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27/10/2002 - 21h23

Lula demorou 13 dias para ir de Pernambuco a São Paulo

da Folha Online

A cidade de Garanhuns (230 km a sudoeste de Recife), no agreste nordestino, é a terra natal do novo presidente da República. Conhecida como a "Suíça Pernambucana", o município de 110 mil habitantes espera atenção especial a partir de 2003.

Luiz Inácio Lula da Silva, 57, viveu na zona rural do local até os 5 anos, quando migrou com a mãe, Eurídice, para Vicente de Carvalho (SP), onde o pai, Aristides, já trabalhava na estiva do porto de Santos. A viagem de pau-de-arara durou 13 dias, em que se alimentou de farinha, rapadura e queijo. No litoral, vendia amendoim, tapioca e laranja.

"A gente tem a esperança de que ele ajude o lugar onde nasceu e onde moram seus parentes", diz o primo Florêncio de Melo Neto, 68, mais conhecido na cidade pelo apelido de "Lola".

Situada entre sete colinas, a cerca de 900 metros acima do nível do mar, Garanhuns chega a registrar 5ºC nos meses mais frios (maio a agosto).

O município está encravado em uma reserva hidromineral. Mas falta água para garantir o consumo da população e viabilizar a irrigação na agricultura _a população espera a construção de uma barragem.

"Não temos saneamento básico. O esgoto corre para o rio. O hospital atende mal. Não há emprego", afirma outro primo, o comerciante João Florêncio de Melo, 63.

Este, que também deixou a terra natal e só voltou há 15 anos, jogava futebol com o petista quando ele já morava na Vila Carioca, região do Ipiranga (zona sul de São Paulo). Na infância, o sonho de Lula era virar jogador do Corinthians.

Em Garanhuns (69,5 mil eleitores), Lula teve 63% dos votos válidos no primeiro turno, desempenho bem superior à média nacional (46%).

Na última visita ao município, antes do início da campanha eleitoral, Lula comeu o prato típico da região: carne de bode com fava.

Sul maravilha
Ao chegar a São Paulo, Lula começou a trabalhar, aos 12 anos, como engraxate e entregador de roupas em uma lavanderia. Em 1963, formou-se torneiro mecânico no Senai e, em 1964, transferiu-se à metalúrgica Aliança. Foi aí que perdeu o dedo mínimo da mão esquerda, em acidente.

A passagem da vida de operário para a de político aconteceu com a atividade sindical, para a qual entrou em 19666, por intermédio de seu irmão José Ferreira da Silva, o Frei Chico, militante do extinto Partido Comunista.

Em 1972, foi eleito primeiro-secretário do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Em 1975, elegeu-se presidente. Lula compareceu à posse de terno, gravata e colete. O traje virou alvo de comentários. Nunca um sindicalista havia se vestido assim.

Engana-se quem pensa que o atual figurino de Lula é apenas resultado da ação de marqueteiros. Em uma entrevista ao programa "Vox Populi", da TV Cultura, em maio de 1978, o então sindicalista disse que a classe trabalhadora não gosta de miséria e que tem o direito de consumir tudo o que produz.

"É o mínimo a que nós podemos aspirar ou iremos apenas fazer os outros se vestirem, assistirem TV em cores e viver bem", dissera.

Nessa mesma entrevista, Lula afirmava que não tinha pretensões políticas futuras depois que deixasse o sindicato e que para isso havia sindicalistas mais capacitados. "Jamais participarei disto [política partidária].

Na época, ele surgia como uma nova liderança no país. O Brasil vivia sob o regime militar, e os sindicatos dos metalúrgicos do ABC desafiavam o poder constituído na luta por melhores salários.

Eram movimentos de massa com piquetes nas ruas, assembléias em estádios de futebol e greves com prazos indeterminados.

Na paralisação de 1979, o sindicato de São Bernardo e Diadema sofreu intervenção do governo federal, e Lula foi destituído do cargo. Em 1980, mais de 100 mil trabalhadores aderiram ao que foi considerado pela imprensa na época de "a maior paralisação operária da história do sindicalismo brasileiro".

Lula e mais sete sindicalistas _entre eles o ex-presidenciável do PSTU José Maria de Almeida_ foram presos pelo Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) como forma de pressionar a volta ao trabalho.

Enquanto estava preso, a mãe de Lula, Eurídice Ferreira de Mello, morreu de câncer aos 65 anos. Assim que soube da morte da sogra, Marisa Letícia entrou em contato com o então delegado Romeu Tuma, senador reeleito do PFL-SP, para permitir que o marido acompanhasse o velório e o enterro.

Cerca de 2.000 pessoas se aglomeraram nas proximidades do cemitério da Vila Paulicéia, em São Bernardo, para saudar o sindicalista e pedir sua libertação. Lula foi solto após um mês de prisão. Em 1981, foi condenado pela Justiça Militar a três anos e seis meses de detenção por incitação à desordem coletiva, mas a sentença acabou anulada no ano seguinte.

Ao ser solto, o ex-secretário da Segurança Pública de São Paulo, Erasmo Dias, um dos personagens mais representativos da repressão política no regime militar em São Paulo, foi profético em relação ao destino do sindicalista. "Ele tem agora um futuro político garantido e se elege tranqüilamente deputado ou senador", dissera Dias em entrevista após a libertação de Lula.

Em fevereiro de 1980, Lula participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo e, em 26 de maio, sua chapa foi eleita para comandar a executiva da sigla.

Em 1982, Luiz Inácio da Silva acrescentou o apelido "Lula" ao nome e disputou o governo de São Paulo. Em 1986, foi eleito com a maior votação do país para a Assembléia Nacional Constituinte. Em 1989, disputou pela primeira vez à Presidência da República e foi derrotado por Fernando Collor de Mello no segundo turno.

Decidido a disputar novamente o cargo, Lula cruzou o país do Oiapoque (AM) ao Chuí (RS) nas "Caravanas da Cidadania". Em 1994 e 1998, no entanto, perdeu a eleição no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Agora, Lula chega a presidência de República no dia que completa 57 anos de idade.

Veja também o especial Eleições 2002

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