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21/11/2002 - 19h30

Prática de cobrar até R$ 5 mil por candidaturas é comum no Prona

SILVIO NAVARRO
da Folha Online

A cobrança por uma vaga para quem quiser concorrer pela legenda nas eleições é uma prática comum do Prona (Partido da Reedificação da Ordem Nacional), partido dos dois campeões de votos ao Legislativo na última eleição, Enéas Carneiro (deputado federal) e a vereadora Havanir Nimtz (deputada estadual).

Não foi só o microempresário de Santos José Roberto Leite quem pagou para disputar uma vaga na Assembléia Legislativa de São Paulo com a sigla 56. Pelo menos outros três candidatos disseram à Folha Online terem pago ao partido do médico cardiologista Enéas Carneiro para competir.

A cobrança, segundo eles, é feita sob a forma de compra de centenas de cartilhas com a ideologia político-econômica do doutor Enéas. O lugar na chapa pode variar de R$ 3.000 até R$ 5.000, parcelados de acordo com a negociação coordenada pela vereadora Havanir, que preside o diretório estadual do Prona.

"Eu já sabia que era praxe do Prona e quando eu fui lá me apresentar eles me falaram: olha, você tem que comprar as cartilhas e tal... para colaborar", afirma o empresário Juarez Távora, 64. "Para pertencer ao partido era norma que se comprasse a cartilha. Comprei porque quem não compra não participa", diz o comerciante Ludovico Pregeli Filho, 46.

No entanto Távora, que teve 1.675 votos, e Ludovico, com 3.793, não vêem problema em pagar para concorrer às eleições. Ambos desembolsaram R$ 5.000 cada por 500 exemplares das cartilhas confeccionadas pela livraria e editora Enéas Carneiro Ltda.

Há também quem pagou e sequer recebeu as cartilhas do doutor Enéas. O vendedor de doces Cícero José Aristides, 42, afirma ter entregado R$ 3.000 (em notas de R$ 10) nas mãos de Havanir, no dia 27 de setembro, na sede do partido, localizada na zona central da capital paulista.

"Ela me pediu R$ 5.000, mas eu não tinha e negociei por R$ 3.000. Ela disse que eu tinha que me virar para vender as cartilhas, mas ficou o dinheiro e as cartilhas nas mãos dela", diz o alagoano, que atende por Cícero da Comunidade e vende balas em frente a um colégio na Vila Missionária, periferia da zona sul.

A quantia paga por Cícero, em dinheiro, contraria o que disse Enéas, que declarou ser o valor pago pela compra das cartilhas depositado em cheque na conta da empresa que leva o seu nome.

No total, concorreram a deputado estadual pelo Prona, 62 candidatos.

Na última segunda-feira, a Promotoria da Justiça da Cidadania abriu inquérito civil para apurar o trâmite citado pelo deputado, de que "o dinheiro é repassado ao partido de acordo com as necessidades".

Esta não é a primeira vez que o partido de Enéas recebe acusações de venda de vagas. Em 1997, a Folha revelou que o Prona cobrava para que os candidatos concorressem à Assembléia.

Outro lado
Procurados pela Folha Online, Havanir e Enéas novamente se recusaram a falar. A chefe do gabinete da vereadora, a filha Maysa, disse que sua mãe "não se pronuncia com a imprensa sobre o assunto".

Maysa disse também que Havanir e Enéas explicitaram o caso no último domingo, quando estiveram no programa de Gugu Liberato, no SBT. Na ocasião, Enéas disse que tudo é parte de um esquema maquinado para arruinar a votação estrondosa que o Prona recebeu em 2002 -ele teve mais de 1,5 milhão de votos, e ela cerca de 680 mil.

No estatuto do partido, parágrafo único do ítem C, que trata das 'contribuições de seus filiados', do artigo 56, coincidentemente o número que o Prona concorre nas eleições, diz que 'cada filiado, a seu critério, poderá contribuir pecuniariamente para os gastos do partido mediante uma importância anual'.

Câmara
Havanir deve ser convocada por vereadores para explicar o caso. Ela enfrenta uma sindicância na Câmara Municipal, onde tem mandato vigente de vereadora.

Na última quinta-feira, dois dias depois das primeiras denúncias, o presidente da Câmara, o petista José Eduardo Cardozo, que também deixará a Casa no final do ano, mas para ser deputado federal, decidiu instaurar uma sindicância, que poderá requerer a abertura de uma comissão processante por decoro parlamentar e até indicar a cassação da vereadora.

O prazo para a apuração do caso é curto, mas a Câmara poderá repassar as conclusões à Assembléia, onde a dermatologista vai assumir seu novo cargo em 2003.
 

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