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28/10/2002
-
08h30
da Folha de S.Paulo, em Washington
O presidente dos EUA, George W. Bush, parabenizou ontem o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e disse estar esperando para trabalhar ''produtivamente" com o próximo governo brasileiro.
''O presidente parabeniza o ganhador das eleições e aguarda para trabalhar produtivamente com o Brasil", disse Bush por meio de seu porta-voz, Ari Fleisher, a bordo do avião presidencial dos EUA.
O presidente americano voltava da cúpula da Apec (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico), realizada no México.
Bush deverá telefonar para Lula entre hoje e amanhã, congratulando-o diretamente pela vitória e buscando estabelecer um relacionamento pessoal entre os dois líderes.
Até sexta-feira passada, a Casa Branca não havia decidido se Bush convidaria Lula para uma visita a Washington antes da posse, em janeiro, nem se o secretário de Estado, Colin Powell, viajaria ao Brasil nesse período.
As duas opções buscariam aproximar os dois países num momento de teste para a relação bilateral e de importância histórica para a região. Na Guerra Fria, os EUA conspiraram para derrubar ou minar quaisquer líderes de esquerda ou independentes na América Latina. No entanto, o governo americano procurou tratar de forma isenta e imparcial o último processo eleitoral brasileiro.
''Os EUA estão abrindo as portas para Lula e estendendo as mãos para ele", disse Miguel Diaz, do CSIS (Center for Strategic and International Studies), em Washington. "Agora resta saber o que ele fará com essa oportunidade."
Hoje, o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, elogiará a democracia brasileira e dirá que os EUA estão otimistas com o futuro da relação bilateral e com a administração de Lula. Depois do telefonema de Bush a Lula, a Casa Branca emitirá uma nota com o resumo da conversa e, indiretamente, ditará os rumos de uma tentativa de aproximar os dois líderes.
Stephen Johnson, especialista da Heritage Foundation _ entidade extremamente ligada à administração Bush e uma das mais conservadoras do país _, disse que a Casa Branca deverá ''testar" Lula nos primeiros meses. "A administração Bush espera que Lula tenha sido verdadeiro quando caminhou para o centro e que tenha sido apenas retórico quando fez comentários de esquerda durante a campanha", disse ele.
Em Washington, poucos acreditam que Lula vá abandonar a ortodoxia financeira e partir para um governo de esquerda no campo econômico. A única dúvida diz respeito à postura de Lula no campo político, nas questões do narcotráfico, do combate ao terrorismo e das políticas com relação à Colômbia e à Cuba.
''Se o compararmos Lula a Chávez [Hugo Chávez, presidente da Venezuela] e a Lagos [Ricardo Lagos, presidente do Chile], Lula ficaria entre os dois, num espectro das esquerdas", calcula Diaz. "Deve ficar mais perto de Lagos, mas não sabemos quanto."
Para o ex-embaixador dos EUA no Brasil, Anthony Harrington, a eleição de Lula abre a oportunidade para o avanço inédito da relação bilateral. ''Os que menos conhecem o Brasil são os que mais temem Lula", disse.
''O Departamento de Estado conhece o conteúdo das administrações municipais e estaduais do PT e perceberam que, depois de aceitar a derrota em três eleições presidenciais sucessivas, Lula é um democrata perseverante."
Mas os sinais de boa vontade enviados por Washington a Lula não escondem a agenda espinhosa entre os dois países. Lula terá só 45 dias, após a posse, para decidir qual fatia do mercado irá oferecer nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Além disso, Brasil e EUA estarão co-presidindo as negociações da Alca e definindo sua velocidade na época da posse, em janeiro.
Veja também o especial Governo Lula
Bush dá parabéns a Lula pela vitória
MARCIO AITHda Folha de S.Paulo, em Washington
O presidente dos EUA, George W. Bush, parabenizou ontem o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e disse estar esperando para trabalhar ''produtivamente" com o próximo governo brasileiro.
''O presidente parabeniza o ganhador das eleições e aguarda para trabalhar produtivamente com o Brasil", disse Bush por meio de seu porta-voz, Ari Fleisher, a bordo do avião presidencial dos EUA.
O presidente americano voltava da cúpula da Apec (Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico), realizada no México.
Bush deverá telefonar para Lula entre hoje e amanhã, congratulando-o diretamente pela vitória e buscando estabelecer um relacionamento pessoal entre os dois líderes.
Até sexta-feira passada, a Casa Branca não havia decidido se Bush convidaria Lula para uma visita a Washington antes da posse, em janeiro, nem se o secretário de Estado, Colin Powell, viajaria ao Brasil nesse período.
As duas opções buscariam aproximar os dois países num momento de teste para a relação bilateral e de importância histórica para a região. Na Guerra Fria, os EUA conspiraram para derrubar ou minar quaisquer líderes de esquerda ou independentes na América Latina. No entanto, o governo americano procurou tratar de forma isenta e imparcial o último processo eleitoral brasileiro.
''Os EUA estão abrindo as portas para Lula e estendendo as mãos para ele", disse Miguel Diaz, do CSIS (Center for Strategic and International Studies), em Washington. "Agora resta saber o que ele fará com essa oportunidade."
Hoje, o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, elogiará a democracia brasileira e dirá que os EUA estão otimistas com o futuro da relação bilateral e com a administração de Lula. Depois do telefonema de Bush a Lula, a Casa Branca emitirá uma nota com o resumo da conversa e, indiretamente, ditará os rumos de uma tentativa de aproximar os dois líderes.
Stephen Johnson, especialista da Heritage Foundation _ entidade extremamente ligada à administração Bush e uma das mais conservadoras do país _, disse que a Casa Branca deverá ''testar" Lula nos primeiros meses. "A administração Bush espera que Lula tenha sido verdadeiro quando caminhou para o centro e que tenha sido apenas retórico quando fez comentários de esquerda durante a campanha", disse ele.
Em Washington, poucos acreditam que Lula vá abandonar a ortodoxia financeira e partir para um governo de esquerda no campo econômico. A única dúvida diz respeito à postura de Lula no campo político, nas questões do narcotráfico, do combate ao terrorismo e das políticas com relação à Colômbia e à Cuba.
''Se o compararmos Lula a Chávez [Hugo Chávez, presidente da Venezuela] e a Lagos [Ricardo Lagos, presidente do Chile], Lula ficaria entre os dois, num espectro das esquerdas", calcula Diaz. "Deve ficar mais perto de Lagos, mas não sabemos quanto."
Para o ex-embaixador dos EUA no Brasil, Anthony Harrington, a eleição de Lula abre a oportunidade para o avanço inédito da relação bilateral. ''Os que menos conhecem o Brasil são os que mais temem Lula", disse.
''O Departamento de Estado conhece o conteúdo das administrações municipais e estaduais do PT e perceberam que, depois de aceitar a derrota em três eleições presidenciais sucessivas, Lula é um democrata perseverante."
Mas os sinais de boa vontade enviados por Washington a Lula não escondem a agenda espinhosa entre os dois países. Lula terá só 45 dias, após a posse, para decidir qual fatia do mercado irá oferecer nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Além disso, Brasil e EUA estarão co-presidindo as negociações da Alca e definindo sua velocidade na época da posse, em janeiro.
Veja também o especial Governo Lula
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