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30/11/2002
-
07h52
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Nos limites do Palácio da Alvorada, o prestígio do presidente Fernando Henrique Cardoso resiste ao desgaste do final de um mandato de oito anos: adolos permearam o último almoço de FHC com os ministros e líderes do governo no Congresso.
O presidente serviu aos convivas risoto de camarão e pato com legumes. Na carta de bebidas, não faltaram vinho tinto e champanhe. A sobremesa foi de framboesa. Típico das confraternizações da turma do escritório no final de ano. Até na música.
FHC abriu o piano e dedilhou algumas notas por não mais de 30 segundos. Foi substituído na banqueta por Pratini de Moraes (Agricultura). Estimulado pela platéia, o ministro atacou um pot-pourri de músicas gaúchas: "Prenda minha", "Pezinho" e "China minha".
Aplaudido, agradeceu, modesto: "Foi assim que eu comecei ganhando a vida".
O cortejo de mesuras teve início quando tomou a palavra o ministro Pedro Parente (Casa Civil), escolhido para falar em nome dos colegas de governo:
"Um homem desse tamanho, não há elogio que alcance", derramou-se Parente, ao dizer que servir com FHC fora um "aprendizado", uma "honra".
O calor era forte no Alvorada. FHC disse para os ministros tirarem o paletó. Ninguém tirou. Todos se lembraram de uma ocasião anterior na qual o presidente fizera o mesmo pedido, alguns atenderam, mas o anfitrião ficou de paletó, para o constrangimento geral. É contra os usos e costumes da corte palaciana.
FHC tomou a iniciativa, alguns minutos depois, para alívio dos subordinados, que logo trataram de se desfazer da principal peça da indumentária do paço.
Discurso
O presidente fez um discurso rápido, mas também não economizou reverências ao vice-presidente Marco Maciel, a quem ergueu um brinde de champanhe: "Igual pode ter [um vice como Marco Maciel], mas melhor é impossível!"
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PSDB-RR), deixou-se enlevar pelo clima e derramou elogios arrebatados a FHC: "Está entregando para o Lula [o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva] um país muito melhor do que recebeu até nas pequenas coisas. Ele já vai pegar a cozinha do Alvorada arrumada".
Antes das despedidas, FHC autografou o livro "Brasil 1994-2002 - A Era do Real", um calhamaço de autopropaganda governamental. O secretário nacional dos Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, correu para pegar um lugar na fila: "Eu li toda a sua obra. Também quero um autógrafo".
Por fim, Fernando Henrique juntou-se aos ministros para uma foto. "Cadê o paulistério?", brincou, referindo-se às críticas que recebeu no início do governo, segundo as quais montara um governo de paulistas. De São Paulo, no ministério da última foto, há apenas José Abrão (Desenvolvimento Agrário), Caio Carvalho (Esporte e Turismo) e Francisco Weffort (Cultura).
Em almoço oferecido a ministros, FHC dedilha notas ao piano
RAYMUNDO COSTAda Folha de S.Paulo, em Brasília
Nos limites do Palácio da Alvorada, o prestígio do presidente Fernando Henrique Cardoso resiste ao desgaste do final de um mandato de oito anos: adolos permearam o último almoço de FHC com os ministros e líderes do governo no Congresso.
O presidente serviu aos convivas risoto de camarão e pato com legumes. Na carta de bebidas, não faltaram vinho tinto e champanhe. A sobremesa foi de framboesa. Típico das confraternizações da turma do escritório no final de ano. Até na música.
FHC abriu o piano e dedilhou algumas notas por não mais de 30 segundos. Foi substituído na banqueta por Pratini de Moraes (Agricultura). Estimulado pela platéia, o ministro atacou um pot-pourri de músicas gaúchas: "Prenda minha", "Pezinho" e "China minha".
Aplaudido, agradeceu, modesto: "Foi assim que eu comecei ganhando a vida".
O cortejo de mesuras teve início quando tomou a palavra o ministro Pedro Parente (Casa Civil), escolhido para falar em nome dos colegas de governo:
"Um homem desse tamanho, não há elogio que alcance", derramou-se Parente, ao dizer que servir com FHC fora um "aprendizado", uma "honra".
O calor era forte no Alvorada. FHC disse para os ministros tirarem o paletó. Ninguém tirou. Todos se lembraram de uma ocasião anterior na qual o presidente fizera o mesmo pedido, alguns atenderam, mas o anfitrião ficou de paletó, para o constrangimento geral. É contra os usos e costumes da corte palaciana.
FHC tomou a iniciativa, alguns minutos depois, para alívio dos subordinados, que logo trataram de se desfazer da principal peça da indumentária do paço.
Discurso
O presidente fez um discurso rápido, mas também não economizou reverências ao vice-presidente Marco Maciel, a quem ergueu um brinde de champanhe: "Igual pode ter [um vice como Marco Maciel], mas melhor é impossível!"
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PSDB-RR), deixou-se enlevar pelo clima e derramou elogios arrebatados a FHC: "Está entregando para o Lula [o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva] um país muito melhor do que recebeu até nas pequenas coisas. Ele já vai pegar a cozinha do Alvorada arrumada".
Antes das despedidas, FHC autografou o livro "Brasil 1994-2002 - A Era do Real", um calhamaço de autopropaganda governamental. O secretário nacional dos Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, correu para pegar um lugar na fila: "Eu li toda a sua obra. Também quero um autógrafo".
Por fim, Fernando Henrique juntou-se aos ministros para uma foto. "Cadê o paulistério?", brincou, referindo-se às críticas que recebeu no início do governo, segundo as quais montara um governo de paulistas. De São Paulo, no ministério da última foto, há apenas José Abrão (Desenvolvimento Agrário), Caio Carvalho (Esporte e Turismo) e Francisco Weffort (Cultura).
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