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17/10/2002 - 05h16

Lula evita entrevistas e limita debate com Serra no 2º turno

LUIZ CAVERSAN
da Folha de S.Paulo

A decisão do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, de participar de apenas um debate com o presidenciável tucano, José Serra, frustrou iniciativas de pelo menos quatro veículos de comunicação, entre eles a Folha.

Também as redes de televisão Record e Bandeirantes pretendiam promover encontros em que os candidatos do segundo turno debateriam suas propostas. E a TV Cultura convidou Lula para ser entrevistado por jornalistas no programa "Roda Viva", do qual Serra participou na última segunda-feira. Além de evitar comparecer a debates, Lula tem adotado uma atitude bastante restritiva em relação a entrevistas.

Ele não respondeu, por exemplo, a um convite do apresentador Jô Soares para ir ao seu programa da TV Globo. Serra aceitou a proposta de Jô Soares, que, diante da ausência de resposta de Lula, decidiu suspender o convite ao tucano. "Eu não poderia entrevistar apenas um dos dois candidatos", disse o apresentador.

Até ontem, só a Bandeirantes ainda aguardava uma definição do petista sobre o debate.

Lula e Serra deverão se encontrar frente a frente somente na Rede Globo, no próximo dia 25.

Segundo dados da pesquisa do Datafolha publicada no último domingo, 74% dos eleitores consideram muito importante a realização de debate entre os candidatos no segundo turno.

De acordo com o porta-voz de Lula, André Singer, o candidato petista "quer debates, mas o segundo turno disponibiliza poucos dias, e a agenda do Lula é muito cheia. Ele pretende ir a oito Estados onde o PT passou para o segundo turno e também a outros, onde há aliados importantes."

"Além disso", diz Singer, "existem as gravações para o horário eleitoral; são 20 minutos diários até o dia 25. Por isso restou a possibilidade de um debate, e foi decidido que ele iria à Globo. A campanha sugeriu que as demais emissoras montassem um "pool" para a transmissão conjunta, mas não cabe a ela decidir se isso vai acontecer."

Singer afirmou ainda que o debate na Globo foi escolhido por dois motivos: "Havia um compromisso por escrito desde maio e o formato adotado pelo programa será democrático, porque vai permitir participação do eleitor."

De sua parte, o coordenador de imprensa da campanha de José Serra, Alon Feuerwerker, afirma que o candidato tucano defende a realização de um ciclo de debates e entrevistas, da mesma forma que ocorreu no primeiro turno.

"Ao optar pela realização do segundo turno, o eleitor decidiu adiar sua decisão e que precisaria de mais tempo para conhecer melhor os candidatos e suas propostas sobre o Brasil. Nesse sentido, a realização de debates é extremamente importante para o eleitor, porque o candidato pode ser testado em situações de improviso e sobre temas que eventualmente não lhe agradem."

Para Feuerwerker, "por causa do sistema de governo, o presidente da República tem muito poder no Brasil, então é razoável que se queira saber o que de fato o candidato pensa e quer fazer, por intermédio de debates e encontros com a imprensa."

Convite antigo
Cada um dos quatro principais candidatos à Presidência foi convidado, ainda antes do primeiro turno das eleições, a participar, caso fosse para o segundo turno, de debate organizado pela Folha.

Aceitaram de pronto os candidatos Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS). As assessorias de Serra e Lula afirmaram que não marcariam nenhum compromisso para o segundo turno antes de 6 de outubro.

Uma vez confirmado que haveria segundo turno, a Folha voltou a convidar José Serra e Lula a se encontrarem no jornal. José Serra respondeu primeiro ao convite, afirmando, por meio de sua assessoria, que participaria de debate se ele fosse realizado no dia 17 de outubro.

A Folha comunicou à assessoria de Lula que o candidato do PSDB havia aceitado participar de encontro no dia 17 e pediu uma resposta sobre a concordância de Lula até o dia 10 de outubro, a fim de organizar o evento.

Como não houve resposta até o dia 14, apesar da insistência do jornal, o debate foi cancelado.

Procurada mais uma vez pela Folha, a assessoria de Lula afirmou na terça-feira que o candidato já tinha um compromisso agendado para o dia 17.

O âncora e editor-chefe do "Jornal da Record", Boris Casoy, disse que a emissora não recebeu resposta ao convite feito a Lula para que ele participasse de um debate na emissora, a exemplo do que fizera no primeiro turno. "Não recebemos nenhuma resposta, e eu cobrei isso no ar", afirmou Casoy.

"Eu reconheço que, no primeiro turno, Lula esteve fora dos padrões que têm norteado o comportamento dos candidatos. Mesmo com grande vantagem nas pesquisas, agiu correta e democraticamente comparecendo a todos os debates. O que geralmente acontece é que, quando está na frente, o candidato não comparece, acredita que pouco tem a ganhar e pode perder muito. Foi assim com Fernando Henrique nas duas eleições, foi assim com Paulo Maluf no primeiro turno para governador", disse Casoy.

Em relação ao segundo turno, afirma Casoy, "Lula tem a virtude de pelo menos ter aceito um debate. Mas o faz às vésperas da eleição, tarde da noite, com o mínimo de possibilidade de influenciar o resultado eleitoral. Ou seja, ele segue o padrão. E não sei por que essa preferência pela Rede Globo. Ele deve ter suas razões. De minha parte, gostaria muito de vê-lo debatendo mais vezes dentro de sua pregação por mudanças. O respeito ao debate poderia ser uma dessas mudanças."

Tentativa
O diretor de jornalismo da Rede Bandeirantes, Fernando Mitre, disse ontem ainda ter esperança de que possa realizar um encontro entre Lula e Serra em sua emissora. "Ainda não desisti. Estou em contato com os coordenadores do PT. Acho muito difícil um debate, mas estou tentando fazer um programa em que haja a exposição dos candidatos."

Segundo Mitre, a fórmula que deverá ser adotada pelo programa da Rede Globo _os candidatos responderão a perguntas do público_ vai "prejudicar o confronto de idéias". "O que soube a respeito do programa da Globo permite concluir que chegaremos ao final do segundo turno sem um confronto entre os dois."

O diretor de jornalismo da TV Cultura, Marco Antônio Coelho, disse lamentar muito que o candidato do PT não tenha aceitado participar do "Roda Viva". "É uma pena, porque seria uma prestação de serviço da TV pública ao eleitor, no programa televisivo que proporciona o maior tempo para a reflexão."

Coelho acredita que a candidatura de Lula esteja "sofrendo uma inflexão eleitoral. Ele não quer se expor porque está na frente. Ou seja, o marketing está acima da necessidade de conhecimento do eleitor e por causa dele não se pode avaliar melhor as propostas para governar o país". No segundo turno os candidatos deveriam ir a debates. Não é andando nas ruas que eles vão tornar suas idéias mais conhecidas".

Veja também o especial Eleições 2002
 

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