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27/10/2002 - 07h31

Dos sete fundadores do PSDB, só Serra se manterá na política ativa

ELIANE CANTANHÊDE
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Com o início da contagem regressiva do governo Fernando Henrique Cardoso, hoje, encerram-se o mais longo "reinado" de um partido em período de estabilidade institucional no Brasil e todo um ciclo no próprio PSDB. Dos sete tucanos originais, só um se manterá na política ativa: José Serra, candidato à Presidência.

Franco Montoro morreu em 1999, aos 83 anos, e Mário Covas, em março de 2001, aos 70. José Richa abandonou o partido e a vida pública em 1994. Euclides Scalco se desfiliou na mesma época, mas chega ao fim do governo FHC com gabinete no Planalto. Pimenta da Veiga cumpre seu último mandato de deputado e nem sequer disputou a eleição.

Com a saída de FHC, 71, da cena política, sobra apenas Serra, 60, que deve ficar sem mandato e disputar liderança no partido com as estrelas em ascensão: Aécio Neves, eleito governador de Minas, e Geraldo Alckmin.
Fundado em junho de 1988 -ano da Constituinte- com oito senadores e 40 deputados federais vindos principalmente do PMDB, o PSDB levou um banho das urnas nas eleições municipais de 1988, nas presidenciais de 1989 (Covas ficou em quarto lugar) e nas eleições gerais de 1990.

Em 1994, porém, fez a festa. Além da Presidência, ganhou os governos de São Paulo (Covas), Rio (Marcello Alencar) e Minas (Eduardo Azeredo).

Segundo FHC disse à Folha, o PSDB "foi um momento de revisão de rumos e de criatividade. Qualquer mudança séria da sociedade requer, antes de mais nada, conceitos novos. O PSDB encarnou esse tipo de inovação".

Ao tomar posse, FHC tinha como braço direito um personagem essencialmente paulista, Sérgio Motta, que não era político nem muito conhecido, virou ministro das Comunicações e morreu em abril de 1998. Mas o presidente já não contava com Richa e Scalco.

Parlamentarismo
O dentista Richa, 68, risonho e comilão, foi de líder estudantil a governador, mas perdeu a eleição de 1990 e não resistiu à derrota do parlamentarismo no plebiscito de 1993: "O PSDB foi fundado em torno da tese parlamentarista. Quando vi que a minha geração não ia ver essa modernidade na prática, perdi todo o interesse", disse. Há anos é consultor de empresas privadas.

No governo FHC, recusou cargos e até ministérios, alegando que o presidencialismo corrói os melhores partidos e as melhores intenções. Jamais, porém, deixou de visitar o amigo Covas. Uma amizade de décadas.

Scalco, 70, nascido gaúcho, tornado paranaense, é caladão, ligado à Igreja Católica. Quando Álvaro Dias (hoje no PDT e candidato ao governo do Paraná) entrou no PSDB, avisou: "Não foi para isso que ajudei a criar um partido". Na semana passada, no seu gabinete de secretário-geral da Presidência, explicou por que voltou a ser tucano em 2001: "Quando o Álvaro saiu, me senti no dever de voltar".

A dissidência de esquerda no PMDB surgiu por questões nacionais e regionais. Foi uma reação ao presidencialismo e aos cinco anos de mandato para Sarney (85-90), mas também aos adversários estaduais que estavam tomando de assalto o partido. Com o poder, o PMDB virou a "casa-da-mãe-joana". Processo que se repetiria no próprio PSDB.

Montoro era o "pai" de toda uma geração em São Paulo, Covas era líder do PMDB na Constituinte e principal estrela do grupo, e FHC, o intelectual famoso sem muito traquejo em política. "As coisas giravam em torno do Covas", relata Pimenta.

As reuniões, ainda secretas, eram no Hotel Nacional de Brasília, onde morava Montoro, ou na chácara de Pimenta no Lago Sul. Ex-secretário de Planejamento do governo Montoro (SP), Serra o chamava de "Dr. André" e tinha muita afinidade com FHC. "Na minha memória, vejo o Serra com pastas debaixo do braço, correndo e atrasado", diz Scalco.

Quando eles se reuniram para votar a sigla, a imprensa já tinha apelidado a dissidência do PMDB de SDB (Social Democracia Brasileira). Montoro, que vinha da Democracia Cristã, não gostava. Mas PDP (Partido Democrático Popular) soava como o PDT de Leonel Brizola. Meteram o "P" antes de SDB, como exigia a lei partidária, e seguiram em frente.

Valeu a pena? Para Pimenta, valeu: "O extraordinário legado de FHC é o legado do PSDB".

Veja também o especial Eleições 2002
 

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