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12/10/2002 - 05h32

Análise: FHC foi o "marqueteiro" de Lula perante Chávez

ELIANE CANTANHÊDE
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O embaixador da Venezuela, Vladimir Villegas, desprezou ontem as declarações do tucano José Serra prevendo que o Brasil viraria uma Venezuela com a vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva: "Uma coisa é o que diz o candidato [Serra], e outra o que diz o governo [FHC]".

Villegas deixou claro, assim, a proximidade dos presidentes Hugo Chávez e Fernando Henrique Cardoso. Apesar de os desacertos da Venezuela serem usados contra Lula no Brasil, Chávez é mais amigo de FHC do que do próprio Lula, com quem se encontrou pessoalmente no final do ano passado, em Caracas.

Em discurso durante comício em Goiânia, anteontem à noite, Serra defendeu uma "mudança segura" e fez a comparação: "Vejam o que aconteceu na Venezuela. O que deu prometer sonhos sem pensar na realidade, frustrando e trazendo inquietações, perturbações e um retrocesso para o país".

O maior "cabo eleitoral" de Lula junto ao presidente venezuelano, porém, foi o próprio FHC. A primeira viagem internacional de Chávez ao ser eleito foi ao Brasil, os dois têm canal direto e Chávez sempre prestigiou o Brasil para afirmar sua prioridade de virar as costas para os EUA e de frente para a América Latina.

Num dos encontros dos dois presidentes, ainda no ano passado, FHC comentava o processo político brasileiro quando criticou a então forte candidatura da pefelista Roseana Sarney como um "retrocesso". Na sua opinião, Lula seria "um avanço", ao contrário de outras alternativas, como Itamar Franco (sem partido) ou Anthony Garotinho (PSB).

O presidente venezuelano guardou muito bem a conversa e, ao saber que Lula iria a Cuba em dezembro para uma reunião latino-americana e se encontraria com o ditador Fidel Castro, telefonou para o Instituto Cidadania, do PT, convidando-o para esticar a viagem até Caracas.

Lula foi e, conforme a Folha apurou à época, ouviu a confidência de Chávez: FHC considerava que Lula e o PT não seriam uma má opção para o Brasil.

Apesar da ligação com FHC -a quem chama de "maestro" (mestre em espanhol)-, Chávez nunca apoiou Serra. E, desde então, elogia Lula em discursos e entrevistas. Uma delas foi em Johannesburgo, África do Sul, depois de uma reunião sobre ambiente da qual participaram tanto Chávez quanto FHC.

A jornalistas brasileiros, o presidente venezuelano defendeu que "os caminhos do desenvolvimento integral passam pela esquerda" e se referiu assim ao candidato do PT: "Lula é muito amigo meu, grande amigo meu, extraordinário amigo meu".

A manifestação de apoio de Chávez a Lula é usada por setores conservadores do Brasil como tentativa de dizer que a vitória do petista poderia reforçar a posição de Fidel e de Chávez na América Latina, fazendo uma espécie de triângulo de esquerda.

No Brasil e na Venezuela, a esquerda reage com contra-informações. Na véspera do primeiro turno, por exemplo, chavistas tentaram divulgar a versão de que o ato de anteontem contra Chávez seria antecipado para domingo, para prejudicar Lula.

A versão não era verdadeira, e o ato não foi antecipado. Foi anteontem, como previsto, com milhares de pessoas na rua e a sensação de que Chávez dificilmente manterá sustentação no poder.

Veja também o especial Eleições 2002
 

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