente a esses setores, marcadas pelo tom emocional, e com uma linha de neutralidade em temas polêmicos, que pudessem lhe tirar votos. Chegou a dizer que não iria responder a ataques de adversários, com a frase: "Sou Lulinha paz e amor".

Serra teve estrutura de campanha maior ainda que a de Lula. Declarou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o teto de gastos de R$ 60 milhões, contratou uma extensa equipe de assessores de imprensa, sediados em Brasília e em São Paulo, além de contar com estrelas em seu programa eleitoral (o apresentador Gugu Liberato, a jornalista Valéria Monteiro, a cantora Elba Ramalho e o grupo KLB), criação do publicitário Nizan Guanaes.

Pode-se dizer, no entanto, que o tucano venceu a etapa mais difícil de sua campanha: a passagem ao segundo turno, ao obter 23% dos votos válidos (19,6 milhões de votos). Até o final do primeiro turno, Serra não conseguiu ser unanimidade entre os partidos que deram sustentação ao presidente FHC e foi lançado candidato a presidente de uma coligação rachada.

Oficialmente, a aliança reuniu o PSDB e o PMDB, mas as seções estaduais de São Paulo e Santa catarina do PMDB, entre outras, não se engajaram na disputa. Dentro do PSDB, perdeu o apoio do ex-governador Tasso Jereissati (CE), a quem se impôs como candidato e que aderiu abertamente à campanha do amigo Ciro Gomes (PPS).

Crítico há anos de políticas econômicas adotadas pelo governo FHC, Serra passou a campanha tentando solucionar a equação a que se propôs ao ser lançado candidato: ser a "continuidade sem continuísmo". Ou seja, como manter suas críticas e cooptar o anseio popular por mudanças, sem colocar de lado o controle da inflação e o Plano Real, principais bandeiras de FHC que tem apoio de um terço da população.

Sua imagem de antipático, baseada em sua linguagem técnica e nos discursos de pouco apelo popular, também mostrou-se obstáculo à sua pretensão de polarizar com Lula desde o começo do processo eleitoral.

Mal colocado nas pesquisas de intenção de voto, a propaganda do tucano passou boa parte do tempo tentado "desconstruir" seus adversários. A estratégia funcionou ao derrubar os índices de seus oponentes, mas fracassou na missão de provocar uma "ventania de votos", nas palavras do próprio candidato. A propaganda negativa fez crescer também seus percentual de rejeição.

Ao chegar ao segundo turno, Serra tem a chance de recompor uma parcela significativa dos partidos que formaram a base de sustentação do governo FHC. Com a ajuda do presidente, que participou timidamente da campanha até agora, os tucanos podem trazer o apoio de setores do PFL e do PTB. Para isto, terão que negociar e dissolver as resistências pessoais à candidatura de Serra.

Veja também o especial Eleições 2002
 

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