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16/10/2002
-
07h28
da Folha de S.Paulo, em Miami
Autoridades norte-americanas fizeram questão ontem de deixar claro que os EUA estão prontos para trabalhar com um eventual governo Luiz Inácio Lula da Silva desde que esse adote "políticas sadias". A expressão encobre o jargão para equilíbrio orçamentário, controle da inflação e respeito aos contratos (leia-se: nada de calote).
"O dinheiro [do Fundo Monetário Internacional] está lá, desde que as políticas corretas também estejam", diz, por exemplo, Kenneth Dam, subsecretário do Tesouro dos EUA, em alusão ao mais recente pacote do FMI para o Brasil, de US$ 30 bilhões.
Dam fez questão de ser explícito em relação ao que considera "políticas sadias": "A manutenção da prudência fiscal e passos concretos para reformar os grandes empecilhos para o crescimento, como a atual estrutura tributária".
Reforma tributária consta do acordo entre Brasil e FMI, mas é inusual que funcionários de outro país desçam a detalhes de políticas específicas para parceiros.
Já Otto Reich, subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental (leia-se: América Latina), preferiu dizer que os EUA "trabalharão com aqueles governos que compartilhem nossos valores". Que valores? "Promover direitos humanos e democracia, sem tentar redefini-los, oferecer oportunidades para seu povo, não interferir nos assuntos de vizinhos, por exemplo abrigando terroristas."
Os dois altos funcionários falaram na Conferência das Américas, organizada pelo jornal "The Miami Herald". Nas suas falas e nas entrevistas coletivas que deram, o tema Brasil foi recorrente.
Reich e Dam despejaram elogios ao processo democrático brasileiro. O subsecretário do Tesouro lembrou que a atual eleição é a quarta desde a redemocratização (1985) "e está sendo totalmente pacífica mesmo com grandes diferenças entre os candidatos".
Por isso, enfatizou que os Estados Unidos "apóiam o processo democrático e apoiarão quem for democraticamente eleito".
Reich, um arquiconservador, foi na mesma direção, a ponto de driblar pergunta sobre um suposto eixo de esquerda Brasília/ Caracas/Havana, a ser formado se Lula ganhar, já que o petista tem boas relações com o venezuelano Hugo Chávez e o cubano Fidel Castro.
"Os modelos de esquerda não funcionaram em nenhum país. Não creio que nenhum governo democrático vá escolher um sistema falido", preferiu responder.
Dam elogiou o atual governo, em especial o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, pela "liderança" que exercem e pelas "políticas sadias" que praticam. A explicação do subsecretário do Tesouro para o fato de o Brasil estar sob intensa turbulência financeira, apesar das "políticas sadias", é "o nervosismo do mercado sobre o resultado [eleitoral] e sobre as políticas que serão seguidas pelo novo governo".
"Estou certo de que [o novo governo] fará o melhor para a economia do país", disse Dam, pedindo que não seja feito um "pré-julgamento" de um eventual governo Lula. Mas lembrou que "o Brasil só receberá a maior parte do empréstimo do FMI se aderir a políticas sadias" (prudência fiscal e reforma tributária).
Já Reich insinuou que a relação Brasil/EUA poderá ser comprometida por gestos (não especificados) do novo governo brasileiro.
Deu o exemplo de Venezuela e México, para dizer que, com ambos, os EUA têm contenciosos comerciais e de outra natureza, mas que as relações com o México são melhores. Explicou: "Reagimos como humanos: se nos estendem uma mão amiga, nós a pegamos. Presumimos que o governo a ser eleito [no Brasil] será amigo".
O jornalista CLÓVIS ROSSI viajou a Miami a convite do jornal "The Miami Herald" para participar da Conferência das Américas
EUA dizem a Lula que colaboração está vinculada a 'políticas sadias'
CLÓVIS ROSSIda Folha de S.Paulo, em Miami
Autoridades norte-americanas fizeram questão ontem de deixar claro que os EUA estão prontos para trabalhar com um eventual governo Luiz Inácio Lula da Silva desde que esse adote "políticas sadias". A expressão encobre o jargão para equilíbrio orçamentário, controle da inflação e respeito aos contratos (leia-se: nada de calote).
"O dinheiro [do Fundo Monetário Internacional] está lá, desde que as políticas corretas também estejam", diz, por exemplo, Kenneth Dam, subsecretário do Tesouro dos EUA, em alusão ao mais recente pacote do FMI para o Brasil, de US$ 30 bilhões.
Dam fez questão de ser explícito em relação ao que considera "políticas sadias": "A manutenção da prudência fiscal e passos concretos para reformar os grandes empecilhos para o crescimento, como a atual estrutura tributária".
Reforma tributária consta do acordo entre Brasil e FMI, mas é inusual que funcionários de outro país desçam a detalhes de políticas específicas para parceiros.
Já Otto Reich, subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental (leia-se: América Latina), preferiu dizer que os EUA "trabalharão com aqueles governos que compartilhem nossos valores". Que valores? "Promover direitos humanos e democracia, sem tentar redefini-los, oferecer oportunidades para seu povo, não interferir nos assuntos de vizinhos, por exemplo abrigando terroristas."
Os dois altos funcionários falaram na Conferência das Américas, organizada pelo jornal "The Miami Herald". Nas suas falas e nas entrevistas coletivas que deram, o tema Brasil foi recorrente.
Reich e Dam despejaram elogios ao processo democrático brasileiro. O subsecretário do Tesouro lembrou que a atual eleição é a quarta desde a redemocratização (1985) "e está sendo totalmente pacífica mesmo com grandes diferenças entre os candidatos".
Por isso, enfatizou que os Estados Unidos "apóiam o processo democrático e apoiarão quem for democraticamente eleito".
Reich, um arquiconservador, foi na mesma direção, a ponto de driblar pergunta sobre um suposto eixo de esquerda Brasília/ Caracas/Havana, a ser formado se Lula ganhar, já que o petista tem boas relações com o venezuelano Hugo Chávez e o cubano Fidel Castro.
"Os modelos de esquerda não funcionaram em nenhum país. Não creio que nenhum governo democrático vá escolher um sistema falido", preferiu responder.
Dam elogiou o atual governo, em especial o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, pela "liderança" que exercem e pelas "políticas sadias" que praticam. A explicação do subsecretário do Tesouro para o fato de o Brasil estar sob intensa turbulência financeira, apesar das "políticas sadias", é "o nervosismo do mercado sobre o resultado [eleitoral] e sobre as políticas que serão seguidas pelo novo governo".
"Estou certo de que [o novo governo] fará o melhor para a economia do país", disse Dam, pedindo que não seja feito um "pré-julgamento" de um eventual governo Lula. Mas lembrou que "o Brasil só receberá a maior parte do empréstimo do FMI se aderir a políticas sadias" (prudência fiscal e reforma tributária).
Já Reich insinuou que a relação Brasil/EUA poderá ser comprometida por gestos (não especificados) do novo governo brasileiro.
Deu o exemplo de Venezuela e México, para dizer que, com ambos, os EUA têm contenciosos comerciais e de outra natureza, mas que as relações com o México são melhores. Explicou: "Reagimos como humanos: se nos estendem uma mão amiga, nós a pegamos. Presumimos que o governo a ser eleito [no Brasil] será amigo".
O jornalista CLÓVIS ROSSI viajou a Miami a convite do jornal "The Miami Herald" para participar da Conferência das Américas
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